Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Infância ferida

As jovens vítimas da violência

Vídeo | RPC TV
Vídeo (Foto: RPC TV)

Nunca tantas crianças e adolescentes foram vítimas de homicídio no Paraná. As taxas de assassinato da população de até 19 anos por 100 mil habitantes verificadas no estado e em Curitiba superam a média nacional. Em 24 anos, o coeficiente de mortalidade por homicídios cresceu 585% entre os jovens paranaenses – índice que ocupa a sétima posição entre os estados brasileiros e fica à frente de São Paulo. Os dados, do último levantamento do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV/USP), referem-se a 2004. E deixam o alerta: a tendência de crescimento é clara e constante.

Basta abrir o jornal. Em menos de dois meses, seis assassinatos de jovens na região metropolitana de Curitiba e em Foz do Iguaçu relatados pela imprensa chocaram a população. Dos casos de homicídios do Brasil, 16% atingem crianças e adolescentes de zero a 19 anos. "Isso é preocupante porque é um problema que se conhece há muito tempo e, apesar da constatação antiga, não se vê tendência de reversão do quadro", diz a coordenadora da pesquisa do NEV/USP, Maria Fernanda Tourinho Peres.

Segundo ela, o jovem é mais atingido porque fica mais vulnerável, principalmente o da faixa etária de 15 a 19 anos. "A partir dos 15 anos, o jovem começa a ter certa autonomia e começa se expor mais a situações de risco, como envolvimento com drogas", afirma. A pesquisadora completa que os dados também mostram crescimento de vítimas de até 4 anos, que podem ser submetidas à violência doméstica. Maria Fernanda, porém, prefere não comentar os números de cada estado, já que "as realidades locais são muito diferentes".

No Paraná, entre 1980 e 2002, 19,87% dos homicídios aconteceram na capital e 80,13% no interior do estado. A arma de fogo esteve presente na maioria deles (8,4 casos por 100 mil habitantes). O coeficiente de mortalidade por homicídios (taxa por 100 mil) foi de 16 em Curitiba e 13,4 no Paraná, índices que ultrapassaram a taxa brasileira de 11,5. Na década de 80, os números nacionais estavam na liderança.

Pobreza

Para o tenente-coronel Jorge Costa Filho, chefe da comunicação social da Polícia Militar, o aumento é fruto da globalização, que aumentou o número de pessoas vivendo no perímetro urbano e criou os bolsões de pobreza. "Os jovens são vítimas porque estão expostos, não têm noção de perigo. A eles, está sendo dada liberdade, mas não responsabilidade", afirma. "Nos índices de criminalidade, mais de 80% é decorrente do uso de drogas. E a juventude é a grande consumidora." Medidas como conversar com os vizinhos, se inteirar do que acontece na região em que mora e acompanhar o filho podem provocar efeito cascata de diminuição da violência, na opinião de Costa Filho.

"Acho que a política de ‘vamos aumentar os presídios’ e ‘baixar a maioridade penal’ não resolve o problema", opina a cientista social Ana Luísa Fayet Sallas, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), uma das referências locais em estudos da juventude. Ela afirma que alternativas de geração de renda e a criação de postos de trabalho podem concorrer com o narcotráfico e reverter o quadro que vitima jovens. "Esse grupo é o mais vulnerável porque pode ser tanto vítima quanto vitimador."

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.