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Depois de décadas em uso nas lavouras de soja, as bactérias fixadoras de nitrogênio estão prestes a ocupar novos campos. Uma equipe da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em associação com outras instituições, conseguiu o seqüenciamento do genoma de uma certa espécie de bactéria e espera que, no ano que vem, ela já possa ser usada nas plantações de milho e trigo.

O professor Fábio Pedrosa coordena o Projeto Genoma do Paraná, com pesquisadores da UFPR, de quatro das cinco universidades estaduais paranaenses e instituições como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). "Seqüenciar os genes de uma bactéria é importante para sabermos o que cada um deles faz", explica o professor Emanuel Maltempi, também da UFPR. A fixação de nitrogênio é o processo pelo qual uma bactéria pega o nitrogênio do ar e o transforma em amônia, necessária para o crescimento da planta. Até a descoberta das bactérias, a amônia vinha dos fertilizantes. O Brasil se tornou líder mundial no uso desses microorganismos, que economizam US$ 3 bilhões por ano aos produtores de soja.

Pedrosa, Maltempi e seus colegas estão de olho em duas bactérias, a Herbaspirillum seropedicae (que teve seu genoma seqüenciado) e a Azospirillum brasilense. "As espécies como um todo funcionam como fixadoras de nitrogênio, mas existem cepas, que são como raças da bactéria, que se adaptam melhor a cada lavoura", explica Maltempi. O trabalho é identificar e isolar essas cepas e descobrir com que plantação elas se encaixam melhor. "Isso depende muito da interação entre solo, planta, bactéria e clima. Apesar do uso de bactérias na soja já estar estabelecido, ainda estudamos essa relação, para melhorar sua eficiência e permitir o uso em novos solos, que hoje são hostis à bactéria", diz Pedrosa.

O uso das bactérias, ressalta Pedrosa, é uma tecnologia ambientalmente limpa. "Economiza petróleo e evita o desperdício de nitrogênio que ocorre com os fertilizantes. O excesso acaba ou po-lu-indo rios ou virando gases de efeito estufa", diz. As bactérias, pelo contrário, não causam efeitos colaterais nem nas plantas.

As experiências são realizadas nos sítios experimentais da Embrapa, em Londrina e Ponta Grossa e no Mato Grosso. "Depois de quatro anos, observamos melhoria de até 30% na produção de milho e 11% na de trigo", conta a pesquisadora Mariângela Hungria, da Embrapa. Ela explica que, ao contrário da bactéria da soja, que dispensa completamente o uso de fertilizante nitrogenado, a Azospirillum brasilense atua mais como promotora de crescimento que como fixadora de nitrogênio, e assim ela será comercializada. "A bactéria também provocou aumento de potássio e fósforo, e estimulou as raízes, aumentando a absorção de nutrientes. Ela fixa nitrogênio, embora não tanto como se esperava. Ainda assim, o uso de fertilizante deve cair pela metade", diz. Um fórum ligado ao Ministério da Agricultura já aprovou o uso comercial da bactéria, mas ainda falta o registro no ministério. "Temos questões de propriedade intelectual para resolver antes", justifica Mariângela.

A equipe de Pedrosa tem hoje cerca de 60 pessoas, dez delas professores da UFPR. As pesquisas com fixação de nitrogênio já renderam 36 trabalhos publicados em revistas de porte internacional nos últimos cinco anos. Além disso, o Paraná foi escolhido para ser sede do 12.º Congresso Internacional sobre Fixação de Nitrogênio, realizado em 1999 em Foz do Iguaçu. "Desde o congresso anterior, sempre somos chamados para comentar o que temos feito", diz Maltempi.

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