Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
EPIDEMIA DE AIDS

Atual modelo de prevenção e combate ao HIV deve ganhar profilaxia “pré-exposição”

Fabio Mesquita fala sobre a profilaxia pós-exposição e sobre os planos de implantar a prevenção “pré-exposição”em 2016 | Gilberto Abelha/Jornal de Londrina/
Fabio Mesquita fala sobre a profilaxia pós-exposição e sobre os planos de implantar a prevenção “pré-exposição”em 2016 (Foto: Gilberto Abelha/Jornal de Londrina/)

O Brasil é exemplo para o mundo no enfrentamento da aids, garantindo na rede pública o tratamento da doença e investindo pesado na prevenção. Com a constatação de que os medicamentos antirretrovirais usados no tratamento dos doentes poderiam ter papel fundamental na prevenção, todos que contraíram o vírus HIV passaram desde 2013 a ser tratados, independentemente de o caso ser sintomático ou assintomático. As estratégias do Ministério da Saúde evoluíram para a Profilaxia Pós-Exposição (PEP), para quem teve problemas, como camisinha rasgada durante o ato sexual ou mesmo foi negligente, que pode iniciar um tratamento para evitar o contágio no prazo máximo de 72 horas e por 28 dias. É a chamada “pílula dos 28 dias seguintes”.

Agora está em estudo e deve ser implantada no ano que vem a Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PrEP), destinada às pessoas que precisam de proteção antes de uma possível exposição ao vírus HIV – os profissionais do sexo, por exemplo.

Há duas semanas, o diretor do departamento de DST, Aids e Hepatites virais, do Ministério da Saúde, Fabio Mesquita, esteve em Londrina, no Norte do Paraná, no 15º Encontro Paranaense de Psicologia. Ele falou sobre sua especialidade, redução de danos à saúde de pessoas que usam drogas, e as estratégias do Brasil no combate e prevenção da aids e outras doenças sexualmente transmissíveis.

Entrevista

Fabio Mesquita, diretor do departamento de DST, Aids e Hepatites virais do Ministério da Saúde

As campanhas de prevenção contra o HIV e contra a aids mantêm o alerta, principalmente para o uso da camisinha?

A aids é uma epidemia que tem 34 anos. No Brasil o primeiro caso é de 1982, nos EUA um ano antes. As pesquisas sobre o comportamento da sociedade nos últimos anos mostram que as pessoas têm relacionamentos sexuais cada vez mais jovens. Têm cada vez mais parceiros eventuais. São 30 anos de campanhas e todo mundo sabe a importância da camisinha, mas as últimas informações, de 2013, mostram que 94% da população sabe que precisa usar camisinha, mas só 55% usam. Isso dá um hiato entre quem precisa usar ou quem deve usar e quem de verdade está usando. Por isso a gente hoje não concentra todas as ações de prevenção só na camisinha. A gente tem outras estratégias que ajudam na prevenção da disseminação da aids.

E quais são essas estratégias?

Os medicamentos antirretrovirais. No final da década de 80 só tinha um, que era o AZT. Depois, em 1996, aparece o coquetel que, em suas diversas composições, vem evoluindo com o passar do tempo. A gente foi aprendendo, e descobrimos isso em 2011, que os medicamentos não tinham efeitos para o indivíduo em tratamento, evitando o comprometimento da imunidade e as infecções. Tinha também o beneficio da prevenção. O que a gente descobriu? Uma pessoa que está sem tratamento tem grande quantidade de vírus circulando nela. Quando inicia o tratamento com os antivirais o vírus se recolhe para reservatórios e para de circular no organismo. Esse vírus para de circular no sangue, para de circular no esperma, na secreção vaginal, para de circular no leite e por causa disso não transmite mais. Então, desde 2013, todas as pessoas que têm o HIV passam a ser tratadas com os medicamentos, independente de estar doente com aids ou não. O objetivo do medicamento passa a ser também de prevenção.

