"Efeito Boqueirão". É assim que o presidente da Urbs, Paulo Afonso Schmidt, chama a tendência de muitos bairros desenvolverem comércio e setor de serviços próprios, diminuindo a necessidade de trânsito da população para outras regiões da cidade. O fenômeno pode ser notado em diversas áreas de Curitiba, como Tatuquara, Sítio Cercado e Bairro Novo. A exemplo do Boqueirão com seus 70 mil habitantes e tão independente que já chegou a abrigar um movimento separatista outros bairros podem estar entrando na idade adulta.
O sistema de transporte urbano reflete imediatamente essas mudanças. "Muita gente deixa de precisar de ônibus para ir à escola ou ao trabalho", diz Schmidt, chamando atenção para o fato de que a saturação do sistema de transporte fato admitido pelo Ippuc em diversas ocasiões nem sempre é o fim do mundo. "Pegar ônibus pode deixar de ser um fator restritivo em alguns lugares", diz.
Além das mudanças de perfil dos bairros diminuindo o número de usuários de tempos em tempos a direção da Urbs chama atenção para o efeito Linha Verde sobre o sistema de transporte. Raras intervenções urbanas vieram cercadas de tantas expectativas mais até do que o metrô , apesar de o assunto ainda não ter empolgado a população.
Além de virar do avesso uma região degradada da cidade, em sua primeira fase a linha deve desafogar a rota Pinheirinho Santa Cândida em até 30%, graças à conexão com o Boqueirão. Esse "descarrego" é um exemplo típico de usuário que não tem o Centro como destino. A perspectiva é baixar dos 260 mil usuários por dia da NorteSul para 200 mil. "É uma baita redução", empolga-se Schmidt.
A primeira etapa da Linha Verde, atualmente em obras, terá 9,4 quilômetros de extensão e vai do Terminal do Pinheirinho às redondezas do Jardim Botânico. A previsão é de que transporte diariamente 30 mil pessoas, mas a grande avenida teria potencial para 150 mil passageiros. Em outros pontos da cidade presume-se a carga pesada de NorteSul também encontra um ombro amigo. O Ligeirão, projeto ainda em implantação, vai reduzir um trajeto de 33 minutos, no Boqueirão, para 18 minutos.
Para quem faz a conta, pensar no metrô é mesmo uma tentação. Os 14,3 quilômetros que separam os terminais do Pinheirinho e do Cabral, por baixo da terra, a 60 ou 80 quilômetros por hora, seriam percorridos em cinco minutos. A capacidade seria de 50 mil passageiros por hora. Uma hora é exatamente o que se gasta hoje para fazer todo esse percurso. O mesmo que é preciso para ir de Curitiba a Paranaguá. Noves fora fica-se pensando se vai ter gente para tanto. Por incrível que pareça, é o que povo se pergunta. (JCF)