Asfalto
Manutenção de corredor torna via mais atrativa a esportistas
As canaletas de Curitiba são "privilegiadas" quando se fala em manutenção da pista. Devido ao tráfego, ao tamanho dos ônibus e à quantidade de passageiros transportados, elas tendem a receber manutenção com maior frequência, se comparadas às outras vias. Nos bairros de periferia, onde não raro ainda existe a presença de antipó ou mesmo ruas de terra, o eixo de transporte coletivo acaba sendo a melhor via do bairro. A atração dos esportistas é imediata.
"As ciclovias de Curitiba não funcionam como deveriam. São calçadas asfaltadas compartilhadas entre ciclistas e pedestres", aponta o engenheiro Eduardo Ratton, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Ao mesmo tempo, as canaletas permanecem como uma das vias menos movimentadas. Ainda que o uso seja comprovadamente perigoso, o biarticulado é um "inimigo" mais visível e previsível.
Projeto
Para o vereador Jonny Stica, presidente da Comissão de Urbanismo e Obras Públicas da Câmara Municipal de Curitiba, as estruturas de lazer precisam estar interligadas aos núcleos dos bairros. "Não é eficiente instalar espaços isolados, longe de onde o praticante de esportes quer e precisa estar", afirma. "Porém, não temos áreas públicas adquiridas perto dos núcleos regionais. E as que existem são usadas prioritariamente para equipamentos de saúde e instalação."
Como alternativa, o vereador cita o projeto que transforma uma das faixas de estacionamento das vias laterais da canaleta em ciclovia. De acordo com o vereador da base aliada, o plano, constante do programa de governo de Gustavo Fruet, será implantado ao longo da atual administração.
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A presença de ciclistas, skatistas e pedestres nas canaletas dos ônibus deixou de ser um simples problema de trânsito para se tornar reflexo de questões urbanas mais complexas. As vias, que deveriam ser exclusivas para os biarticulados, se tornaram um ponto de lazer bastante usado por moradores das regiões próximas às chamadas vias estruturantes.
Apesar da improvisação, as canaletas se mostram o local mais adequado à prática esportiva em bairros da periferia da cidade, onde há carência de espaços de lazer. Além disso, o traçado e a localização dessas vias são privilegiados. Normalmente elas representam a artéria principal da vida no bairro e uma forma rápida de ligá-lo com a região central da cidade.
VÍDEO: Canaletas: um espaço de lazer
O skatista Guilherme, 15 anos, tem no eixo sul o principal canal de contato com os colegas de rodinhas. Eles costumam se encontrar na Praça do Japão, no Água Verde, vindos de outras partes da cidade. Ficou sabendo por eles de um campeonato que ocorrerá neste final de semana. Diariamente, o jovem treina pela canaleta, entre os terminais do Pinheirinho e do Portão. "Aqui é mais liso. Antes eu andava na Praça Zumbi [dos Palmares, no Capão Raso], mas está destruída. Não tem como usar", diz.
Outro skatista adolescente, Igor, encontra ainda uma qualidade na geometria da pista. "A parte em que passa a roda do ônibus é a melhor para deslizar", diz, apontando a concavidade no asfalto criada pelo peso dos biarticulados.
Evolução
Johnathan Oliveira de Andrade, um metalúrgico de 26 anos, explica porque faz sua corrida de 10 quilômetros percorrendo a canaleta. "No Pinheirinho, onde moro, não tem onde fazer esse trecho longo. Só na Rua da Cidadania, mas não vou ficar dando voltas em um mesmo lugar", justifica. De certa forma, a percepção do morador consegue captar a história da criação dos eixos estruturantes e a evolução da cidade a partir deles. Quando as canaletas foram implantadas, quatro décadas atrás, o projeto se estendia até os limites do município, embora os bairros mais afastados mostrassem poucos sinais de urbanização.
As regiões mais distantes começaram a crescer escoradas à canaleta, que se tornara então a principal conexão com o Centro e o resto da cidade. Somado a isso, o cidadão tende a procurar pontos de lazer próximos de casa, pelo pouco tempo disponível para a atividade e também para driblar o estresse do trânsito. "O lazer é eminentemente local e, ao longo das últimas décadas, a cidade não investiu nisso. Estamos na contramão da história", analisa o engenheiro civil Eduardo Ratton, professor do Departamento de Transportes da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Vida e Cidadania | 1:25
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