Alguns médicos do Centro Municipal de Urgências Médicas (CMUM) do Sítio Cercado (unidade 24 horas), em Curitiba, não compareceram ao trabalho na noite de terça-feira (13). O atendimento à população foi afetado e pacientes tiveram de ser transferidos para outros CMUMs, como o do Campo Comprido. Usuários do sistema de saúde denunciaram à Gazeta do Povo que havia apenas um médico atendendo na noite de terça no Sitio Cercado.
Segundo a secretária municipal de Saúde, Eliane Chomatas, eram cinco médicos trabalhando no CMUM do Sítio Cercado até meia noite de terça e quatro depois deste horário.
Os médicos que atuam nos CMUMs do Sítio Cercado e do Campo Comprido são contratados pelo Hospital Evangélico. Os profissionais estão com alguns benefícios atrasados e esse pode ser um dos motivos do problema nos CMUMs.
A assessoria de imprensa do Evangélico informou que os salários de fevereiro foram pagos em 8 e 9 de março. O vale-refeição de fevereiro também foi quitado, porém, o do mês de março ainda não foi pago. Os atrasos no repasse de honorários médicos, segundo a instituição, se devem aos atrasos no repasse do convênio por parte da Secretaria Municipal de Saúde para o Hospital Evangélico.
O Sindicato dos Médicos do Paraná (Simepar) informou que entrou com ação na justiça do trabalho, na semana passada, contra o Hospital Evangélico (Sociedade Beneficente Evangélica de Curitiba). O objetivo era conseguir o pagamento de benefícios e dos salários atrasados.
Mesmo com o pagamento dos salários, uma audiência entre as partes deve ser marcada para tratar das outras pendências. O FGTS dos médicos dos CMUMs Sítio Cercado e Campo Comprido contratados pelo hospital não é depositado há pelo menos um ano, de acordo com a assessoria de imprensa do sindicato.
O Simepar esclareceu ainda que não orientou os profissionais a deixaram de comparecer ao trabalho.
Pacientes reclamam do atendimento
No CMUM do Sítio Cercado, pacientes e acompanhantes contavam diversas histórias sobre o atendimento. Logo antes da reportagem chegar ao local, uma mulher acabou caindo em frente à unidade 24 horas por conta de uma crise de diabetes. O marido dela, o pedreiro Amauri de Jesus Trindade, 42 anos, disse que o casal chegou às 8h30, mas só conseguiu atendimento duas horas depois por conta do episódio que levou à queda da mulher. "Agora ela está bem, lá na emergência", disse Trindade.
Dentro do centro, diversas pessoas reclamaram da demora. Um homem - que parecia embriagado - deitou-se no chão, mas ninguém foi socorrê-lo. Somente quando uma paciente foi informar as atendentes na porta sobre o caso foi que o homem recebeu atenção. Dois guardas municipais foram chamados para ajudar e, junto com os médicos, colocaram o homem na maca. Outras pessoas que esperavam atendimento perceberam que o homem não foi bem tratado. "Ele puxaram ele pela calça, nem seguraram a cabeça", exclamou o auxiliar de logística Jonathan Adolfo Didre dos Santos, de 18 anos.
Reclamações sobre o atendimento prestado à população também foram registrados no CMUM do Campo Comprido. O microempresário Neri Alves Fragozo, 40 anos, disse que chegou à unidade 24 horas às 9 horas de segunda-feira (12). A filha dele, de 13 anos, estava com dores e havia a suspeita de apendicite. A menina recebeu o primeiro atendimento uma hora depois, por volta das 10 horas. A adolescente permaneceu no CMUM e foi encaminhada para o Hospital Evangélico, por volta das 16 horas, para fazer o exame de raio-x.
No início da noite de segunda, pai e filha retornaram para o CMUM do Campo Comprido. Um médico da unidade precisava analisar o exame e tomar as providências necessárias. Os dois passaram a madrugada e a manhã de terça-feira (13) esperando pela avaliação do raio-x. "Não havia lugar para sentar na área de espera e minha filha não foi colocada em uma maca. Ela passou várias horas no corredor e caminhando pela unidade. Depois foi descansar no carro do meu irmão", disse Fragozo.
Uma equipe de reportagem de uma emissora de televisão da capital foi ao local às 14 horas de terça-feira. Somente após a chegada da imprensa é que o problema foi resolvido. Um médico analisou o raio-x da menina e constatou que não se tratava de apendicite e sim de um problema de intestino preso. A adolescente foi medicada e liberada para voltar para casa. "Não podíamos sair do CMUM porque poderíamos perder o atendimento e teríamos de começar tudo de novo", lamentou o pai da adolescente. A garota retomou a rotina nesta quarta-feira.