Nos primeiros quatro meses do ano, 38 pessoas foram atropeladas por ônibus em Curitiba. O número é 90% maior em relação ao mesmo período do ano passado, quando 20 pessoas foram atropeladas por coletivos, segundo informações do Batalhão de Policiamento de Trânsito (BPTran). O total de colisões envolvendo ônibus nos quatro primeiros meses do ano também aumentou: foram 40% mais acidentes do que no quadrimestre inicial de 2005.
Para o advogado e professor de Direito no Trânsito do Centro Universitário Positivo (UnicenP), Marcelo Araújo, os dados são preocupantes à medida que a frota curitibana cresce a uma média de 7% ao ano, de acordo com o próprio BPTran. "Isso significa que aumentou o perigo e a violência no trânsito", comenta.
Nas estatísticas repassadas pelo Batalhão de Trânsito entram infrações com ônibus e microônibus, de linha regular ou não. A prefeitura de Curitiba, por meio da Urbs (empresa que administra o transporte coletivo), tem seu próprio controle para os acidentes de trânsito que envolvem ônibus das linhas do transporte público na cidade. Pelas estatísticas da Urbs, houve redução no número total de atropelamentos em Curitiba entre janeiro e abril de 2006 em comparação ao ano passado. No entanto, os dados mostram que a gravidade dos acidentes foi maior. No primeiro quadrimestre de 2005, não houve nenhuma morte relacionada a acidentes com ônibus de linha. Em 2006, quatro pessoas já morreram atropeladas por ônibus do transporte coletivo.
Urbs e BPTran informam que têm procurado dar aos motoristas a capacitação necessária para garantir um transporte público eficiente. "São 50 horas de formação para o motorista iniciar na direção e outras 16 horas de atualização a cada cinco anos. Eles aprendem legislação de trânsito, direção defensiva, primeiros socorros e convívio social", explica o gerente de fiscalização de Transporte Público da Urbs, Édson Berleze.
Para o advogado Marcelo Araújo, a responsabilidade pelo aumento no número de infrações não é apenas dos motoristas. "Talvez seja hora da prefeitura repensar sua política de trânsito. É de se questionar a utilidade dos radares e lombadas eletrônicas por exemplo. O motorista que conhece aquele trajeto reduz a velocidade perto do radar, mas acelera depois para compensar. Motoristas de táxi e de ônibus fazem muito isso", ressalta.
Por seu lado, os motoristas se defendem. Segundo Pedro (nome fictício), o trânsito da cidade cresceu muito, mas o tamanho das vias continua o mesmo. "Horário de pico é uma briga por espaço. A gente disputa com carro, motoqueiro, ciclista e pedestre que atravessa fora da faixa." Para Pedro, apenas os cursos para motoristas de ônibus não são suficientes para evitar acidentes. "A conscientização tem de ocorrer também para os pedestres, ciclistas e outros motoristas. Não adianta a gente tentar fazer tudo certo em meio a uma guerra."
Atualmente na linha Colombo-CIC, Pedro diz que em 25 anos como motorista já presenciou diversos acidentes, mas afirma ter tido apenas duas advertências na empresa. Ele, porém, não deixa de apontar imprudências de alguns colegas. "Tem gente que faz errado sim e não dá para esconder. Motorista que embala para pegar o verde aberto, que não dá sinal e que tranca o cruzamento. Mas é uma minoria", salienta.
Para o advogado Marcelo Araújo, a redução dos acidentes pode ser alcançada. "Mas para isso é essencial que tenhamos um controle mais rigoroso sobre as estatísticas de trânsito. Hoje o Detran trabalha com um número, o BPTran com outro e a Urbs com um diferente. Assim não conseguimos nem dimensionar os dados."