Deve começar nas próximas semanas a reforma do espaço que abrigará o Banco de Pele do Hospital Evangélico, em Curitiba. A previsão é de que a obra esteja concluída em dois meses. Não há, entretanto, uma estimativa de quando o Banco entrará em funcionamento. Além da compra de equipamentos e do treinamento de técnicos, o espaço precisará passar por uma série de adaptações para atender às normas da Vigilância Sanitária. A dificuldade maior está na captação de recursos. Uma parceria firmada com a Fundação de Ação Social conseguiu arrecadar cerca de R$ 30 mil. O projeto, entretanto, tem um custo total estimado em R$ 480 mil. O convênio com a prefeitura, que tinha validade de um ano, venceu em agosto. "Estamos com a documentação pronta, mas não pudemos renovar em 2008 por ser ano eleitoral", esclarece o coordenador da implantação do Banco de Pele, o médico pediatra José Eduardo Vianna.
Com a implantação do Banco, que será o primeiro do Paraná e terceiro do Brasil (já existe um em Porto Alegre e outro em São Paulo), haverá uma série de benefícios para os pacientes e para a instituição. O tratamento com o uso de pele humana reduz o tempo de internamento e proporciona maior sobrevida ao paciente. Além disso, há menor risco de contaminação e economia com antibióticos. "Pacientes que sofrem queimaduras de 3º grau ficam sem defesas. O dano na pele é tão severo que a ferida não cicatriza, é preciso fazer enxerto. Hoje precisamos esperar até 40 dias para fazer o procedimento. Enquanto isso, a ferida é tratada com curativos, mas temos que ficar controlando infecções, o paciente fica debilitado, perde peso. Com o Banco, poderemos dar início ao tratamento ainda na primeira semana. O tecido necrosado é retirado e é colocada a pele nova por cima", explica o médico.
Segundo Vianna, as piores queimaduras geralmente são causadas por álcool. Alguns pacientes ficam até um ano em tratamento e chegam a ir para o centro cirúrgico até três vezes em uma semana. Por dia, o hospital recebe, em média, 12 novos pacientes com queimaduras. Nos últimos quatro anos, o número de atendimentos no setor cresceu 30%. Em 2007 foram 4.412 emergências e 15.868 atendimentos ambulatoriais, uma média de 20 mil ocorrências no ano. Este ano, até 10 de setembro de 2008, já haviam sido contabilizados 13.312 atendimentos a vítimas de queimaduras.
A doação de pele tem o mesmo processo da doação de órgãos. As camadas mais superficiais da pele são retiradas cirugicamente, tratadas e transplantadas. "Não há nenhum tipo de conseqüência na aparência do doador porque retiramos apenas a epiderme e a derme. A pele fica apenas um pouco mais clara, mas é colocado um curativo no local da retirada", explica Vianna. Geralmente o material é retirado da pele das coxas e das costas.
Da retirada até que esteja pronta para ser usada, a pele fica em média um mês no laboratório. "São feitos todos os testes para descartar contaminações", esclarece. Uma vez preparado, o material congelado pode ficar no banco por até dois anos.