A Frente Parlamentar Evangélica (FPE), uma das principais bancadas temáticas do Congresso Nacional, ganhará força a partir do ano que vem. Um grande número de candidatos a deputados federais e senadores que se declaram evangélicos se saíram vitoriosos nas eleições deste ano.
Segundo estimativa atualizada da presidência da bancada, até agora foram contabilizados 132 deputados e 14 senadores que deverão fazer parte da FPE na próxima legislatura, de 2023 a 2026. Os números representam um recorde histórico em relação ao número de parlamentares integrantes da bancada.
Na comparação com a composição atual (112 deputados e 11 senadores), o aumento é de quase 19%. Na nova formação, pouco mais de 25% da Câmara será integrante da bancada; no Senado, esse número corresponde a 17%.
Nem todos os parlamentares evangélicos pertencem à bancada. Além da filiação religiosa, a maioria dos membros compartilha valores e visões de mundo alinhados ao conservadorismo. É comum, por exemplo, a oposição da frente evangélica a pautas relacionadas à ideologia de gênero e à legalização do aborto e das drogas.
Na prática, o reforço significa maiores dificuldades para o avanço de pautas chamadas “progressistas” numa legislatura que coincidirá com o novo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na presidência da República.
Bancada evangélica se manterá vigilante durante governo Lula
À Gazeta do Povo, o presidente da FPE, deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), disse que os integrantes da frente parlamentar permanecerão atentos aos passos do novo governo federal sob a gestão de Lula e que, com a bancada fortalecida com mais membros, reagirão para frear eventual guinada à esquerda no Congresso.
“Nós precisamos aguardar que o governo assuma para ver se eles voltarão com o mesmo preconceito e a mesma perseguição às pautas conservadoras de outros governos da esquerda, ou se irão agir de uma forma mais branda. Precisamos ter calma, e a cada tentativa de bote do futuro governo nós teremos uma reação com a bancada mais fortalecida do que em outras legislaturas”, declara Cavalcante.
O deputado diz esperar que Lula deixe de lado a articulação para o avanço de pautas consideradas sensíveis para a bancada. “Eu não quero pré-julgar o novo governo. Quero aguardar. O DNA deles nós já conhecemos, mas vamos ver a intensidade do que vem pela frente. E quem dita a intensidade da batalha é o governo. Se o governo deixar de lado um pouco as afrontas aos valores cristãos, acho que a gente se mantém na trincheira aguardando qualquer ataque a qualquer momento”, prossegue o presidente da frente parlamentar.
Lista com os nomes dos integrantes será divulgada após a diplomação
A lista de nomes de parlamentares levantada pela presidência da bancada será divulgada somente após a diplomação dos candidatos eleitos, que deve ocorrer até o dia 19 de dezembro. Segundo Cavalcante, vários deputados e senadores eleitos que são evangélicos pediram que a lista fosse tornada pública somente depois de estarem diplomados pelos Tribunais Regionais Eleitorais (TREs). Isso porque parte dos parlamentares teme represálias por parte da Justiça Eleitoral por apoiarem pautas conservadoras, e a diplomação é justamente o ato pelo qual o órgão eleitoral atesta que o candidato foi efetivamente eleito e está apto a tomar posse no cargo.
“Estamos vivendo tempos sombrios no Brasil com relação ao Judiciário, em especial ao TSE [Tribunal Superior Eleitoral]. Muitos parlamentares nossos estão tendo problemas com prestação de contas por serem conservadores, de direita. Vamos esperar passar a diplomação e depois divulgaremos a lista”, diz Sóstenes Cavalcante.
Campeões de votos farão parte da bancada evangélica
Vários nomes bastante conhecidos por eleitores de todo o país figuram entre os novos parlamentares evangélicos que preencherão as cadeiras das duas casas legislativas federais. Nikolas Ferreira (PL-MG), que foi o deputado federal mais votado do Brasil nestas eleições com quase 1,5 milhão de votos, é um deles.
Há também parlamentares campeões de votos em seus estados que integrarão a FPE. Um deles é André Fernandes (PL-CE): filho de pastor e atual deputado estadual no Ceará, o parlamentar recebeu quase 230 mil votos do eleitorado cearense na disputa para a Câmara, sendo o candidato mais votado do estado.
Outro que integrará a bancada evangélica a partir de 2023, Fábio Garcia (União-MT), ficou próximo de bater os 100 mil votos no Mato Grosso ao concorrer à Câmara dos Deputados e também foi o candidato que recebeu mais votos em seu estado.
O ex-coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato e ex-procurador da República Deltan Dallagnol (Podemos-PR), também evangélico, foi o deputado federal mais votado no Paraná. Ele recebeu 345 mil votos.
Fechando a lista, o deputado federal André Ferreira (PL-CE) foi reeleito neste ano com o maior número de votos de Pernambuco. Foram 273 mil votos, 100 mil a mais em comparação com sua primeira eleição quatro anos atrás.
Como exemplos de outros nomes de peso eleitos que comporão a bancada evangélica na próxima legislatura estão o pastor Magno Malta (PL-ES), que volta ao Senado após ficar quatro anos sem mandato, e a ex-ministra de Jair Bolsonaro, Damares Alves (Republicanos-DF), que também é pastora e ocupará uma das cadeiras do Senado.
Entre os atuais parlamentares de esquerda que permanecerão a partir de 2023 estão as deputadas Benedita da Silva (PT-RJ) e Rejane Dias (PT-PI), e a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA). Marina Silva (Rede-SP), eleita para a Câmara neste ano, deve fazer parte da bancada a partir do próximo ano.
Ao menos um deputado federal eleito evangélico disse publicamente que não integrará a bancada: o pastor Henrique Vieira, do PSOL, que mantém posicionamento contrário ao que a grande maioria dos integrantes da FPE defende.
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