Seis meses atrás, a agência Interlaken, de Curitiba, anunciava o encerramento de suas atividades, deixando na mão centenas de clientes que tinham adquirido pacotes turísticos. Além do prejuízo financeiro provocado, o caso frustrou a “viagem dos sonhos” de mais de 250 pessoas. Hoje, a reação das vítimas da empresa ainda é de revolta, misturada com o anseio por Justiça.
“Foi uma canalhice muito grande o que fizeram com a gente. Se aproveitaram da nossa confiança, ofereceram um sonho e nos frustraram. Foi um golpe”, define a autônoma Índia Mara Borba da Silva, uma das vítimas da empresa.
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No fim de novembro do ano passado, ela se viu atraída por uma promoção da agência, que oferecia uma viagem a Orlando, nos Estados Unidos, para o feriado Memorial Day, celebrado em maio. Índia Mara comprou quatro pacotes. A intenção era viajar com o marido, um amigo e com a filha de 5 anos, que tem necessidades especiais. A menina tem Síndrome de Down e sofre de problemas cardíacos e pulmonares. Por isso, a família via viagem um acontecimento especial.
“A gente não sabe por quanto tempo ela vai estar com a gente, então essa viagem seria um acalento para a família”, definiu. Quando soube do fechamento da Interlaken, Índia Mara ligou para uma das sócias da empresa que informou que, “infelizmente, a viagem não existiria”. A família conseguiu reaver parte do dinheiro, mas perderam a realização do sonho. “Isso deixou a gente extremamente chateado. Eles [os sócios] sabem o quanto a nossa filha é importante para a gente. Eles pegaram no meu ponto fraco, no meu emocional”, disse Índia Mara.
Sem férias
As férias da família da advogada Mariana Bogus também foram frustradas pelo caso. Ela e os pais haviam comprado pacotes para Orlando, nos Estados Unidos. Seriam 20 dias de viagem, com tudo incluído: hospedagem, carro, passagens aéreas, ingressos para a Disney. “A nossa reação foi de indignação, de frustração e, de certa forma, de tristeza”, apontou Mariana.
Por causa do prejuízo financeiro, não conseguiram comprar outras passagens ou fazer a viagem por intermédio de outra agência. Resultado: a família ficou mesmo em Curitiba durante o período de férias. “Ficou inviável financeiramente comprar outro pacote. A gente cancelou e ficamos em casa, sem viajar”, disse.
Segunda lua-de-mel
O engenheiro agrônomo Gabriel Araldi teve que se desdobrar para conseguir realizar o plano de ter uma “segunda lua-de-mel” com a esposa, Camila Araldi. Ele havia comprado um pacote para um cruzeiro pelo Caribe, com saída de Miami. Surpreendido pelo encerramento das atividades da Interlaken, ele correu ao banco e conseguiu o estorno do que havia pagado à empresa, feito por cartão de crédito. “Fomos todos pegos de surpresa”, disse.
Com o reembolso, Araldi conseguiu fazer a viagem a partir de outras empresas de turismo. Ele acredita ter sido uma das poucas vítimas da Interlaken que pôde seguir com os planos. “A minha sorte foi que encontrei muitas pessoas maravilhosas que me ajudaram. Consegui fazer a viagem e tenho ótimas recordações. Mas eu ainda acredito que a Justiça seja feita nesse caso”, apontou.
Outro lado
O advogado Rafael Nunes, que representa os acusados ligados à Interlaken, disse que a empresa foi levada a encerrar suas atividades por causa de dificuldades financeiras, agravadas pela alta do dólar e pelo desaquecimento do mercado de turismo. Segundo ele, seus clientes colaboraram com as investigações e apresentaram todos os documentos solicitados pela polícia. Por conta disso, o defensor não vê motivos para que os sócios da Interlaken sejam indiciados. O advogado disse ainda que os responsáveis pela agência de turismo jamais conseguiram se restabelecer profissionalmente.
Na Justiça
Alguns dos clientes que foram lesados pela Interlaken recorrem à Justiça para terem reparados os prejuízos que sofreram com o fechamento da agência.
A própria advogada Mariana Bogus representa 60 vítimas, que ingressaram com ações em juizados especiais – que analisam causas de até 40 salários mínimos. Em dois casos, a empresa já foi condenada.
Paralelamente, a Delegacia do Consumidor (Delcon) está em vias de concluir o inquérito policial por meio do qual apura o caso. A unidade ouviu cada uma das mais de 250 vítimas e tomou o depoimento das sócias da agência e seus diretores, que ao longo da investigação, chegaram a ser presos. A pedido da Delcon, a Justiça também decretou o bloqueio de bens dos acusados e reteve os passaportes deles.
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