| Foto: Antônio More / Gazeta do Povo

O canadense Adam Kaasa é ele mesmo um exemplo da missão que assumiu ao entrar no projeto Urban Age, da LSE: reunir políticos, sociedade e profissionais de várias áreas para discutir o futuro das cidades. Formado em Sociologia, fala como um urbanista e conhece bem a política por trás da administração das grandes metrópoles. A iniciativa da LSE vem colhendo conhecimento sobre como as cidades funcionam e organizando fóruns para criar o que ele chama de "gramática" comum para que engenheiros, antropólogos e gestores falem a mesma língua. Na semana passada, Kaasa fez uma palestra em Curitiba e falou à Gazeta do Povo sobre o desenvolvimento das cidades.

CARREGANDO :)

As cidades são um problema ou parte da solução para o bem-estar das pessoas?

As cidades precisam ser vistas como espaços para soluções. O conceito de densidade é um exemplo. Ele pode ter efeitos positivos, como visto na Europa, onde a densidade permite que exista um sistema de transporte coletivo melhor, porque há demanda. Mas a densidade tem um outro lado, porque aqueles que podem pagar para viver bem em cidades de alta densidade não são a maioria. Além disso, em uma área densa, uma doença pode se espalhar rapidamente. Existe algum modelo ideal para coordenar o trabalho em grandes áreas metropolitanas?

Publicidade

Não há um modelo único. Cidades como Istambul e Xangai têm um sistema em que a região metropolitana forma uma única província. A área administrativa de Istambul é enorme, o que permite que haja decisões unificadas para toda a área metropolitana. Londres tem 32 cidades em sua área metropolitana, todas com seus próprios prefeitos, conselhos, coleta de lixo, escolas, parques, tudo separado, mas com uma autoridade que desenvolve um plano estratégico para toda a região e que administra o sistema de transporte público.

Você comenta que é preciso colocar profissionais de várias áreas para conversar. O que um sociólogo, por exemplo, tem a ensinar a um urbanista?

É por isso que começamos o programa Urban Age. Em uma conferência colocamos prefeitos de várias cidades em um ambiente e eles dividiram suas experiências, mostraram o que tentaram, onde falharam e onde foram bem-sucedidos. Não se trata apenas do que um sociólogo tem a ensinar para um urbanista, mas também do que o arquiteto pode ensinar ao sociólogo. Quando você pensa em etnografia urbana, problemas sociais, os arquitetos pensam "vocês falam de pobreza, de divisão racial, por que vocês não colocam isso em um mapa da cidade?". Ao mesmo tempo, a maioria dos departamentos de Arquitetura no mundo não ensina ciências sociais de forma aprofundada. Cada profissional tem uma linguagem diferente, mas estamos lentamente desenvolvendo uma espécie de gramática comum para as cidades.

O projeto da LSE já passou por 11 cidades. Vocês notaram desafios comuns a todas elas?

A desigualdade é um desafio muito grande. Você nota no índice de bem-estar organizado pela LSE que Hong Kong está no topo na área de saúde. Mesmo assim, é um lugar muito desigual. Ao mesmo tempo você tem pessoas vivendo em células de um metro por dois, enquanto os mais ricos têm acesso a grandes áreas. Problemas ambientais e o transporte são outros problemas comuns. Mas tudo ocorre em níveis diferentes. Em São Paulo e Mumbai há sempre muito tráfego. Só que em Mumbai, o transporte coletivo é 95% do tráfego. O uso de carros atinge 1,6% da população e, mesmo assim, eles acabaram de construir uma imensa autoestrada elevada sobre o oceano que conecta partes de Mumbai.

Publicidade

Até que ponto as cidades estão convergindo para um modelo comum?

Há um exemplo ruim, que é a periferalização da pobreza. E você vê em toda parte esse padrão de áreas muito ricas de um lado e comunidades pobres e favelas de outro. Muitas dessas áreas são distantes do centro, ocupadas de forma desorganizada; são só residenciais, não têm empresas com postos de trabalho, estão desconectadas do sistema de transporte. Há, porém, tendências positivas, como o caso dos sistemas municipais de aluguel de bicicletas. Era uma ideia louca há cinco ou dez anos quando o movimento apareceu na Alemanha e na França e, de repente, muitas cidades decidiram ter seus sistemas.