Dezenas de amigos compareceram ao velório de Bárbara, ontem. Eles cobram uma resposta rápida pelo crime| Foto: Antônio More/ Gazeta do Povo

Investigação

Saiba como a perícia deve proceder no caso:

1 – No local do crime, os peritos do Instituto de Criminalística coletam todos os materiais, como cápsulas de projéteis disparados e os projéteis que não atingiram a jovem. Há informações de que houve quatro disparos.

2 – Os projéteis e capsulas vão para o laboratório de balística do Instituto e passam por uma análise detalhada no microscópio eletrônico. São analisadas ranhuras, peso, entre outros requisitos que podem confirmar o calibre e comprovar qual arma disparou aquele material. Ontem mesmo saiu um resultado que aponta que a bala fatal é ponto 40, mesmo tipo usado por policiais do estado.

3 - O projétil que ficou alojado no corpo da vítima passa pelo mesmo processo. No caso específico desta bala, os médicos do Instituto Médico Legal (IML) apontam a trajetória dela no corpo para confrontar com o que foi apurado pelos peritos para tentar reconstituir o disparo.

4 - É feito um confronto entre o que foi encontrado no material recolhido no local do crime com as armas dos policiais para verificar se a bala que atingiu Bárbara era de alguma das pistolas oficiais. Muitas vezes, o perito pode verificar extraoficialmente se as cápsulas no local são de determinado calibre. Mas é necessária uma análise técnica para comprovar.

5 – A perícia também é responsável pela análise de eventuais imagens de vídeos e fotos. O laboratório de audiovisual deverá analisar todas as imagens que forem encontradas para auxiliar na reconstituição do crime. Nestes casos, o laboratório de informática também é acionado para checar informações de celulares dos envolvidos. As informações do local do crime dão elementos para o delegado conseguir descobrir o que realmente aconteceu.

6 – Nem sempre o local do crime está intacto. No caso da morte de Bárbara, a polícia tentou reanimá-la, como deve ser. Mas no mesmo local não teria havido um isolamento adequado. Uma foto feita pelo jornal Tribunal do Paraná mostra um policial com a mochila da vítima nas mãos, por exemplo. De acordo com o que apurou a reportagem, todos os objetos que envolveriam a cena do crime deveriam ter sido preservados. Nestes casos, o perito que fizer o laudo deverá deixar claro que o local não foi adequadamente isolado.

7 – O principal papel do delegado de polícia no início da investigação é tentar descobrir como o crime ocorreu de fato. Neste caso, além das informações técnicas, as testemunhas têm papel muito importante.

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Outros casos

Pelo menos oito ocorrências de balas perdidas foram registrados no Paraná em 2014. Veja algumas delas:

27 de janeiro – Um homem de 34 anos, que estava com seu filho no colo, foi atingido por uma bala perdida na perna no Terminal do Capão da Imbuia, em Curitiba. O disparo foi feito durante uma briga entre torcedores do Paraná Clube e do Coritiba.

2 de abril – Um menino de 3 anos foi atingido, na nuca, por uma bala perdida em Campo Largo. Ele ficou em estado grave. A PM disse, na época, que o atirador estava atrás de um morador da região.

17 de junho – Um rapaz de 24 anos foi atingido por uma bala perdida quando passava perto do Shopping Palladium, em Curitiba. No momento, três homens brigavam e um deles estava armado.

21 de agosto – Uma criança de 6 anos foi atingida por uma bala perdida no bairro Tatuquara, em Curitiba. O tiro, que pegou de raspão na perna do garoto, foi disparado por um homem que perseguia, de carro, outra pessoa.

25 de agosto – Um garoto de 14 anos morreu após ser atingido por uma bala perdida na nuca. O irmão dele, de 11 anos, ficou ferido. O caso aconteceu no bairro Cohapar, em Piraquara, na Região Metropolitana de Curitiba. Segundo a PM, dois homens trocavam tiros na rua.

