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Trânsito

Aumenta 9% em um ano as mortes de motociclistas no Brasil

Aumir quebrou a perna em três partes e ficará 6 meses sem trabalhar após acidente de moto | Giulliano Gomes/ Gazeta do Povo
Aumir quebrou a perna em três partes e ficará 6 meses sem trabalhar após acidente de moto (Foto: Giulliano Gomes/ Gazeta do Povo)

Não foi por presa nem falta de experiência ou cautela que Aumir Cesar Barbosa, 44 anos, motofretista há 25, sofreu o acidente que o deixou afastado do trabalho desde o fim de março. "Eu estava na Rua Abel Scuiciato, em Colombo, quando um carro que estava a minha frente fez um movimento brusco pra direita, e quando ele saiu da minha frente, outro carro me acertou de lado", lembra. De molho até setembro com a perna quebrada em três lugares, Barbosa é um sobrevivente. A profissão dele tem um dos maiores índices de letalidade no trânsito brasileiro.

O Brasil teve 12.480 motociclistas mortos em 2012, segundo dados recém-­divulgados do Ministério da Saúde. O aumento é de 9,1% em relação a 2011. Na comparação dos últimos dez anos, as mortes de condutores de motos mais do que dobrou. Em 2002, haviam morrido 3.744 motociclistas.

De acordo com o Banco Mundial e com a Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2013 o Brasil apresentava uma motocicleta para cada 9,3 habitantes, um número menor de veículos comparado a outros países, como Itália (6,4) e Tailândia (4,1). Mesmo assim, apresenta o alto número de 7 mortes em acidente de motos para cada 100 mil habitantes.

É a segunda maior taxa de óbitos do mundo, atrás apenas do Paraguai, com 7,5. Tailândia e Itália apresentam taxas bem menores: 4,6 e 0,9, respectivamente. O aumento da frota, o preço baixo das motos e a alta demanda por entregas nas cidades são alguns dos fatores que contribuem para essas estatísticas.

De acordo com a seguradora líder-DPVAT, no primeiro trimestre de 2014 foram indenizados mais de 70 mil segurados em todo o Brasil, entre casos de morte ou invalidez, 92% envolveram motocicletas. Os números referem-se a indenizações pagas no trimestre -- os acidentes podem ter ocorrido em até três anos antes.

O número absoluto de indenizações de moto (64,5 mil) dividido pelos 90 dias do trimestre resulta em 717 acidentes de moto indenizados por dia, dos quais 33 acabaram em óbito. O número cresceu consideravelmente em relação aos dados de seis anos atrás. Em 2008, foram 16 mil acidentes pagos no primeiro trimestre, dos quais 64% (ou 10,8 mil) envolveram motocicletas. Nesse caso, o número de acidentes pagos por dia cai para 120.

Comparada com capitais como Rio de Janeiro e São Paulo, Curitiba tem proporcionalmente mais acidentes fatais com motos. Dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, apontam que em 2011 Rio e São Paulo tiveram, nessa ordem, 0,9 e 0,4 motociclistas mortos para cada 100 mil habitantes, enquanto Curitiba apresentou a taxa de 3,7 óbitos para a mesma proporção. Entre as mortes no trânsito, aquelas causadas por moto aumentaram proporcionalmente em Curitiba, de 8,5%, em 2000, para 26,5% em 2011.

Adversidades, a rotina dos motoboys

Casos como o de Aumir César Barbosa são frequentes entre os motoboys. "Tenho vários colegas de trabalho que já sofreram algum tipo de lesão. A verdade é que ficou muito fácil obter uma moto, e a rapaziada nova quer antes de tudo uma moto porque gosta da sensação de liberdade, mas não conhece bem as ruas", opina. Além disso, muitas empresas de motofrete exigem um prazo de tempo muitas vezes insuficiente para as entregas, o que por vezes obriga o condutor a tomar atitudes imprudentes no trânsito.

Essa é a análise do Secretário Geral e presidente interino do Sindicato dos Motofretistas de Curitiba (Sintramotos), Edmilson da Mata. "Há três anos, um trajeto que hoje você faz em 45 minutos demorava meia hora para ser feito", comenta. Ele também se queixa da dinâmica pouco compreendida por parte dos empregadores e motoristas com os motoboys. "Quem utiliza nossa mão de obra precisa ter consciência de que o motociclista está sobre duas rodas. Se uma pizzaria promete uma pizza em tantos minutos, mas atrasa pra fazer, quem precisa tirar esse atraso do tempo é o motoboy. Nós orientamos a eles não aceitarem esse tipo de demanda", afirma.

A ilusão da taxa

Para Edmilson da Mata, uma melhora nas condições do trânsito passa por uma melhor remuneração do profissional também. "Em 75% das contratações, o motoboy ganha por produção, uma taxa, geralmente de 60%, sobre a taxa da entrega. Isso faz com que ele queira trabalhar mais para ganhar mais, mas isso é uma ilusão também, porque ele se expõe a mais riscos e acaba gastando mais dinheiro em gasolina e na manutenção da moto". O piso para motofretista em Curitiba é de R$ 1 mil, mas recentemente o governo federal aprovou um adicional de risco de 30% para a categoria no Brasil.

Outras ações também podem ajudar, segundo Barbosa, como o curso de EAR (Exerce Atividade Remunerada) e o curso sobre segurança oferecido pelo próprio Sintramotos. O Observatório Nacional de Segurança Viária desenvolveu também um programa de ensino a distância chamado "Motociclista Atitude Positiva", em que, por meio de vídeos, dá aos condutores dicas de segurança para situações de risco nas ruas.

Interatividade

O que poderia ser feito para reduzir o número de acidentes com motos nas grandes cidades? Deixe seu comentário abaixo e participe do debate.

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