O surto da chamada superbactéria KPC (klebsiella produtora de carbapenemase), que infectou cerca de 180 pessoas e pode ter levado 18 a óbito no Distrito Federal, já virou um alerta aos profissionais da saúde. Isso porque a bactéria que passou a habitar os hospitais só é eliminada com três tipos de antibióticos e o pior é que o uso constante dos três medicamentos pode tornar o micro-organismo ainda mais resistente. No Paraná, 21 casos foram confirmados em Londrina e três em Curitiba ainda não há registros de óbitos.
A dificuldade no tratamento levou as autoridades a intensificar as medidas já existentes para o controle da infecção, como a higienização criteriosa das mãos principalmente por parte dos profissionais da saúde. A Secretaria do Estado da Saúde do Paraná (Sesa) se diz preocupada com um eventual crescimento no número de casos e também estuda intensificar o controle da infecção. A ideia, de acordo com a coordenadora do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs) do Paraná, Ângela Maron, é treinar o Laboratório Central para o estudo das bactérias multirresistentes, além de tornar obrigatória a notificação de casos. "Queremos colocar em prática no início de novembro. Não podemos esperar."
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) também está organizada para instituir novas ações em todo o país. Segundo o gerente-geral de Tecnologia em Serviços de Saúde da Anvisa, Heder Murari Borba, uma reunião será realizada no próximo dia 22 para a discussão de um Plano Nacional de Microagentes Multirresistentes. "Essa ação vai debater não só o combate para a KPC, mas de outras bactérias existentes
O principal problema do surto é a pouca opção de tratamento: uma mutação genética tornou a KPC mais resistente, restringindo o acesso ao antibiótico mais usado para esses casos, os carbapenêmicos. "A enzima, chamada carbapenemase, faz a quebra desses antibióticos", explica a infectologista e chefe do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Nossa Senhora das Graças (HNSG), Viviane Maria de Carvalho Hessel Dias.
Sintomas
A pessoa infectada pode desenvolver pneumonia, infecção urinária ou na corrente sanguínea. "Algumas são apenas colonizadas, o que não gera problemas. As infecções costumam ocorrer em pacientes com baixa imunidade e acometidos por doenças graves", diz a chefe do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Marta Fragoso.
Borba afirma que três classes de antibióticos estão sendo usadas para infecções com a KPC: poliximina B, colistina e tigeciclina. "Porém, existem relatos de resistência para a colistina e esses novos casos geram a escassez de opções no tratamento, algo que preocupa órgãos reguladores no mundo todo."
A resistência está diretamente relacionada com o uso incorreto de antibióticos. "Elas (bactérias) criam mecanismos de defesa e fazem troca de material genético. Então, ficaram mais especializadas em quebrar as substâncias dos antibióticos. Cada vez que se utiliza antibiótico de amplo espectro, mais as bactérias vão adquirindo mecanismos para se defender", explica Viviane. Por isso o uso indiscriminado do antibiótico deve ser combatido.
Infecções
Necessidade de equipamentos como sonda urinária, cateter ou ventilação mecânica facilita a contaminação, pois pode levar a bactéria para um sítio de infecção mais rápido.
O ideal, de acordo com a infectologista Viviane, seria usar antibióticos mais direcionados para um tipo específico de problema, evitando assim mutações e resistência. O protocolo, porém, é difícil em pacientes internados em UTIs. "Como muitas vezes não se sabe ao certo o que o paciente tem, acaba se dando um tiro de canhão para combater uma infecção, quando precisava ser de revólver".
Segundo o presidente da Sociedade Paranaense de Infectologia, Alceu Pacheco, é preciso criar uma cultura de controle de infecção hospitalar eficiente no país ."Tem de se realizar a coleta do material para ver se a pessoa já está colonizada. O isolamento do paciente é imprescindível até a resolução do caso." Por enquanto, a Anvisa ainda não sabe se os casos no Distrito Federal foram importados e o estudo epidemiológico será realizado posteriormente.