
Em cinco novos vídeos divulgados ontem pela Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro, o atirador Wellington Menezes de Oliveira, 23 anos, autor do massacre na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, no último dia 7, diz que o bullying sofrido por ele nos anos em que estudou na instituição foi a principal motivação para o crime. Doze crianças morreram e outras 12 ficaram feridas no ataque. Wellington se matou no local.O material divulgado ontem inclui ainda sete fotos em que Wellington aparece segurando duas armas carregadas e textos escritos pelo assassino. Os arquivos digitais foram encontrados no computador que o atirador tentou destruir na véspera do massacre, quando colocou fogo na casa em que morava, em Sepetiba. O material mostra a preparação para o ataque e prevê a repercussão do caso, com mensagens dirigidas aos "irmãos", como ele se refere a outras vítimas de bullying (quando um grupo pratica violência física ou moral de forma sistemática contra alguém que não consegue se defender). Lendo textos ou falando diretamente para a câmera, Wellington tenta justificar o assassinato de alunos como uma resposta aos "covardes".
O assassino diz ainda que a escola deve ser um lugar de aprendizado e respeito, e culpa as "autoridades" por omissão. "Se tivessem descruzado os braços antes, provavelmente o que aconteceu não teria acontecido. Eu estaria vivo. Todos os que matei estariam vivos", diz. "Lembrem-se que essas pessoas [que cometem bullying] foram as responsáveis por todas as mortes, inclusive a minha."
A confusão mental de Wellington fica mais evidente na gravação que ele fez na véspera do ataque. Ele diz "hoje é quarta-feira, dia 6 de outubro de 2011". O dia, na realidade, era 6 de abril. Além de relatar outra suposta humilhação ocorrida naquele mesmo dia, em um ponto de ônibus, o assassino revela que passou a noite no Hotel Shelton, em Realengo, "para me preparar". Localizada em Campinho, bairro próximo a Realengo, a hospedaria faz parte de uma rede de motéis e cobra por períodos entre quatro e 12 horas. A direção do Shelton não quis se pronunciar. A polícia não confirmou se ele passou a noite no hotel.
Ataque
Em um dos vídeos, Wellington se dirige às pessoas que sofrem bullying e revela que planejava um ataque. Ele diz que estava preparado para matar e morrer "em prol da defesa". "Analisando esse cenário, eu percebi que algo precisa ser feito contra esses covardes. Eles precisam saber, todos precisam saber, que vocês [vítimas de bullying] têm irmãos preparados para matar e para morrer, em prol da defesa de vocês", afirma.
No primeiro vídeo, divulgado na terça-feira pelo Jornal Nacional, da Rede Globo, Wellington aparece sem barba e fala sobre o planejamento do crime. Ele diz que fez a gravação dois dias antes do massacre. Na quarta-feira, outro vídeo foi divulgado, provavelmente gravado antes de julho de 2010, o que indica que o crime era planejado no ano passado. Ele diz que as pessoas que o desrespeitaram descobririam quem ele é "da maneira mais radical".
Os "irmãos" a que Wellington se refere são o australiano Casey Heynes, que divulgou na internet um vídeo em que se defende de um agressor aplicando um golpe de luta livre; o sul-coreano Cho Seung-Hui, que invadiu o Instituto Politécnico e Universidade Estadual da Virgínia (EUA), em 2007, matando 32 pessoas; e o brasileiro Edmar Aparecido Freitas, que em 2003 feriu oito pessoas em um colégio em Taiúva (SP) e se matou. Wellington os descreve como "ícones na luta contra os infiéis".
Até agora foram revelados sete vídeos. Seis deles foram recuperados de discos rígidos de computador apreendidos na casa do atirador. O sétimo, de origem desconhecida, segundo a polícia, foi exibido pelo Jornal Nacional de terça-feira. A polícia deu o caso como encerrado: Wellington agiu sozinho e cometeu suicídio. Seu corpo ainda está no Instituto Médico-Legal e não foi reclamado por familiares.
Aluno mata colega e diz que era humilhado
Um adolescente que se disse vítima de bullying matou na quarta-feira um colega com golpes de faca na cidade de Corrente, no interior do Piauí. Segundo o delegado Fabrício Gois, o adolescente de 14 anos que cometeu o assassinato disse à polícia que era "agredido quase todos os dias física e verbalmente". O ataque ocorreu no pátio da escola, quando os alunos esperavam pelo ônibus. O adolescente desferiu um golpe na virilha e outro no pescoço do colega.
Ontem, um estudante de 14 anos foi apreendido com uma pistola 380 próximo ao portão da Escola Estadual Cid de Oliveira Leite, em Ribeirão Preto, a 313 quilômetros de São Paulo. Segundo a polícia, ele mostrou a arma a um amigo, sem entrar na unidade.
Em Alagoas, o Ministério Público Federal vai investigar uma denúncia de bullying em uma Escola Estadual de Mata Grande, cidade a 267 quilômetros da capital Maceió. Um vídeo com imagens das agressões a um aluno foi parar na internet no início deste mês.