A bala que atingiu a adolescente Bárbara Silveira Alves, 16 anos, é de uma arma calibre .40, característico do armamento utilizado exclusivamente por policiais civis e militares. A informação, de uma fonte ligada às investigações, não é confirmada oficialmente pela Polícia Civil. A adolescente foi morta após um suposto tiroteio envolvendo policiais à paisana e suspeitos de um assalto na última quarta-feira, no bairro Santa Cândida, em Curitiba.

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O caso está sob investigação na Delegacia de Furtos e Roubos (DFR), que ainda aguarda laudos do Instituto de Criminalística. A equipe de investigação da DFR ouvirá os policiais militares envolvidos na manhã de hoje. Depoimentos de outras testemunhas do crime devem ocorrer a partir da semana que vem. A lista de pessoas que serão ouvidas está sendo elaborada pela polícia.

No local do crime, na tarde de ontem, ainda era possível ver as marcas de sangue da adolescente, que foi socorrida inicialmente por moradores e comerciantes da região.

Testemunhas que estavam no local – e que não quiseram se identificar – disseram que foram quatro tiros disparados. Algumas marcas de balas ainda podiam ser vistas em muros e paredes. "A gente viu que uma bala atingiu um muro, outra uma parede e a outra uma placa. A última pegou na menina", disse uma testemunha. Segundo moradores e comerciantes, as balas teriam saído do local onde estavam os policiais, perto do restaurante onde ocorreu o assalto.

Bárbara foi atingida por uma bala nas costas. Po­pulares tentaram socorrê-la enquanto ela ainda estava consciente. Alguns minutos depois, uma ambulância do Siate chegou e levou Bárbara para o Hospital Cajuru. Ela não resistiu e morreu por volta das 14 horas de quarta-feira. A população afirma que, no momento do tiroteio, outras crianças passavam pelo local naquele horário por causa da saída do colégio do turno da manhã.

A Polícia Militar foi questionada pela reportagem sobre o treinamento dos policiais e como eles são orientados a agir nessas ocasiões, mas não recebeu resposta até o fechamento desta edição.

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Sepultamento

O corpo da adolescente foi enterrado no começo da tarde de ontem, no Cemitério Municipal do Santa Cândida, em Curitiba. Em meio à tristeza, dezenas de amigos e familiares mostraram indignação e exigiram uma resposta rápida da polícia sobre o caso.

"Ela era uma menina extrovertida, muito feliz. Era a primeira a ajudar todo mundo", comentou uma das amigas do Colégio Estadual Santa Cândida, Karolyne Antonio, 15 anos. Bárbara foi descrita pelos mais próximos como uma menina caseira e estudiosa.

Ainda ontem, alguns alunos se manifestaram em frente à rotatória próxima do local do crime. Eles fizeram cartazes com homenagens a Bárbara e pedidos de paz e os colocaram sobre cavaletes de propaganda política. Um nova manifestação, organizada pelos colegas de escola de Bárbara, é cogitada para a semana que vem.

Brasil é o 2.º da América Latina em casos de balas perdidas

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Lucas Gabriel Marins, especial para a Gazeta do Povo

O Brasil é o segundo país da América Latina com o maior número de casos de balas perdidas e o terceiro em quantidade de mortes decorrentes delas, segundo relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) divulgado em setembro passado. Entre 2009 e 2013, período do estudo, foram 22 mortes e 53 feridos. O país só perde para a Venezuela, que registrou 74 feridos e 67 mortes.

De acordo com o estudo, 27% dos casos são decorrentes de perseguição policial a supostos criminosos. Em segundo lugar está o tiroteio entre gangues, que representa 24%. Cerca de 10% dos episódios ocorreram por causa de conflitos interpessoais (brigas de civis) e 40% não tiveram motivos definidos.

De acordo com Bruno Langeani, coordenador da área de Sistemas de Justiça e Segurança Pública do Instituto Sou da Paz, que analisou o relatório, a ONU faz algumas recomendações a respeito do uso de armas por polícias. "A arma é o grau máximo de força. Em muitos casos, tem que ser feito o protocolo, que é ligar pra central e pedir reforço ou até optar por não fazer disparos. Dessa forma se protege a própria vida e a vida de terceiros", relata.