A estagnação da economia está forçando muitas varejistas do Paraná a reduzir investimentos e cortar custos para enfrentar o momento ruim sem promover demissões. A pretensão de investir caiu 13 pontos no estado no último semestre, ao mesmo tempo em que a possibilidade de reduzir o quadro funcional se expandiu, indica pesquisa conjuntural encomendada pela Federação do Comércio do Estado do Paraná (Fecomércio-PR) junto a representantes do setor.
No Brasil
A percepção de que as vendas não devem se recuperar nos próximos meses minou a confiança do setor. O índice desabou 8,8% ante janeiro, o recuo mais intenso já registrado. É o menor nível desde março de 2010, quando começou a série da Fundação Getulio Vargas.
Entre as que apertaram os cintos estão as Lojas MM, com sede em Ponta Grossa e focadas em móveis e eletroeletrônicos. A empresa reduziu de 40 para 30 o número de lojas a serem abertas até dezembro. O plano de expansão foi definido em setembro passado, mas alterado neste início de ano, após uma sondagem própria indicar queda recorde na confiança do consumidor.
Situação parecida enfrenta a Romera, de Arapongas, que pretendia ingressar neste ano em um novo estado, mas adiou o projeto para 2016. A entrada do grupo no Pará, feita no ano passado, já havia sido afetada, com redução de 16 para nove no número de unidades abertas. “A Copa do Mundo foi o divisor de águas, o marco para a decadência do nosso mercado”, conta o diretor executivo do grupo, Júlio Lara, que ficou decepcionado com a venda de televisores durante o Mundial. Ele relata redução no ímpeto do consumidor desde então.
Hipermercado
Exceção à regra, o Condor abre hoje, em Campo Largo, na Grande Curitiba, a sua 40ª loja – um investimento de R$ 40 milhões. Com a inauguração, a rede encerra as festividades do seu aniversário de 40 anos, iniciadas em março de 2014.
O Grupo Muffato, que tem super e hipermercados, não cortou investimentos, mas usa a palavra “cautela” para definir o momento atual e afirma que vai esperar os próximos meses para decidir em que ritmo pretende executar as obras previstas – três unidades devem ser abertas neste ano, em Ponta Grossa, São José do Rio Preto (SP) e um município ainda não divulgado. “Esse é um dos cenários mais difíceis do período pós Plano Real”, diz o diretor do grupo, Everton Muffato.
Risco de desemprego e alta na alíquota do ICMS preocupam o setor
Empresários relatam temor de que a situação econômica, já desfavorável, se agrave caso a estagnação resulte em desemprego. A preocupação se justifica porque um eventual corte na renda dos clientes teria como consequências redução do poder de compra e crescimento da inadimplência. “Se fica sem dinheiro, a primeira coisa que a pessoa deixa de pagar é uma compra a prazo e não serviços essenciais, como água e luz”, diz o vice-presidente do grupo MercadoMóveis, Márcio Pauliki.
Mais imposto
Também há receio de que o aumento da alíquota de ICMS promovido pelo governo estadual e que passará a vigorar em abril complique a situação. O imposto, que está com tarifas reduzidas desde 2008, será reajustado de 12% para 18% ou 25% no caso de 95 mil itens, como alimentos e eletrodomésticos. Presidente da Associação Comercial do Paraná, Antônio Miguel Espolador Neto prevê o repasse deste custo ao consumidor, o que tende a sufocar ainda mais a capacidade de consumo e afetar o setor. (RC)
As empresas também têm promovido reduções de custos para compensar resultados abaixo do esperado – em 2014, as vendas do varejo no Paraná recuaram 6% no segmento de móveis e se expandiram 2,4% de maneira geral, configurando o pior resultado em nove anos, conforme dados do IBGE. As Lojas MM, por exemplo, diminuíram o volume de treinamentos e realocaram funcionários para suprir novas demanda sem contratações. Na Romera, viagens foram restringidas a casos indispensáveis e ferramentas como Skype se tornaram opção para promoção de reuniões a distância, sem necessidade de deslocamentos.
Risco de demissões
Os esforços, segundo os empresários, buscam afastar a possibilidade de promover demissões. O Grupo Muffato interrompeu o movimento de abertura de vagas há cerca de nove meses e, hoje, só contrata para substituir funcionários que se desligam da empresa.
Júlio Lara, da Romera, diz que a empresa está “tirando de onde pode para não precisar mexer nos empregos”. “Antes, nossa vitória era aumentar as vendas. Agora, vamos ficar felizes se não precisarmos fazer corte de pessoal”, acrescenta.
Para o presidente da Associação Comercial do Paraná, Antônio Miguel Espolador Neto, o aumento do volume de vendas será a condição necessária para que o movimento de demissões no varejo seja evitado. “Os empresários estão muito preocupados com essa possibilidade.”
Otimismo atinge o menor índice em cinco anos
A expectativa de vendas dos empresários do Paraná no primeiro semestre de 2015 despencou e alcançou o menor índice já registrado pela Fecomércio-PR, que há 14 anos faz esse levantamento. O indicador atual mostra que apenas 38% dos entrevistados têm expectativa favorável de vendas para este semestre.
O índice alcançou o melhor resultado recente no primeiro semestre de 2010 (88%) e, desde então, vem caindo. O recuo no último ano foi de 24 pontos, o que levou o indicador a ficar abaixo de 50% pela primeira vez desde que a pesquisa é realizada.
As principais razões para o pessimismo, conforme a entidade, são a elevada carga tributária, a inflação crescente, o aumento dos custos de mercado e a falta de dinheiro em posse dos clientes. “Tivemos aumento de juro, restrição de crédito e elevação da carga tributária. Tudo marchou contra o varejo”, resume o presidente da Fecomércio-PR, Darci Piana.
A área mais cética é a de Curitiba e região metropolitana, onde a expectativa de crescimento das vendas é de apenas 34%. Em contrapartida, os empresários mais otimistas são os do Oeste e Sudoeste do estado, que têm 60% de perspectiva de faturar mais ao longo deste semestre. Piana explica que o otimismo nessas regiões se deve à influência do agronegócio, que gera receitas que movimentam o varejo local. (RC)
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