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Debate

Até que ponto houve negligência?

Assista à reportagem em vídeo | TV Globo
Assista à reportagem em vídeo (Foto: TV Globo)

Três semanas depois do desaparecimento da menina Madeleine McCann, de 4 anos, em Portugal, o mundo inteiro continua tentando achar pistas do paradeiro da garota. Ao mesmo tempo, o sumiço da menina, deixada pelos pais em um quarto de hotel enquanto eles jantavam, acabou gerando uma discussão importante para quem quer evitar novas tragédias. A pergunta fundamental é: até que ponto houve negligência por parte dos pais de Madeleine?

Os próprios pais da garota, Gerry e Kate, foram à imprensa dizer que se sentem culpados pelo que aconteceu. Eles contam que estavam em um resort, em Portugal, e deixaram as três crianças dormindo. Além de Maddy, de 4 anos, havia um casal de gêmeos de 2 anos. A cada meia hora, o casal voltava para o quarto das crianças para ver se tudo estava bem. Foi numa dessas checagens que eles deram conta do sumiço da menina.

"Eu acho que a culpa que nós sentimos por não ter estado lá no momento, independentemente de estarmos no outro quarto ou não, nunca vai nos deixar", disse Gerry. Segundo os pais, muitos casais ligaram ou escreveram pedindo que eles não se sintam culpados e dizendo que também teriam deixado as crianças sozinhas por algum tempo na mesma situação.

No entanto, quem estuda o assunto diz que os pais de Madeleine poderiam e deveriam ter sido mais cuidadosos. Principalmente porque as crianças são muito pequenas e não sabem como se defender. "É difícil dizer isso porque certamente os pais estão sentindo muita dor", afirma Luci Pfeiffer, presidente do Departamento de Segurança da Sociedade Paranaense de Pediatria. "Mas certamente houve negligência por parte deles", afirma.

Segundo a médica, crianças pequenas não têm real noção do perigo. Ela diz que é desaconselhável deixar menores de 10 anos sem a supervisão de um adulto – embora a própria médica ressalte que a idade mínima varia de caso para caso, dependendo do grau de desenvolvimento da criança. "Com 10 anos, já dá para deixar um pouco sozinho", comenta.

A opinião é a mesma da coordenadora regional da ONG Criança Segura, Alessandra Françóia. Ela diz que é só a partir dos 12 anos que uma criança pode ficar sozinha por um período um pouco maior de tempo. "Especialmente se ela tiver de mexer na cozinha, que é a parte mais perigosa da casa." Para ela, deixar uma criança de 4 anos sozinha é uma temeridade. Não só pelo risco de seqüestro ou desaparecimento – caso de Maddy –, como pela possibilidade de a criança se machucar.

Entre as possibilidades de acidente com crianças pequenas, Alessandra destaca o risco de quedas de sofás e outros móveis; a possibilidade de a criança se intoxicar com produtos que não podem ser ingeridos; e até o risco de queda de uma janela. "Com 4 anos, uma criança não sabe reconhecer uma situação que apresenta risco", comenta.

Cautela

Até mesmo quem foi marcada por uma tragédia semelhante afirma que os McCann deveriam ter sido mais cuidados com a sua filha. Arlete Caramês, fundadora do Movimento Nacional em Defesa da Criança Desaparecida, diz que é inegável que o casal foi negligente. "Três crianças dessa idade jamais poderiam ficar sozinhas. Ainda mais se pessoas no hotel já sabiam que elas iriam estar desacompanhadas", diz. Funcionários do hotel que sabiam que os pais deixavam Madeleine e os irmãos sozinhos à noite chegaram a oferecer um serviço gratuito de babá eletrônica, mas o casal recusou. Arlete é mãe de Guilherme Caramês Tiburtius, garoto que desapareceu aos 8 anos, em 1991. "O caso do meu Guilherme foi uma fatalidade. Nunca deixava ele sozinho", afirma ela.

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