Zoo de Cascavel, onde ocorreu o ataque, tem grade e guarda-corpo separando animais de visitantes| Foto: Mateus Barbieri/Jornal Hoje

Animal ficará 15 dias isolado

O tigre Hu tem 3 anos e meio de idade e está há três anos no zoológico de Cascavel, ou seja, desde filhote. "Ele está acostumado com o público e podemos dizer que ele tem temperamento dócil", afirma o veterinário Valmor Passos. Hu veio de Maringá, onde foi mantido quando filhote pelo mesmo criador do leão Rawell, hoje em Curitiba. Depois de ter parte da cauda amputada, o criador achou que o tigre não possuía mais as condições para ser exposto, e resolveu doar o animal ao zoo de Cascavel. Dos mesmos criadores também estão presentes no local um leão, três leoas, duas onças pardas e uma onça preta – todos, segundo a administração do zoo, isolados devidamente em espaços que contêm alertas de perigo.

Hu ficará isolado por 15 dias para se acalmar. De acordo com Passos, o vídeo que mostra o momento em que a criança se aproximou do tigre já foi analisado pela equipe do zoológico. Segundo ele, é possível ver que o animal urina duas vezes próximo à tela, o que seria uma mostra de que não estava gostando da atitude da criança. "Mas, claro, ele [o menino] não entendeu, porque é uma maneira muito específica [de se manifestar], e continuou ali."

Atualmente, uma equipe de seis guardas patrimoniais tomam conta do zoológico de Cascavel. Nenhum dos guardas estava fiscalizando a jaula do tigre no momento em que o menino estava no local.

Para o veterinário, não houve omissão do trabalho dos guardas, até porque existe um sistema de isolamento entre os visitantes e os animais, e também placas que indicam perigo. Passos considera que todos os métodos de segurança adotados hoje pelo zoo de Cascavel são funcionais, e não há indicação de que eles terão de passar por uma reavaliação. "Se mudar qualquer situação do ambiente vamos assumir uma culpa que não é nossa. Está tudo de acordo aqui dentro", completou.

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A Polícia Civil de Cascavel instaurou inquérito para apurar as circunstâncias do crime de lesão corporal de natureza grave – como foi classificado o ataque de um tigre do zoológico da cidade a um menino de 11 anos, na última quarta-feira. Durante visita ao local, com o pai e o irmão mais novo, o garoto se aproximou da jaula do animal, colocou o braço através da grade e acabou sendo mordido. O membro precisou ser amputado.

De acordo com Denis Me­­rino, delegado responsável pelo caso, inicialmente, tanto o pai do menino, que estava com ele na hora do acidente, como a equipe de segurança do zoológico serão investigados como possíveis responsáveis pela fatalidade. "O pai tem responsabilidade legal pela guarda da criança. Ele, obrigatoriamente, deveria estar cuidando do menino naquela hora. Ainda que o pai não quisesse que tal fato acontecesse, isso não quer dizer que ele não possa vir a ter responsabilidade criminal", declarou Merino.

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Conforme o delegado, no primeiro depoimento prestado à polícia, o pai contou que no momento em que o garoto se aproximou do tigre ele estava tomando conta do filho mais novo, de três anos. Por isso não teria prestado atenção no que o filho mais velho estava fazendo. Tanto o pai como o menino atacado são de São Paulo. Eles estavam passando as férias em Cascavel. Os dois estavam com volta marcada ao estado vizinho para ontem. A mãe do garoto, que também mora em São Paulo, foi comunicada e estava a caminho do Paraná.

Merino falou também que a polícia pretende fazer novo interrogatório com o pai do garoto. "Mas ainda não sabemos quando porque ele está tão abalado que não tem condições de conversar", afirmou. O delegado desmentiu que o pai teria autorizado a criança a pular a grade de segurança para se aproximar do tigre.

Merino relatou ainda que ontem uma equipe de investigação esteve no zoológico para fazer um levantamento dos guardas que estavam no zoológico na hora do ataque e quais deles eram responsáveis por aquela área no momento. "Vamos ter de saber onde eles estavam, ou porque eles não estavam ali, e se estavam porque não impediram que o menino se aproximasse", argumentou.

A prefeitura de Cascavel negou que haja falhas na segurança do zoológico e informou que o ataque dessa semana foi o primeiro em 38 anos de funcionamento do local.

A polícia tenta também identificar os donos de ­­vídeos que mostram desde o momento em que o garoto chega próximo ao tigre até a hora do ataque. Eles devem ser chamados para prestarem depoimento como testemunhas do fato. Apesar de não impedirem a aproximação do garoto, nenhum deles responderá criminalmente por omissão.

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Garoto

Segundo informações do Hospital Universitário do Oeste do Paraná (HUOP), a equipe médica que avaliou o menino verificou que não havia como salvar o braço. "A mordida é dilacerante, não cortante, e arranca toda a estrutura de músculo, vasos, nervos e tendões", explica o diretor do Departamento de Pesquisa e Conservação de Fauna da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Curitiba, Alexandre Biondo. Ele estima que uma mordida de um tigre possa representar um impacto de 300 quilos.

O estado de saúde do menino é estável, mas ainda não há previsão de alta.

Alerta

Zoológico não é parque de diversões

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Visitar um zoológico não é a mesma coisa que brincar no quintal de casa. É preciso bom senso para entender que os animais têm de ser respeitados.

No zoo de Curitiba, a família dos felinos conta atualmente com 11 animais: quatro leões, quatro onças pintadas e três pumas. Todos eles são isolados por duas barreiras. Uma tela ou grade, há cerca de 1,30 metro de distância, que mantém o animal restrito em seu espaço, e o guarda-corpo, que mantém o público afastado.

Apesar da estrutura reforçada, o veterinário do zoo de Curitiba Manoel Lucas Javorouski confirma que há poucas pessoas para apoiar a segurança do local: cerca de 40 funcionários se dividem entre cuidar dos animais e fiscalizar os visitantes. Javorouski destaca que existe a previsão para novas contratações, mas que o Ibama não estipula um número mínimo de pessoas para desempenhar esta função.

Colaborou Carolina Pompeo, especial para a Gazeta do Povo