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"O sonho do Elvis era ser policial", diz mãe do garoto assassinado

Passados quase dois meses da tragédia que tirou a vida do filho, a dona de casa Roseli Aparecida Henrique, 33 anos, ainda vivencia o momento em que o menino caiu no chão com um tiro no peito. Nos dias em que fica muito nervosa, ela sai em desespero na busca de Elvis Henrique Iriguti, 12 anos – mais uma vítima da violência contra os jovens. "O tiro foi direto no coração. Não pude abraçar meu filho e dizer o quanto eu o amava."

Elvis foi atingido por uma bala perdida do confronto entre gangues no bairro Parolin, em Curitiba, quando ia comprar remédio para o pai. "Meu marido precisava de um remédio. Como estava fazendo o almoço, chamei o Elvis para ir à farmácia. O menino estava jogando bola e foi sozinho", afirma Roseli. "Quando o vi caindo no chão, entrei em desespero. Acordei no hospital e hoje, quando ponho a cabeça no travesseiro, vejo tudo de novo."

Quando a culpa não a está atormentando, Roseli consegue se lembrar dos bons momentos. "O sonho dele era ser policial. Ele dizia que não deixaria passar batido nenhum ladrão", conta.

Hoje, a família mora em novo endereço. A lembrança da tragédia e o tráfico de drogas que se instalou no bairro influenciaram na decisão. Elvis, o "homenzinho da casa", deixou três irmãos mais novos (Francieli, 10 anos; Leonardo, 7 anos; Gabrieli, 3 anos), o pai Edson e a mãe Roseli no dia 14 de maio. Era Dia das Mães. (BMW)

Nunca tantas crianças e adolescentes foram vítimas de homicídio no Paraná. As taxas de assassinato da população de até 19 anos por 100 mil habitantes verificadas no estado e em Curitiba superam a média nacional. Em 24 anos, o coeficiente de mortalidade por homicídios cresceu 585% entre os jovens paranaenses – índice que ocupa a sétima posição entre os estados brasileiros e fica à frente de São Paulo. Os dados, do último levantamento do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV/USP), referem-se a 2004. E deixam o alerta: a tendência de crescimento é clara e constante.

Basta abrir o jornal. Em menos de dois meses, seis assassinatos de jovens na região metropolitana de Curitiba e em Foz do Iguaçu relatados pela imprensa chocaram a população. Dos casos de homicídios do Brasil, 16% atingem crianças e adolescentes de zero a 19 anos. "Isso é preocupante porque é um problema que se conhece há muito tempo e, apesar da constatação antiga, não se vê tendência de reversão do quadro", diz a coordenadora da pesquisa do NEV/USP, Maria Fernanda Tourinho Peres.

Segundo ela, o jovem é mais atingido porque fica mais vulnerável, principalmente o da faixa etária de 15 a 19 anos. "A partir dos 15 anos, o jovem começa a ter certa autonomia e começa se expor mais a situações de risco, como envolvimento com drogas", afirma. A pesquisadora completa que os dados também mostram crescimento de vítimas de até 4 anos, que podem ser submetidas à violência doméstica. Maria Fernanda, porém, prefere não comentar os números de cada estado, já que "as realidades locais são muito diferentes".

No Paraná, entre 1980 e 2002, 19,87% dos homicídios aconteceram na capital e 80,13% no interior do estado. A arma de fogo esteve presente na maioria deles (8,4 casos por 100 mil habitantes). O coeficiente de mortalidade por homicídios (taxa por 100 mil) foi de 16 em Curitiba e 13,4 no Paraná, índices que ultrapassaram a taxa brasileira de 11,5. Na década de 80, os números nacionais estavam na liderança.

Pobreza

Para o tenente-coronel Jorge Costa Filho, chefe da comunicação social da Polícia Militar, o aumento é fruto da globalização, que aumentou o número de pessoas vivendo no perímetro urbano e criou os bolsões de pobreza. "Os jovens são vítimas porque estão expostos, não têm noção de perigo. A eles, está sendo dada liberdade, mas não responsabilidade", afirma. "Nos índices de criminalidade, mais de 80% é decorrente do uso de drogas. E a juventude é a grande consumidora." Medidas como conversar com os vizinhos, se inteirar do que acontece na região em que mora e acompanhar o filho podem provocar efeito cascata de diminuição da violência, na opinião de Costa Filho.

"Acho que a política de ‘vamos aumentar os presídios’ e ‘baixar a maioridade penal’ não resolve o problema", opina a cientista social Ana Luísa Fayet Sallas, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), uma das referências locais em estudos da juventude. Ela afirma que alternativas de geração de renda e a criação de postos de trabalho podem concorrer com o narcotráfico e reverter o quadro que vitima jovens. "Esse grupo é o mais vulnerável porque pode ser tanto vítima quanto vitimador."

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