Requião, Lula e Dilma: presidente diz torcer para que surjam mais brasileiros como Zilda Arns| Foto: Fotos: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Lula diz que médica era exemplo

Pollianna Milan e Vitor Geron

O presidente Lula chegou ao velório de Zilda Arns às 21h15. Estava acompanhado da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e do ministro das Relações Institucionais, Ale­xandre Padilha. Conversou com o governador Requião, com o senador Flávio Arns e abraçou familiares. A visitação ficou interrompida durante três horas e meia para a chegada de Lula.

Na saída, falou brevemente com a imprensa. Disse que "o mo­mento não é fácil, inclusive pelo povo do Haiti". Segundo Lula, ele não poderia deixar de homenagear a doutora Zilda. "Foi uma perda muito grande para o Brasil e para o mundo. Foi uma pessoa que dedicou a vida a cuidar dos mais necessitados."

"Que a partir do exemplo dela todos nós sejamos mais humanistas e solidários e olhemos com mais carinho para o nosso próximo, porque às vezes com pequenos gestos podemos ajudar. Tenho certeza de que, se perguntasse a ela se faria tudo de novo caso voltasse a viver, ela diria que sim, fa­­­ria, voltaria ao Haiti. Deus queira que surjam outras pessoas assim no Brasil", disse Lula.

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Zilda Arns Neumann teve papel importante como articuladora de políticas públicas na área de saúde. Ao lado de seu irmão, o cardeal dom Paulo Evaristo Arns, a fundadora da Pastoral da Criança fez em 2000 um trabalho de mobilização nacional para a aprovação da Emenda Constitucional n.º 29, que garantia porcentuais mínimos de gastos para a saúde. Foi nesse período que a pastoral conseguiu dobrar os repasses que recebia anualmente do governo federal – de R$ 8 milhões para R$ 16 milhões.

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O reconhecimento de seu papel de articulação ficou evidente nos últimos dias. Além do presidente Lula, que esteve em Curitiba na noite de ontem (veja texto abaixo), até o fim do dia de hoje pelo menos três pré-candidatos à Presidência da República terão passado pelo Palácio das Araucárias a fim de prestar a última homenagem à médica e sanitarista.

O governador paulista José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT), que veio acompanhada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, estiveram ontem em Curitiba acompanhando o velório. Hoje, a senadora Marina Silva (PV) deve comparecer ao funeral. "Se alguém no Brasil foi individualmente responsável pela queda da mortalidade infantil, esse alguém foi Zilda Arns", afirmou o pré-candidato à presidência nas eleições de outubro José Serra.

O governadora lembrou que, quando foi ministro da Saúde de Fernando Henrique Cardoso, o ministério fez uma parceria com a Pastoral da Criança, dobrando o valor repassado anual­mente à entidade, com o objetivo de duplicar as ações da entidade. Serra lembrou ainda que a aprovação da emenda 29 sofreu muita resistência no Congresso Nacional e por parte de governadores. Segundo ele, o apoio de Zilda Arns e de dom Paulo foi importante para a aprovação da emenda, que garante mais recursos para a saúde. "Zilda Arns também multiplicou o trabalho da pastoral no munto inteiro. Foi ao Timor Leste, e estava no Haiti precisamente fazendo esse trabalho."

Entre 2000 e 2008, Zilda Arns foi integrante do Conselho Nacional da Saúde. Como conselheira, segundo Clóvis Bonfleur, gestor de Relações Institucionais da Pastoral da Criança, ela trabalhou como defensora do direito à saúde para toda a população. "Os conselheiros diziam que ela tinha legitimidade para fazer reivindicações ao poder público. Tinha facilidade para abrir caminhos."

O trabalho desenvolvido pela pastoral na área pré-natal, pós-natal e de saúde materna serviu de inspiração também para o governo do Paraná. Segundo o secretário da Saúde, Gilberto Martin, foi inspirada na ideologia proposta por Zilda Arns que a secretaria desencadeou o "Nascer no Paraná – direito à vida". "Como eu falei em todas as vezes que me referi a esse programa, ele foi descaradamente inspirado no trabalho da Pastoral da Criança", disse Martin. "Para combater o problema da mortalidade infantil, você deve mobilizar lideranças comunitárias".

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Paraná

Políticos paranaenses de vários partidos também estiveram ontem no velório. O governador Roberto Requião (PMDB) chegou a dizer que vai fazer campanha por um Prêmio Nobel da Paz póstumo para Zilda Arns, no que foi apoiado pelo governador catarinense, Luís Henrique (PMDB). O prefeito de Curitiba, Beto Richa, e os senadores Flávio Arns (PSDB) e Alvaro Dias (PSDB) estiveram presentes ao funeral.