Maringá – Eles trabalham investigando quadrilhas e fiscalizando depósitos e cargas com produtos contrabandeados. O serviço em nome da União para garantir a legalidade é feito sob riscos e vários tipos de ameaças que colocam a integridade física dos auditores fiscais em exposição – é quase uma profissão-perigo. "Tivemos uma mudança no perfil do nosso trabalho", avalia a diretora de Defesa Profissional do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Unafisco), Nory Celeste Sais de Ferreira. "Antes víamos na aduana se a pessoa estourava a cota de compra. Hoje, enfrentamos o crime organizado", explica.

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Nory aponta que esta mudança chegou ao Brasil no início dos anos 1990 com o governo Fernando Collor de Mello – conseqüência da globalização e da abertura das fronteiras que se espalhou pelo mundo na década de 1980. Isso fez com que os auditores atuassem contra a lavagem de dinheiro, tráfico de drogas e outras atividades com a sofisticação do crime. "Antes, o bandido era pé-de-chinelo. Hoje está no comércio de luxo", compara Nory.

Entre os servidores que já foram ameaçados está um auditor fiscal aposentado que trabalhou 11 anos na Receita Federal e prefere não se identificar. Ele lembra que já correu risco de morte quando investigava uma empresa transportadora em Maringá, no fim da década de 1980. "Estávamos conferindo os papéis no depósito quando começamos a passar mal", narra o auditor de 60 anos. "Encaminhamos alguns documentos para a perícia, que confirmou que havia veneno nos papéis", conta. A iniciativa, segundo o aposentado, era para evitar que fossem descobertas irregularidades na empresa. O caso foi parar na Justiça, com a União vencendo e os responsáveis punidos.

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O mesmo auditor também já sofreu ameaça de morte ao fazer outro trabalho como inspetor em Mundo Novo (MS), onde era constante a pressão, com ameaças e até tiros para assustar os fiscais. "Ninguém garante a vida da gente. O bandido sabe quem você é, mas você não sabe quem é o bandido", avalia.

Um exemplo recente é o do auditor fiscal José Lauro da Silva, 54 anos. Ele foi seqüestrado em agosto e passou 13 dias em dois cativeiros em Campinas (SP), até ser libertado pela polícia. Lauro trabalha há 22 anos na alfândega do Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas, e diz viver sob intensa e constante pressão para liberar cargas com grande quantidade de produtos e de altos valores.

Mortes

Nem todos têm a sorte de saírem vivos em alguma situação de risco. O auditor José Antônio Sevilha de Souza, 45 anos, foi assassinado em Maringá, em setembro. Ele investigava três empresas com suspeitas de importações ilegais em Maringá. Até agora, a polícia prendeu dois detetives particulares com suspeitas de ligação com o crime, ainda não solucionado. Esse foi o quinto assassinato de auditor nos últimos quatro anos.

Os auditores lamentam que, apesar de ter o direito a porte de arma, precisam pagar do próprio bolso os treinamentos e a compra de um revólver. Como nem sempre o salário permite gastos extras, muitos deixam de garantir sua segurança com uma arma.

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