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Até hoje Bela tem horror de ver filmes de guerra, porque ela lembra do barulho das bombas caindo sobre Varsóvia | Alexandre Mazzo
Até hoje Bela tem horror de ver filmes de guerra, porque ela lembra do barulho das bombas caindo sobre Varsóvia| Foto: Alexandre Mazzo
  • Bela fugiria ao Brasil, mas ela e a família foram pegas de surpresa pelo ataque alemão em 1º de setembro de 1939
  • A fuga de Bela foi uma via sacra. Ela viu a formação dos guetos e muita gente ser presa
  • A Gestapo entrou na casa do tio de Bela, onde ela dormia, e levou o tio por engano (a polícia achava que era uma pessoa, mas era outra). Ele nunca mais voltou
  • Quando as sirenes da cidade tocavam, avisando que havia bomba, Bela corria para o subterrâneo dos prédios e ficava agachada esperando o ataque acabar
  • Uma das bombas caiu sobre uma fábrica de enlatados. Bela lembra que as pessoas saindo correndo com os enlatados na mão, para matar a fome

A fuga aconteceria no dia 3 de setembro de 1939. O pai de Bela Bogdanski já havia enviado os documentos dela, das duas irmãs e da mãe para virem da Polônia ao Brasil e reencontrá-lo (ele fugiu do antissemitismo e estava instalado no Rio Grande do Sul à espera da família). Mas a briga entre Alemanha e Polônia teve início e a mãe de Bela começou a desconfiar de que a viagem não seria simples. Acabou demorando dois anos para acontecer (1941), tempo suficiente para Bela assistir, aos 14 anos, ao ataque de Varsóvia e ser perseguida pelos nazistas.

Os alemães atacaram Var­­sóvia em 1.º de setembro de 1939 (dois dias antes da data prevista para a fuga). Dias depois, uma bomba que caiu em uma fábrica de enlatados, lembra Bela, causou confusão na população faminta. "Muitos corriam para pegar as latas. As sirenes tocavam e a gente tinha de correr ainda mais e com as mãos cheias." Não tardou até que os alemães ocupassem toda a cidade e os bombardeios acabassem. Foi então que o tio de Bela foi buscá-las e levá-las a um local mais seguro. Entretanto, em uma noite a polícia secreta chegou ao edifício onde morava seu tio e o levou. "Nunca mais tivemos notícias dele."

VÍDEO: Depoimento de Bela Bogdanski

Chegar ao Brasil ainda era a meta da mãe de Bela. Por isso ela e as meninas partiram para Trieste (Itália), mas, na hora de embarcar, Mussolini declarou apoio aos alemães e fechou os portos. "Tentamos um navio em Gênova e um avião em Roma, mas não conseguimos", conta. Após nove meses em Trieste, veio a notícia de que em Gênova haveria um trem para a Espanha. Da Espanha, seguiram a Portugal.Antes de chegar ao novo lar, porém, Bela queria mudar o visual. Estava incomodada com as tranças "muito infantis" (tinha quase 16 anos). Resolveu fazer permanente enquanto esperava pela viagem em Lisboa. "Fiquei no salão umas três horas, um fazia unha, outro me pintava: eles queriam saber tudo sobre nossa odisseia." Seis semanas depois de ficar em solo português, as Bogdanski embarcaram no navio Serpa Pinto.

Bela viveu em Porto Alegre até se casar. Veio a Curitiba com o marido porque aqui ele abriu uma filial da Editora Ateneu. Dos parentes dela que ficaram na Polônia – quatro tias, três tios e primos – ninguém sobreviveu.

Bela Bogdanski

VIDA E CIDADANIA | 4:40

Ela iria fugir ao Brasil, mas três dias antes os alemães acabaram atacando Varsóvia e o plano de fuga foi mais complicado do que o esperado. Bela viu as bombas caírem na cidade onde estava e o tio ser levado, por engano, pela Gestapo.

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