Meio século depois de chegar à beira do extermínio, as baleias jubartes do Brasil estão oficialmente salvas da extinção em águas nacionais. O Ministério do Meio Ambiente (MMA) deve anunciar nesta quinta-feira, 22, Dia Internacional da Biodiversidade, a desclassificação da espécie como ameaçada no País.
A população local da espécie, que cem anos atrás era de aproximadamente 25 mil baleias, foi dizimada a míseros 2% disso (cerca de 500 animais) em meados do século 20, por causa da caça predatória no Oceano Antártico, para onde as baleias migram entre dezembro e junho para se alimentar. Uma moratória global à caça foi decretada em 1986 pela Comissão Baleeira Internacional (CBI) e reproduzida em lei pelo governo brasileiro no ano seguinte.
Hoje, 28 anos mais tarde, a população de jubartes que visita anualmente as águas calmas e mornas do Nordeste brasileiro para se reproduzir é de aproximadamente 15 mil baleias - cerca de 60% do que era "originalmente". Daí a decisão de retirá-la da lista de espécies ameaçadas do Brasil.
"A baleia jubarte é um ícone para nós", disse ao Estado o diretor de Conservação da Biodiversidade do Instituto Chico Mendes (ICMBio) do MMA, Marcelo Oliveira.
A desclassificação de ameaça, segundo ele, "representa um esforço genuíno de conservação da espécie ao longo de três décadas", capitaneado desde 1988 pelo Instituto Baleia Jubarte, organização não governamental apoiada pelo governo federal.
Quando a última lista oficial de espécies ameaçadas do País foi publicada pelo Ibama, em 2003, a população de jubartes que frequentava a costa brasileira era ainda bem menor do que a atual: cerca de 4,5 mil baleias. Na época, as espécies eram classificadas apenas como ameaçadas ou não ameaçadas.
No Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção, publicado pelo ICMBio em 2008, a espécie (nome científico Megaptera novaeangliae) foi classificada especificamente como "vulnerável", uma das três categorias de ameaça de extinção reconhecidas internacionalmente, ao lado de "em perigo" e "criticamente em perigo". Na nova edição do livro, que deverá sair em três meses, ela aparecerá como "quase ameaçada".
"Ficamos muito contentes com a reclassificação, claro, mas a luta não acabou", diz o biólogo e coordenador ambiental do Instituto Baleia Jubarte, Sergio Cipolotti. "Não podemos baixar a guarda."
Quanto maior a população de baleias, diz ele, maior a responsabilidade e o desafio de proteger a espécie, pois também aumentarão os conflitos com atividades humanas, como a pesca e a exploração oceânica de petróleo e minérios. "Temos trabalho redobrado pela frente agora", diz Cipolotti, feliz em encarar o desafio.
Novos riscos
A caça já foi praticamente extinta, mas outras ameaças às jubartes permanecem. Entre elas, a poluição das águas marinhas (incluindo a poluição sonora, que interfere com a comunicação das baleias), a colisão com embarcações e a captura acidental em malhas de pesca - principalmente de filhotes.
"É importante lembrar que a recuperação da espécie só ocorreu depois da interrupção completa da caça e que ela ainda está vulnerável a várias outras atividades humanas. Assim, ações de monitoramento são importantes para garantir que não ocorra um novo declínio populacional", diz o especialista brasileiro Alexandre Zerbini, pesquisador associado à Administração Nacional de Atmosfera e Oceanos dos Estados Unidos (NOAA) e diretor cientifico do Instituto Aqualie, que trabalha com o monitoramento via satélite de baleias.
A jubarte é uma espécie global. A população que vive na costa leste da América do Sul é uma de várias que ocorrem pelo planeta - todas elas em processo de recuperação. Fazer uma conta global é difícil, segundo Zerbini, mas estima-se que havia cerca de 140 mil jubartes no planeta no início do século 20, e hoje há cerca de 80 mil (57%).
A União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN) já considera a espécie como não ameaçada globalmente desde 2008.
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