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Norte

Bando de SP ataca travestis em Londrina

Londrina - A série de ataques, esfaqueamentos, espancamentos e a morte de dois travestis e transexuais em Londrina, Norte do Paraná, pode ter relação com a instalação de uma nova quadrilha na cidade. O grupo, formado por travestis, pretende controlar o mercado local do sexo, banindo antigos profissionais do ramo e vinculando o setor a diversas ilegalidades. As denúncias são de vítimas, profissionais e ex-profissionais ligados à prostituição transexual.

Segundo as fontes, a quadrilha é do interior de São Paulo. Chegou a Londrina em outubro do ano passado – data que coincide com o começo dos episódios de perseguição aos travestis (veja quadro). O bando anda em carros de luxo e já trabalhou em esquemas de prostituição profissional na Europa – para onde enviam, a partir de Londrina, travestis para exploração sexual.

Em um bairro de classe média, na Zona Oeste, a quadrilha mantém uma casa onde pelo menos 22 travestis de outros estados se abrigam. Ali, fazem dívidas com hospedagem, têm acesso facilitado ao crack, ganham roupas de marca e apliques de silicone em seringas – ou vão para São Paulo para cirurgias plásticas que chegam a custar R$ 7 mil. Bancados pela chefe do esquema – que morou na Itália – não conseguem saldar as dívidas, que se acumulam.

"Quando tentam fugir, pagam com a própria vida", denuncia Edson Bezerra, 49 anos, um ex-travesti que passou das ruas e da prostituição desde os tempos da ditadura a defensor reconhecido dos direitos de prostitutas e homossexuais. "Há uma relação muito forte entre os crimes. É só montar o quebra-cabeça".

Um dos travestis mortos neste ano estava hospedado na pensão do bando em Londrina. O outro era da cidade, mas se abrigava na pensão da quadrilha em Jundiaí. O pai da vítima contou a Edson que o filho acumulou dívidas de mais de R$ 5 mil e se tornou refém do bando. Foi até o interior de São Paulo para resgatá-lo, pagou metade e trouxe-o de volta a Londrina. Tempos depois, sem conseguir a outra parte do dinheiro, o rapaz foi executado.

"Ultrapassa a cafetinagem", acusa o ativista, que resolveu falar após quase quatro anos afastado das causas. Edson era presidente da ONG Adé-Fidam, entidade que até 2005 lutava contra o preconceito. Após problemas internos, a entidade se desmanchou, mas Edson permaneceu como referência. Agora, é procurado pelas famílias de vítimas e por travestis que temem que a sequência de ataques caia no esquecimento.

Armas

De acordo com os relatos obtidos pelo JL, a quadrilha conta com ao menos um taxista e tem mototaxistas especializados em perseguir os travestis. Cabe a eles as abordagens violentas. Portam armas de fogo, usam facas e até mesmo tacos de beisebol. Edson recebeu um recado – mandado pela quadrilha – por uma vítima atacada com ácido em novembro do ano passado. "Mandaram me dizer que daquele ácido tinham dois galões cheios e que ia ficar muito pior para mim", diz. "Os travestis estão com medo porque o clima é de terrorismo".

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