Curitiba – O Brasil atravessa um longo período de marasmo econômico. Enquanto outros países não perderam tempo no excelente cenário internacional dos últimos anos, como a Argentina, que chegou a crescer 5% no ano passado, ou o Chile, 8%, o Brasil amargou um desempenho de apenas 2,3%. Isso porque o país continua cruel para quem produz e um paraíso para os especuladores. As causas desse resultado passam necessariamente pelas reformas estruturais que são esperadas pela sociedade há anos e ainda não foram feitas. A mais urgente, segundo economistas e representantes da so-ciedade civil, é a reforma política. A corrupção na esfera pública mantém as distorções que impedem o trabalhador de ascender para um nível de vida mais digno. A reforma política tem como principal objetivo reduzir a influência do poder econômico na administração pública e o conseqüente desvio de dinheiro dos cofres públicos. Segundo uma pesquisa do economista Marcos Fernandes, da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo, o país perde cerca de US$ 3,5 bilhões por ano em fraudes com o dinheiro público.

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Outras reformas, também atrasadas e que são as mais citadas quando o assunto é desenvolvimento, são a do Judiciário e a Tributária. No fim da lista estão as mais polêmicas, a da Previdência, a Sindical e a Trabalhista (veja ao lado), que propõem alterações impopulares, como a flexibilização da legislação trabalhista, que precisa ser feita, mas pode errar a dose se causar uma perigosa desregulamentação dos direitos sem dar condições mínimas de proteção aos trabalhadores.

Os primeiros cem dias do presidente eleito com o novo Congresso serão decisivos, já que, se quiser avançar nas reformas, será imprescindível contar com o Legislativo, explica Rogério Schmitt, cientista político da Tendências Consultoria, em São Paulo. O governo federal terá de garantir uma coalizão majoritária de parlamentares e manter essa base coesa. "Neste mandato, por causa da cláusula de barreira, com um menor número de legendas, o presidente não precisará se aliar a tantos partidos com interesses diferentes para ter a maioria como aconteceu neste último mandato com o presidente Lula", analisa Schmitt.

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As reformas mais difíceis de serem aprovadas, segundo os especialistas, são as mais necessárias: a política e a do Judiciário. "Políticos e magistrados não irão consentir de boa vontade numa alteração profunda nas regras que os beneficiam e são a fonte do seu poder", enfatiza Adriano Codato, professor de Ciência Política na Universi-dade Federal do Paraná (UFPR).

Desculpa

As reformas não saíram do papel no governo petista "por uma questão de escolha". Lula preferiu começar pelo social e adotou soluções questionáveis, não eficazes a longo prazo. O Bolsa-Família se transformou em uma medida meramente assistencial que "dá o peixe, mas não ensina a pescar", explica o economista Marcelo Neri, do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro. O programa foi o responsável pela melhora de indicadores sociais, como a redução da concentração da renda no país, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geogra-fia e Estatística (IBGE), mas não criou meios para que essas famílias sejam estimuladas a sair da dependência do governo. "A mesma pesquisa aponta dados preocupantes como o aumento do trabalho infantil e a evasão escolar entre 16 e 19 anos", continua Neri.

Ao mesmo tempo, o governo não conseguiu fazer as mudanças prometidas na política econômica neoliberal que, como classifica Codato, da UFPR, é um "assistencialismo para ricos". "Isso levou o Brasil a pagar, em 6 anos, R$ 1,2 trilhão de juros sobre a dívida pública, o que paralisa a economia e arrasa com o setor formal. O resultado é a criação de um exército de desempregados e trabalhadores temporários, precarizados que formam o cordão da miséria assistido pelas bolsas do governo", diz.

A sociedade não vai deixar de cobrar tanto o crescimento econômico quanto melhoras nos programas sociais. "O Brasil pode sair do atual nível vergonhoso e voltar a crescer em níveis internacionais. Vamos apoiar qualquer governo que for eleito, mas cobrar as mudanças necessárias", diz Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo.

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Para representantes das classes sindicais, como Rosane Bertotti, da executiva-nacional da Central Única dos Trabalhadores, é necessário insistir em mudanças na política econômica. "Apoiamos Lula. Mesmo assim, independentemente de quem ganhar, vamos continuar a defender os direitos dos trabalhadores", garante. Resta saber se o novo presidente conseguirá agradar a todos.