Encontro de jovens no Paiol discutiu temas como diversidade sexual, discriminação racial, esporte, família e trabalho.| Foto: Albari Rosa/GAzeta do Povo

Há 16 anos os caras-pintadas saíam em legiões às ruas pelo impeachment do presidente Fernando Collor de Mello. O país não havia visto, nem veria depois disso, uma mobilização tão representativa de ativismo juvenil. A despeito da impressão de letargia entre os jovens, eles encontraram outras formas de mexer com a vida do país. Ontem, 200 deles se reuniram no Teatro Paiol, em Curitiba, para o 4º Encontro Municipal de Protagonismo Juvenil. Vieram das nove regionais da capital e o tema, "ação e mudança", sugere o que pretendem.

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O que eles querem é mostrarem-se capazes de colocar suas questões no espaço público e pautar a definição de políticas públicas que lhe dizem respeito. "Por isso, os assuntos e os convidados foram escolhidos pelos adolescentes envolvidos na coordenação", explica a coordenadora do programa municipal Adolescente Saudável, Júlia Cordellini. Esse maior envolvimento foi uma reivindicação deles próprios nos três encontros anteriores. Desta vez, 30 jovens se dividiram em três grupos para trabalhar no credenciamento, na programação e na infra-estrutura do evento.

Os debates giraram em torno de quatro temas: diversidade sexual; raça/etnia, discriminação e superação; esporte, disciplina e família; arte e trabalho. "É incrível perceber como podemos ser capazes de influir positivamente na vida de muitas pessoas da mesma faixa de idade", diz o universitário e mestre de cerimônias do encontro, Igor Francisco, de 18 anos. Igor é um dos 2 mil adolescentes que já participaram dos encontros municipais e foram capacitados para atuar como protagonistas de ações transformadoras na escola, no bairro, na cidade.

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O número de jovens preocupados em participar dos debates sociais e apontar soluções para os problemas tem crescido porque há novos espaços para essas discussões. Ser protagonista significa ajudar na gestão de cooperativas e associações populares, combater a homofobia nas escolas, fazer campanha contra a fome, lutar pelo acesso de minorias às universidades, discutir sexualidade em salas de aula, atuar em rádios comunitárias, fazer cursinho pré-vestibular para estudantes de baixa-renda. A proliferação de organizações não-governamentais tem ajudado no engajamento dos jovens com esse perfil.

O responsável pelo credenciamento do encontro, Max Maciel do Amaral Zuk, 17 anos, acredita que a participação poderia ser maior. "O protagonismo ainda é pouco reconhecido", avalia. A caminho do evento, ele conversou sobre o assunto com três colegas no ônibus e nenhum sabia do que se tratava. "É preciso mais divulgação", completa Iolanda dos Santos, 14 anos. O grupo de adolescentes do qual participa, na Unidade de Saúde do São Braz, tenta atrair mais jovens em campanhas contra a dengue, de vacinação, palestras sobre drogas, sexualidade, nutrição.

O encontro de ontem contou com apoio da prefeitura, da Universidade Federal do Paraná, de algumas escolas estaduais e organizações não-governamenais como a Rede de Mulheres Negras do Paraná, Ciranda (Central de Notícias dos Direitos da Infância e Adolescência), Centro de Convivência Menina Mulher e da Chácara Meninos de 4 Pinheiros.