Um filme, até quando não é um grande filme, é uma viagem. Medianeras, longa-metragem argentino que passou recentemente por Curitiba, não é ótimo, mas tem seus méritos e um deles é registrar como vivemos, nós que tentamos ser felizes no século 21. Como falar de nós sem citar as cidades, a onipresença das mídias eletrônicas, a sorte/azar de encontrar ou não um companheiro para compartilhar a vida, a solidão? Solidão, cidade, amor (ou desamor) e o mundo digital: estão aí vários dos elementos da vida de todos nós, especialmente dos mais jovens.
Neste filme do diretor Gustavo Taretto, o cenário é Buenos Aires. Um belo cenário, convenhamos. Mas, para o casal de jovens que nos conta a história, a capital argentina é a culpada por suas mazelas. Martín, em especial, culpa a cidade por seus medos, por não ter namorada, por morar em um imóvel apertado. Pode ser simplista, mas quem não fez isso alguma vez na vida?
Quem nunca se perguntou se seria mais bem-sucedido se vivesse em uma cidade maior ou em um país mais rico? Ou o contrário, se seria mais feliz e equilibrado vivendo em uma cidade menor? Quem nunca imaginou se não encontraria um parceiro mais interessante se vivesse em outro lugar? O lugar distante é só promessa e, por isso, nele tudo é possível.
Dá para entender quando Martín e Mariana se queixam de Buenos Aires. Eles a descrevem como sufocante por sua dimensão e seu crescimento constante. A Argentina tem 40 milhões de habitantes e 13 milhões deles vivem concentrados na Grande Buenos Aires. Tem tanto espaço lá fora, tanta natureza, mas tantos se empilham nos prédios da capital federal é esse o raciocínio. Eles observam a arquitetura da cidade e veem nela um conjunto desconexo, em que estilos diferentes se sucedem na mesma quadra. Um edifício pequeno ao lado de um muito alto, um clássico ao lado de um moderno. "Provavelmente estas irregularidades nos refletem perfeitamente, irregularidades estéticas e éticas", diz Martín. Vale para os moradores de qualquer cidade do mundo.
(Oh, portenhos, o que diriam vocês se vissem as cidades brasileiras? Ainda se queixariam depois de contemplar a mistura de cores e materiais com projetos de gosto duvidoso que se espalham por nossas ruas?)
As características das nossas cidades nos incomodam ou nos alegram mais quando as comparamos com outras. Sem comparação, prevalece a força do vínculo emocional. Temos os olhos embaçados porque o nosso vínculo é muito forte, porque somos o que somos porque vivemos aqui. Dos maneirismos às crenças, do sotaque aos sonhos que ousamos ter. Por isso, abandonar uma cidade e adotar outra é como trocar a pele. Só quem já trocou de pele entende.
É a solidão que desnorteia Martín e Mariana e eles projetam nas ruas o desconforto que sentem. De novo, quem já não fez isso? Até Buenos Aires, que para mim é uma cidade linda, pode parecer triste para quem carrega o desconforto de se sentir muito só. As cidades são poderosas, mas nossos pensamentos são muito mais.
Soraya Thronicke quer regulamentação do cigarro eletrônico; Girão e Malta criticam
Relator defende reforma do Código Civil em temas de família e propriedade
Dia das Mães foi criado em homenagem a mulher que lutou contra a mortalidade infantil; conheça a origem
Rotina de mães que permanecem em casa com seus filhos é igualmente desafiadora