Foz do Iguaçu Dados do Instituto Médico-Legal (IML) e de um livro fruto da pesquisa de professores e alunos da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), da União Dinâmica de Faculdades Cataratas (UDC) e Uniamérica, revelam que o número de jovens com até 18 anos assassinados em Foz do Iguaçu entre 2001 e 2006 cresceu 74%. No ano de 2001, foram registradas 31 mortes. Mas, a partir de 2002, a média de vítimas por ano passou a ser de 51, chegando a um total de 56 em 2006. Os números, presentes em uma pesquisa publicada no livro Abandono, Exploração e Morte, lançado este mês em Foz do Iguaçu, evidenciam a escalada da violência entre adolescentes na cidade de 309 mil habitantes, onde foram registrados 328 homicídios em 2006, incluindo adultos e jovens um recorde histórico.
Segundo a pesquisa, enquanto os homicídios aumentam em Foz do Iguaçu, representando 85% das mortes na faixa etária de 12 a 18 anos, outras causas de morte violenta de jovens, tais como ocorrência de trânsito ou afogamento, diminuem.
As estatísticas de Foz revelam o contraste com cidades de porte semelhante. Maringá, com 324 mil habitantes, teve apenas um adolescente assassinado no município em 2006, de um total de 26 homicídios ocorridos. Em Cascavel, que tem cerca de 280 mil habitantes, a Polícia Civil ainda não fechou o balanço de dezembro, mas no ano passado, dos 120 assassinatos registrados em todas as faixas etárias, o total de adolescentes mortos é pouco maior que 10.
Crime organizado
Boa parte das vítimas de assassinatos em Foz do Iguaçu faz parte de um exército de meninos e meninas cooptados pelo crime organizado poder paralelo ao do Estado que fascina o jovem por oferecer-lhes dinheiro fácil. Uma das portas de entrada para esse mundo é a Ponte da Amizade, fronteira entre Brasil e Paraguai, local onde adolescentes de ambos os países são inseridos nas atividades informais e passam a transportar mercadorias ou fazer outros tipos de trabalho para sobreviver. No entanto, alguns acabam se envolvendo com o tráfico e contrabando, ou são explorados sexualmente, tornando-se as vítimas que engrossam as estatísticas das mortes.
As evidências desse jogo podem ser constatadas ao se verificar o perfil dos freqüentadores da Ponte da Amizade. Das 3.440 abordagens feitas em crianças e adolescentes que cruzavam a ponte durante a pesquisa, em 60% os entrevistados disseram que entravam sozinhos ao Paraguai, tornando-se presa fácil para o crime organizado. "Há um discurso do próprio Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) de que os menores não podem deixar o país sem estarem acompanhados pelos pais. Por isso deveria haver uma fiscalização mais intensa para evitar isso, como acontece na fronteira entre Brasil e Argentina", diz o professor Edinaldo Beserra, um dos responsáveis pela pesquisa e docente de Direito da UDC. Segundo ele, na época da pesquisa as crianças ganhavam em média R$ 33 por dia; mesmo assim, a maioria informou que deixaria a atividade caso houvesse outras oportunidades.
Fonte de renda
O diretor-administrativo da Fundação Nosso Lar e organizador do livro, Valtenir Lazzarini, diz que em Foz do Iguaçu há uma cultura de cidades fronteiriças que acaba facilitando determinadas situações como o próprio contrabando, o tráfico de drogas e de armas. "Assim, o adolescente acaba ficando suscetível a ser cooptado pelo crime organizado. Ele carrega mercadorias, drogas e até galinhas", diz. Segundo Lazzarini, os jovens buscam renda na Ponte da Amizade porque a própria família não tem fontes de sustento. O problema agrava-se, diz, porque o crime organizado acaba oferecendo renda alta em um curto espaço de tempo para quem não tem opção de trabalho.
O sociólogo e professor da Unioeste, José Afonso de Oliveira outro autor dos estudos , frisa que há dois fatores essenciais para o aumento dos homicídios: a ausência de um sistema educacional eficiente e a falta de emprego, que acabam aumentando os espaços ociosos existentes. Para Oliveira, as políticas voltadas para jovens e adolescentes na cidade refletem um fracasso. "O problema não compete à prefeitura, ao Poder Judiciário ou à Câmara de Vereadores. Ou a sociedade assume a questão ou teremos uma situação catastrófica", alerta.
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