O Ministério da Saúde e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) voltaram a divulgar notas para desmentir boatos que circulam na internet relacionando o surto de microcefalia que assusta o país a uma suposta vacinação de gestantes e mulheres em idade fértil es estados do Nordeste. A teoria voltou a ganhar força nas últimas semanas após a apresentação de uma denúncia ao Ministério Público Federal de Pernambuco (MPF-PE), que foi feita pelo pesquisador Plínio Bezerra dos Santos Filho (leia mais abaixo).
Na nota do Ministério da Saúde, há um apelo para que as pessoas não divulguem mais boatos. “A associação entre a vacinação e os casos de microcefalia é irresponsável e representa um desserviço à população. Não há nenhuma evidência científica que comprove essa teoria e essas especulações em nada contribuem para o esclarecimento da população.”
A assessoria de comunicação do MPF-PE confirma a existência da denúncia. A representação teria sido protocolada há dois dias e ainda está na fila para avaliação dos promotores, que vão decidir se vale iniciar uma apuração.
Para derrubar a teoria montada por Santos Filho e replicada por centenas de usuários das redes sociais, o Ministério da Saúde alega que as vacinas contra rubéola e sarampo não são aplicadas durante a gestação. Além disso, no caso das mulheres em idade reprodutiva, é feita uma recomendação de que não se engravide no até um mês após a vacinação.
De acordo com a nota do ministério, essas medidas são tomadas apenas para “evitar dúvidas no diagnóstico, caso o feto apresente algum problema durante a gestação”. Isso porque estudos já demonstraram que as vacinas são seguras, mesmo que aplicadas durante a gravidez.
Outro fato que pesa contra a teoria das vacinas relacionadas ao zika é que a maioria das crianças com microcefalia testou negativo para outras infecções congênitas normalmente relacionadas ao problema, caso de rubéola, toxoplasmose e citomegalovírus. Além disso, autoridades de saúde da Polinésia Francesa – que passou por uma epidemia da doença entre 2013 e 2014 – também informaram ter percebido um aumento do número de casos de má-formação do sistema nervoso de crianças nascidas nos últimos dois anos.
Indícios
Os pesquisadores ainda não conseguiram comprovar se o zika vírus é realmente o responsável pelo aumento de casos de microcefalia registrado no Brasil. Mas algumas pesquisas apontam para isso. Uma delas, desenvolvida por pesquisadores do Paraná, demonstrou que o zika consegue ultrapassar a barreira placentária e se instalar em células que chegam ao bebê.
Antes, partículas do vírus já haviam sido detectadas no líquido amniótico de duas grávidas que esperavam bebês com microcefalia. Mais recentemente, pesquisadores da Fiocruz em Pernambuco conseguiram detectar células que indicam que o bebê teve contato com o vírus no líquido encefalorraquidiano de 12 recém-nascidos com microcefalia.