O programa Ciências Sem Fronteiras, aposta da presidente Dilma Rousseff para a formação de pesquisadores, tem atrasado o repasse do dinheiro para bolsistas no exterior. Um estudante brasileiro no Canadá, por exemplo, não recebeu a bolsa referente a dois meses e já teve de pedir dinheiro emprestado. Apesar de confirmar alguns atrasos, o Conselho Nacional de Desen­­volvimento Científico e Tec­­nológico (CNPq), um dos responsáveis pelo programa, diz não saber quantos alunos estão sem receber.

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Estudante do 3º ano de Engenharia no Mackenzie, João Paulo Catanoce, de 26 anos, chegou no dia 12 de fevereiro a Vancouver, no Canadá, para fazer parte de sua graduação na conceituada Universidade da Colúmbia Britânica. Ainda no Brasil, recebeu o suficiente para comprar a passagem, mais uma quantia para plano de saúde, ajuda de custo e auxílio-moradia. Tudo referente ao primeiro mês, o de fevereiro. Dois dias depois de se instalar, encaminhou a prestação de contas dos gastos para e-mail do programa, esperando o crédito referente a março e abril – o que não ocorreu. "É constrangedor passar por isso, ainda mais em um país onde todo mundo paga as contas em dia. Passa uma má impressão do Brasil". A previsão é de que ele receba só em meados de abril.

Empréstimo

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As regras do pagamento das bolsas são claras nesse sentido. O pagamento é trimestral e o benefício dos meses de fevereiro, março e abril deveria ter sido pago em janeiro. "O problema maior é o aluguel, porque para comer eu acabo me virando". Sem o repasse, o estudante atrasou o aluguel por duas semanas. Só depois de pedir dinheiro emprestado ele conseguiu quitar os 800 dólares canadenses da dívida. Quem o ajudou foi um professor do laboratório de mineração em que estuda – fora o gasto com alimentação, ele paga 81 dólares canadenses mensais de transporte. "O professor entendeu e me emprestou. Não sei o que vou fazer se não depositarem logo".

O CNPq confirmou a falha e prometeu fazer o depósito só no dia 15 de abril – com valores referentes a março, abril e três meses seguintes. Até lá, Catanoce não tem ideia de como vai arcar com as contas. "Informei ao CNPq que teria de pagar o aluguel e recebi um e-mail dizendo que o gasto do aluno é problema do aluno". Segundo o CNPq, houve um erro no sistema de registro dos bolsistas, por causa do grande volume de beneficiados. Os outros casos de atrasos teriam o mesmo motivo.

Desconhecido

O estudante diz que a universidade sabe do seu caso e não quer mais aceitar bolsistas do programa. Orientador de Catanoce, o brasileiro Marcello Veiga está há 20 anos no Canadá. "Aqui ninguém sabe o que é o Ciências Sem Fronteiras, portanto, o estudante assiste às aulas clandestinamente". O bolsista demorou um mês para conseguir uma explicação sobre seu caso. Não houve resposta e e-mails ficaram inativos sem aviso. "Pri­meiro ninguém responde, de­­pois ninguém sabe de nada".

Só soube no meio deste mês, após a ajuda de bolsistas de outros países, que o endereço eletrônico que tinha estava desativado. "Nas respostas, parece que dizem: ‘Fique feliz por participar’". Por meio da assessoria de imprensa, o CNPq informou que o programa é novo e "precisa melhorar".

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