Pequenas cidades fechadas inseridas dentro da metrópole. Os supercondomínios ? espaços residenciais com mais de 250 apartamentos ? desafiam a infraestrutura urbana e a capacidade de convivência de seus moradores. Importados de São Paulo, estes empreendimentos imobiliários tomaram conta da capital paranaense e de alguns municípios do interior, como Londrina e Ponta Grossa. Só em Curitiba e região metropolitana existem 78 grandes condomínios. Outros 23 são esperados para os próximos anos, dos quais oito terão mais de 500 apartamentos.
Assista a vídeo feito no Parque Residencial Fazendinha
Espaços de proporções faraônicas, os supercondomínios demandam o dobro de infraestrutura de um empreendimento comum. No caso das redes de esgoto, eletricidade e telefonia, por exemplo, é necessário consultar as prestadoras de serviço antes de o condomínio ser planejado. As empresas analisam ? e aprovam ou não ? a construção do supercondomínio. ?Temos que avaliar se a rede é suficiente para atender o empreendimento. Se serão necessários alterações ou algum reforço?, diz a gerente da Unidade de Grandes Clientes da Sanepar, Siemar Breda. De acordo com ele, algumas alterações são tão caras que as construtoras desistem do projeto.
O mesmo acontece com o fornecimento de energia elétrica. ?Verificamos a necessidade de reforçar a rede ou até mesmo instalar uma cabine exclusiva de energia. Mas as obras não provocam alteração em outros empreendimentos no entorno?, explica o diretor de Distribuição da Copel, Pedro Augusto do Nascimento Neto.
A vida em um supercondomínio também passa por adaptações. Seus moradores precisam criar um sistema de gerenciamento que é comparável ao governo de uma pequena cidade e que tem como função resolver conflitos e manter a convivência o mais próximo possível da civilidade. Um exemplo é a elaboração de regras de trânsito. No Parque Residencial Fazendinha, que tem 650 apartamentos e é o maior condomínio de Curitiba (posição que será perdida em breve para imóveis em construção), as vagas para carros, antes de uso livre, foram divididas e passaram a ser uma posse dos moradores.
Para agilizar o fluxo de veículos nas vias internas, foram criadas entradas especiais para moradores e, ainda, uma saída exclusiva para pais que estiverem levando os filhos para a escola. No residencial São José, que soma perto de mil moradores, o número de vagas atende a 60% dos apartamentos. ?A gente cuida para que não entrem carros de visitantes. Provavelmente, vamos ter que construir garagens subterrâneas no futuro?, avalia a síndica do residencial, Marli Fugioka.
Isolamento
Outro efeito da construção de supercondomínios é o risco crescendo de isolamento de seus moradores do entorno. Muitas vezes eles se restringem ao trajeto entre a casa (que em alguns residenciais significa um ambiente com área de lazer e até cinema) e o trabalho. ?Dificilmente grandes condomínios dialogam com a cidade, com o restante do espaço urbano?, afirma o professor do curso de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Clóvis Ultramari.
?Esses projetos não oferecem qualquer contribuição urbanística e promovem o esvaziamento da rua, o que gera insegurança. Fechar-se em um condomínio provoca a morte do comércio, do bairro, da cidade?, critica o coordenador do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Positivo, Orlando Pinto Ribeiro. Como os apartamentos na maioria dos casos ficam distantes da rua, os supercondomínios estimulam que seus moradores usem mais o carro. ?O carro é o meio de transporte dos moradores do condomínio?, resume o arquiteto e urbanista Fábio Duarte, coordenador do mestrado de Gestão Urbana da PUCPR. O resultado são congestionamentos mais frequentes no entorno dos residenciais.
Mercado
Apesar da crítica dos urbanistas e de todas as adaptações de infraestrutura, o supercondomínio, com suas áreas de lazer, é um sucesso de vendas. ?Um dos segredos está na divisão de contas. As despesas são divididas por um número grande de pessoas, o que reduz a taxa mensal de condomínio?, explica o vice-presidente da área de condomínios do Secovi, Dirceu Jarenko.
Mas não é só isso. ?As construtoras poderiam dividir um terreno e construir diversos condomínios, mas as pessoas querem espaço de convivência com segurança?, diz o diretor regional da Construtora Rossi, Gustavo Kosnitzer. A companhia, aliás, fez uma aposta de peso na região de Curitiba: está construindo um condomínio com 900 apartamentos em parceria com a Thá.
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Interatividade
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