O dicionário britânico Oxford elegeu “pós-verdade” (post-truth) como o termo de 2016 na língua inglesa. Por aqui não se costuma fazer o mesmo. Mas há uma boa aposta para a palavra do ano no português: “empoderamento”. Para quem não sabe o conceito: qualquer ação coletiva para aumentar a consciência sobre direitos sociais e civis que levem à emancipação e superação da dependência ou dominação social e política. Ou simplesmente o ato ou efeito de dar ou conquistar poder.
“Empoderamento” é substantivo corriqueiro na boca de ativistas de movimentos em defesa dos direitos de mulheres e minorias. Mas, aos poucos, está deixando esse nicho – tal como essas lutas políticas. Caiu no vocabulário de mais gente. E foi parar nos dicionários.
Agora, “empoderamento” aparece no topo do ranking das palavras mais pesquisadas em 2016 na versão on-line do dicionário Aurélio disponível para professores e os 2 milhões de alunos, de 1 a 16 anos, matriculados em escolas que usam o sistema de ensino da Editora Positivo –responsável pela impressão do dicionário.
Segundo a professora Luciana Panke, do mestrado em comunicação política da UFPR, o termo foi cunhado em 1995 pelas Nações Unidas para construir ou resgatar a dignidade das mulheres. E, a partir daí, se espalhou para a causa de outras minorias.
“Acho tão significativo ver ‘empoderamento’ no topo de uma lista no Brasil em 2016 quanto ‘post-truth’ como palavra do ano no Oxford English Dictionary”, diz Caetano W. Galindo, professor de Letras da UFPR e colunista da Gazeta do Povo.
É possível perceber que a busca por palavras está muito relacionada com o momento em que a sociedade se encontra
“Sinal dos tempos”, afirma ele. Afinal, “pós-verdade” surgiu num contexto negativo. Foi a palavra que definiu o fenômeno que levou à eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, já que ele venceu mesmo faltando com a verdade em muitas de suas declarações. Em tempo: “post-truth” é a situação em que os fatos objetivos são desconsiderados ou pouco valorizados pelas pessoas, que preferem tomar decisões (sobretudo políticas) baseadas em crenças e emoções.
Política em alta
A lista dos termos mais buscados no Aurélio on-line foi levantado a pedido da Gazeta do Povo, que procurou editoras de outros dicionários. A reportagem também obteve resposta do Caldas Aulete – este disponível gratuitamente na internet e acessível a mais pessoas.
A relação dos termos mais procurados em ambos dicionários (veja a lista ao lado) tem um forte componente político – num ano em que o Brasil passou por eleições municipais e um processo de impeachment; e o mundo viu a ascensão de políticos com ideias extremistas e xenófobas.
“É possível perceber que a busca por palavras está muito relacionada com o momento em que a sociedade se encontra”, diz o diretor-geral da Editora Positivo, Emerson dos Santos. Segundo ele, palavras como “empoderamento”, “política”, “racismo” e “microcefalia” expressam temas que estão sendo discutidos pela sociedade. Santos afirma que provavelmente esses termos foram procurados por quem queria compreender seu significado e não para descobrir qual era a grafia correta.
Olho no impeachment
A lista das palavras mais acessada do Dicionário Caldas Aulete tem outras palavras com clara conotação política, como “impichar” – referente ao afastamento de Dilma Rousseff da Presidência. A expressão “espírito de corpo” igualmente costuma ter uma conotação política. Definida como o sentimento de lealdade que une um grupo de pessoas, é corriqueiramente usada para caracterizar ações de parlamentares em favor deles próprios. Tal como na votação das Dez Medidas de Combate à Corrupção no Congresso.
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