Foi-se o tempo em que morar na praia era sinônimo de sossego. Até o mês de agosto deste ano, 49 pessoas foram assassinadas no Litoral do Paraná, número 32% maior do que no mesmo período de 2011, de acordo com o relatório da Coordenadoria de Análise e Planejamento Estratégico da Secretaria de Estado de Segurança Pública do Paraná.
Em Matinhos, o total de homicídios dolosos, aquele em que há a intenção de matar, aumentou 150%. Foram 10 mortes registradas até agosto contra quatro no mesmo período em 2011. Em Guaratuba 12 pessoas foram assassinadas em 2012, contra sete no mesmo período do ano passado.
Além dos homicídios, o Litoral do Paraná registrou até agosto deste ano quase 5 mil boletins de ocorrência de furtos e roubos. Porém, este número pode ser ainda maior, porque nem todos os delitos, como pequenos furtos a casas de praia, são comunicados à polícia. A maioria dos casos ocorre fora da temporada, quando não há reforço policial para inibir a criminalidade.
Em Matinhos o número de assaltos (quando há abordagem à vítima) cresceu 76% este ano. Foram 171 roubos de janeiro a agosto de 2012 contra 97 no mesmo período do ano passado. O município de Guaratuba também teve a taxa de roubos elevada: foram registrados 76 roubos de janeiro a agosto de 2011 e neste ano o total foi de 110 ocorrências.
Causas
A Secretaria de Estado de Segurança Pública informa, por meio de nota da assessoria de imprensa, que o aumento da criminalidade no litoral é um fato que já foi apontado no seu último relatório de crimes trimestral, divulgado no mês de agosto. "A migração do crime está sendo analisada, chamou a atenção do secretário Cid Vasques e há uma orientação para que haja o combate o que, em breve, fará surtir efeitos positivos", afirma a nota.
Para o professor da UFPR Litoral, Marcos Signorelli, que defende uma tese de doutorado sobre violência, o descaso do poder público é um dos principais fatores para o aumento da criminalidade na região. "O Litoral do estado tem sessenta dias de temporada com ótimas condições de policiamento. No restante do ano, o Litoral é abandonado pelas autoridades", diz.
O professor diz que exemplos claros do abando do Litoral na questão de segurança pública foram as recorrentes mortes de mulheres nas praias. Ele fez referência às mortes de Telma Fontoura e Laura Joice. "O governo estadual deveria ajudar mais, pois o Litoral está cada vez mais violento", disse.
Furtos de casas têm até pausa para lanche
Fora da temporada de verão, as casas de praia, aquelas usadas apenas nos fins de semana ou na temporada de verão, são alvos fáceis de pequenos furtos, que muitas vezes nem são registrados em boletins de ocorrência. A Gazeta do Povo esteve em Matinhos e apurou que em apenas um quarteirão, próximo ao Corpo de Bombeiros da cidade, sete casas foram arrombadas em menos de uma semana.
Em um dos casos, os assaltantes se passaram por pedreiros. Eles ficaram a tarde toda no terreno vizinho, quebrando a parede da casa, para poder levar alguns utensílios domésticos. Os vizinhos viram, mas pensaram se tratar de uma reforma. "Achamos que eles eram contratados do proprietário da residência que mora em Curitiba. Eles fizeram até lanche no meio do assalto", diz um dos moradores da região, que pediu para não ser identificado.
Lojistas em alerta contra o crime
A reportagem da Gazeta do Povo esteve em Matinhos e apurou que os comerciantes da cidade estão em alerta contra o crime. A maioria das lojas procuradas já foi assaltada neste ano. Para evitar a visita de ladrões, o comerciante Rômulo Zoch decidiu dormir dentro da própria loja após ter sido assaltado sete vezes em 2012. "Em um dia tinha assalto e no outro também". Ele conta que pagava R$ 700 por mês para uma empresa de alarme monitorado, porém os assaltos eram recorrentes. "Depois de sete assaltos, resolvi tirar o alarme, e na noite que o alarme foi retirado, a loja foi novamente arrombada", afirma.
Em Matinhos, a Farmácia Hiperfarma (foto) também está na lista das mais visitadas por bandidos. O estabelecimento foi assaltado três vezes neste ano. No último caso, que ocorreu no dia 9 de setembro, houve troca de tiros. Um assaltante foi morto e um policial à paisana que estava na loja foi baleado. Para diminuir o risco de assaltos, a farmácia, que atende 24 horas, passou a fazer o atendimento a partir da meia-noite por meio de uma pequena janela.