Dezenas de pessoas ligaram nesta quarta-feira para o Grupo Dignidade, Organização Não Governamental que representa gays, lésbicas, bissexuais e transexuais (GLBT), denunciando maus-tratos, agressões e ofensas sofridas em Curitiba. As denúncias ocorreram após a reportagem do Paraná TV e Gazeta do Povo Online, mostrando que na terça, foram espalhados adesivos com as frases "Homossexuais afrontam a natureza" e "Homossexuais molestam crianças". Havia também um desenho que mostrava um bonequinho jogando a sigla GLS (gays, lésbicas e simpatizantes) em uma lata de lixo.
O número surpreendeu aos diretores do Dignidade. "O medo de toda a comunidade continua sendo em relação às agressões que sempre podem acontecer. A repercussão da matéria foi impressionante. Normalmente, recebemos apenas duas ou três ligações. Hoje foram mais de 30 pessoas que criaram coragem de falar", disse Igo Martini, diretor do Grupo Dignidade.
Um grupo denominado Frente Anti-caos colou vários adesivos pela cidade com teor preconceituoso e homofóbico. De acordo com a advogada do Dignidade, Silene Hirata, muito pouco pode ser feito juridicamente. "Infelizmente, não temos uma legislação que proteja a comunidade GLBT. Os negros podem denunciar racismo, mas nós somos carentes de proteção do estado", disse. Além disso, pessoas que são agredidas por suas opções sexuais não encontram apoio da Polícia. "Todos têm medo de ir a uma delegacia e serem agredidos por policiais preconceituosos", disse Martini.
Nos adesivos havia uma frase e um e-mail de contato. O departamento jurídico do Dignidade tentou enviar uma mensagem para o endereço eletrônico, mas o e-mail é inexistente. "A única coisa que poderíamos fazer era entrar com uma ação coletiva contra o proprietário do e-mail. Assim a polícia poderia identificar o autor da conta de correio eletrônico e tomar as providências legais. Mas isso é muito difícil de acontecer, pois o e-mail sequer existe", disse Silene.
Sem poder fazer nada juridicamente, o Grupo Dignidade apela para campanhas de conscientização. "Já estamos com os textos prontos. Vamos fazer uma campanha para orientar os membros da comunidade GLBT de Curitiba sobre como eles devem se proteger das acusações", disse Martini. Além da campanha informativa, os membros do grupo tentam marcar uma reunião com representantes do governo. "Queremos uma audiência com o governador Roberto Requião e o secretário de segurança, Luiz Fernando Delazari. Vamos pedir mais policiamento nos locais em que somos mais agredidos: alameda Dr. Muricy, ruas XV e 24 Horas", concluiu Martini.
Denúncia
O Ministério Público Federal (MPF) recebeu nesta quarta-feira a denúncia do Instituto Brasil e África (Ibaf) sobre as manifestações racistas espalhadas pelo centro de Curitiba, em forma de adesivos. O procurador João Vicente Beraldo Romão assumiu o caso e solicitou ao departamento de informática do MP que pesquisasse na internet sites e comunidades relacionadas ao movimento denominado "Orgulho Branco".
Nesta terça-feira o ParanáTV denunciou que vários adesivos foram colados em placas e postes pregando a segregação racial. O presidente do Ibaf, Saul da Silva, explicou o procedimento do instituto. "Protocolamos na manhã desta quarta-feira a denúncia e já foram iniciadas as investigações. Na seqüência, o processo deve passar para a Polícia Federal para que o inquérito leve as autoridades aos culpados", disse.
No final da manhã, Silva foi a um encontro com o presidente da Assembléia Legislativa do Paraná entregar nas mãos do presidente da casa, Hermas Brandão, um projeto chamado S.O.S Racismo. "O presidente nos garantiu que o projeto deve ser votado, e aprovado, no prazo de 30 dias. O S.O.S Racismo será um órgão vinculado ao Ministério Público Estadual e que vai ser a nossa ouvidoria contra o preconceito racial", afirma Saul.
Sensibilizado pela falta de meios legais que protejam os homossexuais, também discriminados, por manifestações homofóbicas, o presidente do Ibaf convida: "Queremos que os representantes dos grupos GLBT que participem dessa idéia. O SOS Racismo será um órgão que acolherá todos os discriminados de Curitiba".
Na internet
Na rede mundial de computadores existem vários sites e comunidades de relacionamentos (orkut) que tratam de assuntos sobre a guerra racial e a homofobia. Numa busca rápida, foram encontradas oito comunidades como tema principal o "Orgulho Branco" e várias outras com os inúmeros sinônimos preconceituosos usados para designar um homossexual.
Diversas pessoas promovem discussões sobre o chamado "Orgulho Branco". Tópicos pregam a predominância da 'raça ariana' como uma raça pura. Os integrantes são normalmente contra a miscigenação e a integração racial. Outros, mais radicais, pregam o extermínio de negros, asiáticos, judeus, homossexuais, entre outros.
Também existem pessoas que falam simplesmente do orgulho em ser branco, assim como os negros se orgulham da sua raça. Ou então, que têm ódio de pessoas que não compactuam com as preferências sexuais 'tradicionais'. Os discursos, normalmente, são travestidos de preconceito e discriminação.
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
A gestão pública, um pouco menos engessada
Projeto petista para criminalizar “fake news” é similar à Lei de Imprensa da ditadura
Soraya Thronicke quer regulamentação do cigarro eletrônico; Girão e Malta criticam
Relator defende reforma do Código Civil em temas de família e propriedade
Dia das Mães foi criado em homenagem a mulher que lutou contra a mortalidade infantil; conheça a origem
Rotina de mães que permanecem em casa com seus filhos é igualmente desafiadora