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São Roque

Ativistas invadem laboratório de testes no interior de SP e retiram cães

Ativistas seguram dois dos beagles resgatados do laboratório do Instituto Royal | Folhapress/Avener Prado
Ativistas seguram dois dos beagles resgatados do laboratório do Instituto Royal (Foto: Folhapress/Avener Prado)

Um grupo de ao menos cem ativistas invadiu e resgatou cães da raça beagle do Instituto Royal, no Jardim Cardoso, em São Roque, município que fica a 59 km de São Paulo, por volta das 2 horas desta sexta-feira (18). Os ativistas protestam contra o uso de cães da raça em testes feitos pelo instituto que trabalha para farmacêuticas.

Os ativistas arrombaram gaiolas e resgataram cerca de 200 cachorros da raça beagle, que foram levados em carros a clínicas veterinárias particulares da região. Segundo a ativista Giuliana Stefanini, seis destes cachorros tinham tumores e estavam mutilados. "O que mais chocou o grupo foi um beagle sem os olhos", disse ela.

No laboratório, os manifestantes também encontraram vários fetos de ratos e um cachorro congelado em nitrogênio líquido.

O protesto começou por volta das 16 horas de quinta-feira (17) com cerca de 35 pessoas. Segundo a Guarda Civil Municipal, no período da noite o número de manifestantes começou a aumentar. Por volta das 2 horas, a GCM contabilizava ao menos 150 pessoas no local, divididas em grupos em frente as duas entradas da clínica.

Os manifestantes alegam que tentaram na tarde de quinta uma reunião com o instituto, que desmarcou em cima da hora. O grupo foi para a frente do laboratório protestar e disse ter ouvido gemidos de animais.

Antes da invasão do instituto, alguns ativistas foram à delegacia de São Roque para tentar registrar um boletim de ocorrência de maus tratos contra os animais, mas o delegado não estava no local. Segundo Giuliana, outro grupo foi à casa do juiz de São Roque, que atendeu aos ativistas e chamou a polícia.

Os manifestantes reclamaram que também pediram ajuda a guardas municipais e policiais militares, que estavam em frente ao instituto, mas eles não teriam feito nada.

Segundo a Guarda Civil Municipal de São Roque, nenhum ativista foi preso. A Polícia Civil de Sorocaba deve fazer a perícia no prédio do instituto nesta sexta-feira.

Protestos

Em agosto, manifestantes de diversas ONGs de proteção aos animais foram a São Roque (SP) protestar contra o instituto.

O "comboio" saiu da avenida Paulista, no centro da capital, para percorrer 70 km até São Roque, onde se encontraram com ativistas locais.

Percorreram o centro da cidade com carro de som, empunhando cartazes e bandeiras com críticas ao instituto e aos testes em animais (vivissecções).

Após a passeata, o grupo, de cerca de 200 pessoas, foi até o portão da empresa, onde quatro seguranças estacionaram o carro em frente ao portão de entrada para evitar arrombamentos.

Pesquisas

Os cães são usados em pesquisas de medicamentos que serão lançados. O objetivo é verificar a existência de possíveis reações adversas, como vômito, diarreia, perda de coordenação e até convulsões.

Em muitas das pesquisas, os cães acabam sacrificados antes mesmo de completarem um ano, para que se possa avaliar os efeitos dos remédios nos órgãos dos bichos.

Quando isso não é necessário, os cães são colocados para adoção, diz a empresa.

O Instituto Royal, alvo da manifestação, passou a ser investigado pelo Ministério Público de São Paulo, que recebeu denúncias de maus-tratos aos animais.

Ao menos 66 beagles são mantidos em canis. A maior parte deles é reprodutora dos filhotes que serão testados.

O Royal diz que, em breve, fornecerá animais para testes em outros institutos.

"Recebemos a denúncia de que esses animais são acondicionados em condições irregulares", afirma Wilson Velasco Jr., promotor do Meio Ambiente em São Roque.

Questão polêmica

O uso de cães em pesquisas é permitido e regulado por normas internacionais.

Protetores de animais, no entanto, questionam as normas. "As indústrias sequestram a vida dos animais, que nunca mais terão um comportamento normal", diz Vanice Teixeira Orlandi, presidente da União Internacional Protetora dos Animais.

Segundo o vice-diretor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP, Francisco Javier Hernandez Blazquez, os cães da raça beagle são os mais utilizados para experimentos no exterior, pois são animais de médio porte e já criados para a pesquisa.

No Brasil, ratos e camundongos são os bichos mais usados em pesquisas feitas em laboratórios.

"Todo e qualquer experimento realizado por docentes e pesquisadores em animais deve passar por uma comissão de ética para analisar se o animal sofrerá e qual a finalidade do projeto", diz.

Outro lado

Em agosto, o instituto Royal disse que segue todos os protocolos nacionais e internacionais voltados para pesquisas com animais em laboratórios.

Eles afirmaram que são uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) e que recebem verba de instituições públicas de fomento à pesquisa. O protocolo dos testes é aprovado por essas instituições antes de os estudos começarem.

O instituto disse também que os testes só são feitos nos cães depois de serem realizados em roedores. Por isso, os efeitos adversos apresentados nos beagles não são agudos.

Eles afirmaram que sempre que a reação ao medicamento é constatada, um dos nove veterinários do local intervém.

A etapa da pesquisa em cães é a última antes de o medicamento passar a ser testado em voluntários humanos, de acordo com o Royal, que afirmou que os testes realizados nos cães não podem ser substituídos por técnicas in vitro (sem o uso de animais).

A empresa também negou que houvesse maus-tratos aos animais e abriu o espaço onde os beagles ficam para a reportagem.

Os cães são divididos em baias que contêm de três a quatro animais cada. O local estava limpo e climatizado no momento da visita.

Alguns beagles aparentavam estar assustados, tremiam e se afastavam ao verem as pessoas por perto. Outros se aproximavam da grade em busca de carinho. Muitos deles estavam obesos.

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