São cerca de 30 quilômetros e quase uma hora que se gasta para percorrer o trajeto da Praça Rui Barbosa, no Centro de Curitiba, até a Vila Rio Bonito, bairro Campo do Santana. Apesar de parecer pouco, a distância é suficiente para deixar uma parcela de curitibanos isolada da própria cidade onde nasceu. Para Pablos, Gabrielas, Graces, Larizas e Anas (com idades entre 5 e 8 anos), o nome do município em que vivem é "Rio Bonito".
Curitiba é uma palavra que muitas crianças do bairro desconhecem. Algumas, da Escola Municipal João Amazonas, se familiarizaram com o nome depois que três professoras passaram a desenvolver um projeto com o título "A Curitiba que Curitiba não conhece".
Em 40 questionários enviados a pais de alunos para saber se eles conheciam a capital paranaense, lugar onde moram, 15 responderam que não sabiam efetivamente nada sobre a cidade e o resto afirmou ser capaz de identificar apenas alguns pontos turísticos. "Então começamos a perguntar aos alunos qual era o nome da cidade onde moravam e eles afirmavam Rio Bonito. Percebemos que era preciso fazer algo para que essas crianças começassem a se sentir pertencentes a Curitiba", explica a professora Andrea Gimenez Costa, idealizadora do projeto junto com outras duas docentes Perpétua Aparecida Martines e Maria Ineide Seifert.
"Jardim Botânico" passou a compor o vocabulário dos alunos, apesar de muitos nem imaginarem o que é possível encontrar lá. Pablo Henrique Omena Pimentel, de 6 anos, é coxa branca, mas, quando questionado se gostaria de conhecer o Couto Pereira, fica paralisado. Ele não sabia que esse é o nome do estádio da equipe. "É grave pensar que exista uma realidade dessas, nunca tinha ouvido falar", afirma o historiador natural e pesquisador da área educacional Gastão Octávio Franco da Luz.
Se algum aluno conhece certos pontos turísticos de Curitiba, é porque a escola ou a creche o levou ao centro da cidade. Nesse caso, os pais, que normalmente vieram de outras cidades, ficam "isolados".
Campo do Santana é o último bairro de Curitiba antes da cidade de Araucária, na zona Sul. "Nos perguntamos porque tudo o que há de infraestrutura pública está lá em cima", questiona Andrea.
As professoras assumiram a causa e agora querem apresentar a crianças como Pablo a parte bonita de Curitiba. Elas pediram à prefeitura um ônibus, para que possam levar os alunos da escola até a Praça Tiradentes e, de lá, pegar a Jardineira para conhecer Curitiba. A confirmação do município ainda não chegou. Por e-mail, a assessoria se limitou a responder à reportagem que "a aprovação depende do que o projeto representa para o desenvolvimento do turismo."