“A gente hoje não concentra todas as ações de prevenção só na camisinha”

Temos outras estratégias de prevenção como para quem eventualmente corre riscos?

Uma pessoa que não tem o HIV usou camisinha e ela estourou na relação. Ou a pessoa sofreu uma violência sexual. Ou mesmo que, por negligência, não usou a camisinha. Todas têm a alternativa de usar preventivamente os medicamentos antirretrovirais depois desta exposição. É o que gente chama de profilaxia pós-exposição. A pessoa se expôs, tem até 72 horas para começar a usar o medicamento depois do acidente. Uma vez que ela começa usar o medicamento, o mais cedo possível e nas primeiras 72 horas, ela tem de usar por 28 dias. É o que a gente carinhosamente tem chamado da pílula dos 28 dias seguintes. Quanto mais cedo, melhor, mas às vezes demora para chegar na unidade de saúde para pegar o remédio e começar a tomar. Essa é a Profilaxia Pós-Exposição (PEP).

Mas agora teremos a profilaxia pré-exposição ao HIV?

Mais recentemente apareceu uma nova técnica de prevenção, a Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PrEP). Para que as pessoas possam se proteger antes de uma possível exposição. Por exemplo, um profissional do sexo masculino, um travesti. Uma menina profissional do sexo, que tem relação sexual todos os dias, com vários parceiros, que usa a camisinha, mas esta explode ou outro problema. Eles podem tomar os medicamentos antes da exposição. Isso vai proteger a pessoas. Isso a gente chama de prevenção combinada, várias ações que permitem a prevenção.

“Todos têm a alternativa de usar preventivamente os medicamentos antirretrovirais depois da exposição”

Esses medicamentos estão à disposição da população?

Os medicamentos de prevenção pós-exposição, PEP, estão à disposição desde 2013. O pré-exposição, PrEP, está em estudo e estará à disposição no início de 2016. Embora a gente saiba que o PrEP funciona, os estudos visam entender se a nossa população aceita tomar medicamento sem estar doente, vai tomar como prevenção. E, segundo, se esses estudos, que mostraram que o PrEP funciona, mais herméticos, feitos nas universidades com o cara que até recebe uma remuneração para voltar para o estudo, se isso funciona numa unidade do SUS (Sistema Único da Saúde) no dia a dia. A perspectiva é transformar isso numa política pública e incorporar esses medicamentos para prevenção pré-exposição provavelmente a partir de 2016.

As “pílulas dos 28 dias seguintes” estão à disposição em algumas unidades especiais?

Em todas as cidade do Brasil, não na totalidade dos 5 mil municípios, mas boa parte deles, principalmente nas maiores cidades, sempre em algumas unidades que são específicas. Normalmente os sites das secretarias de Saúde, estaduais e municipais, orientam onde buscar o medicamento. Estamos desenvolvendo um aplicativo de orientação para o início do ano que vem. A pessoa que está viajando, por exemplo, para Manaus, que não conhece [os locais de entrega do medicamento]. Ela tem um “acidente”, vai ao aplicativo que vai dizer onde buscar o medicamento em Manaus.

Prevenção do HIV em Londrina

Na cidade do Norte do Paraná, as profilaxias para prevenção da aids estão à disposição no Centro de Referência Dr. Bruno Piancastelli Filho. O Centro Integrado de Doenças Infecciosas (Cidi), composto por serviços de ações de prevenção e assistência à epidemia das DSTs, HIV/aids, Hepatites Virais e Tuberculose, funciona na Alameda Manoel Ribas, 1, telefone (43) 3379-0144. O funcionamento vai das 7 às 16 horas. Após esse horário e nos fins de semana, o Hospital Estadual Anísio de Figueiredo (Zona Norte), é o centro encarregado de atender aos eventuais “acidentes sexuais”, que exigem pressa no início de tratamento e da profilaxia pós-exposição ao HIV. O Hospital da Zona Norte fica na Rua Odilon Braga, 199, Conjunto Sebastião de Melo Cesar, telefone (43) 3376-4600.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.