Kits de higiene que foram montados pela Associação Santa Clara e entregues aos detentos| Foto: Comunicação ASC
Ouça este conteúdo

A Associação Cristã Santa Clara, localizada a 15 km do centro de Brasília, tem realizado ações de solidariedade, junto com a Área Pastoral Jesus Bom Pastor, para ajudar os mais de 1.000 detentos que foram presos por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), no último dia 9, em frente ao Quartel-General (QG) do Exército, em Brasília.

CARREGANDO :)

O trabalho da associação com os detentos começou no dia 9 de janeiro, quando centenas de pessoas foram retiradas do acampamento em frente ao QG do Exército e levadas para a Academia Nacional de Polícia, onde passaram por uma série de violações constitucionais, de acordo com a OAB-DF.

>> Faça parte do canal de Vida e Cidadania no Telegram

Publicidade

Após quase 20 dias do ocorrido, voluntários da associação relatam as dificuldades de acesso dos familiares e advogados aos detentos e a precariedade da situação prisional. Outro problema relatado é a dificuldade dos presos soltos para retornarem às suas cidades de origem no prazo de 24 horas, determinado por Moraes, para se apresentarem às comarcas.

"As pessoas não estão conseguindo chegar a tempo as cidades, por questões financeiras e de logística, já que algumas viagens para o interior do Brasil demandam dias. Além disso, estamos procurando ajudar com o pagamento das passagens", disse um dos voluntários.

A associação já pagou mais de 173 passagens tanto aos que foram liberados na Academia como também aos que estão sendo soltos para retornarem a cidade de onde vieram. O trabalho tem contado com doações para continuar dando o apoio necessário aos detentos e aos familiares que vem à Brasília para conseguir visitar ou saber mais informações de algum parente que esteja preso.

Uma família acolhida pela associação, que veio do interior do Mato Grosso do Sul para visitar um parente que foi detido no dia 9, segue sem respostas e sem conseguir visitá-lo na penitenciária. Trata-se de um jovem que chegou no domingo à noite ao acampamento, sem nem ter participado dos atos de vandalismo na Praça dos Três Poderes, e que foi detido apenas por estar junto com pessoas acampadas.

Os manifestantes estão sendo acusados, em inquérito aberto de ofício no STF, de cometerem atos terroristas (artigos 2ª, 3º, 5º e 6º da Lei 13.260 de 2016) e os crimes de associação criminosa e tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito (artigos 288 e 359-L do Código Penal), entre outros, pelo fato de estarem nos acampamentos para pedir a ação das Forças Armadas contra o resultado das eleições.

Publicidade

"Algumas prisões foram analisadas pelo STF e alguns já estão sendo liberados com tornozeleira eletrônica para que retornem ao seu estado de origem. Estamos acolhendo os que não têm condições financeiras, oferecendo-lhes passagem, banho, alimentação e descanso", escreveu o padre Geraldo Gama, presidente da associação e administrador paroquial da Área Pastoral Jesus Bom Pastor.

Acolhimento

Em carta aberta divulgada pela internet, o padre Geraldo Gama relatou os acontecimentos que acompanhou desde o dia 9 de janeiro, quando visitou as instalações da Polícia Federal e rezou com as pessoas detidas.

Entre os relatos apresentados pelo padre, sem a menção dos nomes, consta o de idosos com idade entre 60 e 70 anos, que foram surpreendidos aos serem levados do QG e que "estavam depressivos, tristes e com medo de perseguição".

"Fomos raptados e levados a um campo de concentração, para finalmente serem presos, sem nenhum direito de resposta e de defesa", diz um dos relatos.

Ao ver de perto a situação e ouvir os relatos de tantas pessoas, o padre ressaltou que não poderia deixar elas desamparadas e por isso mobilizou inúmero voluntários para auxiliar na missão. "A providência se manifesta de modo inesperado e simples", disse.

Publicidade

Cerca de 400 pessoas foram acolhidas pela associação e a área pastoral, a maioria eram idosos e pessoas com comorbidades, com direito a todas refeições. Até o dia 14 de janeiro, quando o último grupo conseguiu embarcar para o seu destino, foram ofertadas quase 6 mil refeições, entre café da manhã, almoço, jantar e lanches.

A associação também entregou 271 marmitas, 311 kits de lanche e 354 kits de higiene a pessoas que haviam sido liberadas da Academia de Polícia e não tinham como retornar para as suas casas. Entre calçados e vestuários, foram doados pelo menos 350 itens aos que tiveram os pertences extraviados.

Aos detentos que continuam presos na Papuda ou Colmeia, a associação também disponibilizou kits de roupa e higiene pessoal, sendo 500 kits masculinos e 300 kits femininos. Para as mulheres detidas foram ofertados 1.280 absorventes e 300 sutiãs.

A associação

Fundada em 18 de abril de 2015, a Associação Cristã Santa Clara, entidade católica sem fins lucrativos, desenvolve suas atividades sociais no Setor Santa Luzia, na Cidade Estrutural, uma das regiões mais carentes do Distrito Federal e tem como missão fortalecer as famílias em situação de vulnerabilidade, pela promoção dos princípios e valores cristãos como instrumento de transformação da realidade local.

A associação presta serviços a comunidade local como o acolhimento integral em regime de creche para 100 crianças, atendimentos realizados por voluntários nas áreas médica, odontológica, psicológica, nutricional, jurídica, cultural e esportiva, além dos cursos de capacitação e de promoção de renda para jovens e adultos. Em parceria com a Área Pastoral Jesus Bom Pastor, também oferece atendimento assistencial para cerca de 420 famílias, com doações de alimentos, roupas, cobertores, medicamentos, entre outros.

Publicidade