A repetição de problemas nos relatórios de auditoria da Barragem do Fundão, em Mariana (MG), produzidos nos últimos três anos, mostra que a Samarco não atendia de forma satisfatória às recomendações para garantir a estabilidade da estrutura de rejeitos. Produzidos pela empresa de consultoria Vogbr, os relatórios listam recomendações que deveriam ter sido seguidas como condicionantes para validação da certificação de segurança, a partir de 2013. Porém as falhas persistiram , elevando o risco de problemas no local.
Os relatórios citam problemas como canaletas trincadas, falhas nos canos de escoamento interno de água e no sistema de drenagem superficial, que visavam evitar a liquefação da estrutura da barragem. A soma dessas falhas pode ter contribuído para a maior tragédia ambiental do país, na avaliação de especialistas que conheceram os dados obtidos pelo jornal O Globo.
A legislação obriga a Samarco a apresentar anualmente aos órgãos ambientais de Minas relatório de auditoria produzido por especialista em segurança de barragens externo aos quadros da empresa. O rompimento no último dia 5 da barragem da mineradora, que pertence à Vale e à anglo-australiana BHP Billiton, deixou 13 mortos e oito pessoas desaparecidas e causou um tsunami de lama até o litoral do Espírito Santo.
O escoamento correto da água nos rejeitos é uma das principais preocupações em barragens como a da Samarco, já que o seu excesso eleva o risco de a estrutura se liquefazer. Relatórios de 2013, 2014 e 2015 apontaram problemas no sistema interno de drenagem, em especial nos canos que ligavam o centro da barragem ao exterior. Há registro de áreas saturadas, erodidas e até surgimento de nascentes na estrutura.
“Esse é um problema que não poderia ter deixado de ser atacado. Pelas informações que temos até agora, é praticamente certo que a questão da drenagem interna afetou a barragem”, disse Eduardo Marques, geólogo da Universidade Federal de Viçosa (MG) e especialista em mineração.
Marques também cita outro problema grave, citado nos dois últimos relatórios: a repetição da necessidade de realizar ensaio de compacidade, isto é, verificar se a estrutura comporta o peso dos rejeitos, permite a expulsão da água e o compacta como previsto.
A Samarco não respondeu porque deixou de corrigir os problemas apontados em 2013, para evitar que eles se repetissem em 2014 e 2015. Não quis informar o resultado dos testes de compacidade solicitados nas auditorias. Em nota, informou que a barragem estava em condições de segurança e que a empresa “realiza inspeções próprias” e conta com equipe para manutenção e identificação de anormalidades.
Um laudo técnico preliminar do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) aponta que 1.469 hectares de vegetação, ao longo de 77 quilômetros de cursos d’água, inclusive em áreas de preservação permanente. O documento, com data de 26 de novembro, abrange áreas afetadas em Minas Gerais e no Espírito Santo e indica que a execução das medidas de reparação de danos, quando viáveis, durará pelo menos dez anos.
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