Ela decidiu provar que a vida brota onde menos se espera. Escolheu um dos maiores símbolos do concreto selvagem de São Paulo: o Elevado Costa e Silva, cicatriz urbana de 3,4 km inaugurada em 1971, chamada popularmente de Minhocão e por onde trafegam 70 mil carros por dia.
Entre janeiro e fevereiro, a artista Laura Lydia passou oito domingos ali, das 6h30 às 20 horas, parando só para almoçar. Ao contrário das pessoas que aproveitavam a pista elevada para o lazer - que fecha para o trânsito aos domingos, transformando-se em um “parque” -, ela procurava ervas daninhas. Aqueles matinhos que, meio que do nada, nascem nas rachaduras das construções, lembrando-nos que a natureza tem fortes arroubos de coragem.
Aqui no terceiro parágrafo, o leitor pode estar pensando que as expedições de Laura foram infrutíferas, que no máximo ela achou meia dúzia de brotinhos mirrados, afinal, o Minhocão não é conhecido pela salubridade ambiental. Engana-se. Foram cerca de 1,5 mil ervas daninhas; 40 espécies diferentes.
Laura mapeou as plantinhas, fotografou, desenhou cada uma delas. “Mas as deixei ali onde estavam, a ideia era interferir o mínimo possível.” Encontrou beldroega, carrapicho, ipê-de-jardim, grama-forquilha, brilhantina e até uma mudinha de jacarandá. “Uma que me chamou muito a atenção foi a mentinha. Ela é minúscula e tem uma florzinha roxa muito bonita”, diz. “Achei de uma sutileza incrível. E ela aparece muitas vezes no Minhocão.”
Laura é espanhola e hoje mora no Rio. Ela viveu em São Paulo por seis anos, entre 2008 e 2013. Foi quando o Minhocão passou a fazer parte de seu repertório. “Morei na Avenida São Luís (centro) e depois em Perdizes (zona oeste). O Minhocão acabava virando parte dos meus trajetos.” Formada em Artes Plásticas pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com pós-graduação em Linguagens da Arte, começou a transformar ervas daninhas em arte em 2010, fazendo trabalho semelhante em vários pontos de São Paulo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.