Rebouças Acir Túlio aparenta ter muito mais que 55 anos, todos eles vividos no Faxinal do Marmeleiro de Baixo, na área rural de Rebouças, Sul do Paraná. A vida dura da lavoura marcou seu rosto. A luta para manter a tradição faxinalense, idem.
Túlio viu os 10 mil alqueires do faxinal dos seus pais serem reduzidos e engolidos pelo agronegócio e plantações de trigo e soja, até chegar aos 220 alqueires de hoje. Nesse faxinal, moram 180 famílias. Muitas já foram embora por falta de espaço para criação e plantio. Com a redução do território, cada vez fica mais complicado encontrar alimento. "Falta terra para plantar. Tem muito animal e pouca pastagem", conta. Para ele, o governo deveria tomar a iniciativa de proteger os faxinais, comprando terras para a comunidade poder manter suas tradições, dentre elas a preservação ambiental.
"Muita família teve de ir embora. E quando vão para a cidade acabam nas favelas porque não têm estudo, nem emprego", fala.
É o caso de um dos seis filhos de Túlio. Ele conta que o rapaz, de 25 anos, saiu do faxinal por falta de perspectiva. Primeiro, tentou se aliar ao Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), mas as diferenças ideológicas o levaram a deixar o movimento. Hoje, o ex-faxinalense vive na Vila Zumbi, ocupação irregular de Pinhais, região metropolitana de Curitiba. "Não gostei do lugar onde ele mora", lamenta Túlio, enquanto enxuga as lágrimas. "Se ele pudesse estaria de volta", garante.
Outra característica do faxinal é a preocupação ambiental. Dentro do Faxinal do Marmeleiro de Baixo dez agricultores já optaram pela agroecologia e cultivam lavouras sem o uso de qualquer produto químico. "Aqui a água é limpinha, mas estamos enfrentando problemas porque as outras propriedades não cuidam da sua nascente", fala Túlio.
Os conflitos com proprietários de terras é outra preocupação da comunidade. "Nós não temos medo, mas ficamos preocupados com o que pode acontecer a nossas famílias", fala o veterano. A preocupação aumentou quando um faxinalense foi morto com um tiro nas costas. As suspeitas de seu Túlio são de que ele foi assassinado por denunciar o desmatamento.
A luta de seu Túlio continua a duras penas. Membro da Associação dos Agricultores do Faxinal e do movimento Puxirão (leia nesta reportagem), ele não desiste de lutar para se manter na terra e buscar uma melhoria para a comunidade. "Nós não queremos a desapropriação de terra, porque seria individualizar o domínio da terra. Queremos espaço para pode continuar a viver em coletividade", reivindica.