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Em Colombo, bar ignora toque de recolher e mantém portas abertas após às 22 horas | Giuliano Gomes/Gazeta do Povo
Em Colombo, bar ignora toque de recolher e mantém portas abertas após às 22 horas| Foto: Giuliano Gomes/Gazeta do Povo

Bar é sinônimo de violência. Com essa justificativa, 16 cidades da região metropolitana de Curitiba e outras do interior já adotaram o toque de recolher, fechando mais cedo bares, lanchonetes e pontos comerciais similares. Esse é o caso de Colombo (22 horas); Almirante Tamandaré, Fazenda Rio Grande e São José dos Pinhais (23 horas); Araucária (24 horas), entre outras. A idéia veio da cidade de Diadema (SP), que reduziu praticamente pela metade seus índices de criminalidade, especialmente homicídios dolosos, fechando mais cedo esse tipo de comércio.

A proposta é do Ministério Público Estadual e do governo do estado. Embora não seja uma unanimidade, o governo pretende estender a lei seca para os botecos de todo o estado. O anúncio foi feito numa das últimas reuniões da operação Mãos Limpas, após a divulgação da queda de 60% no número de homicídios em Fazenda Rio Grande, uma das cidades próximas à capital onde vigora a lei seca para bares. Outro número significativo está nas estatísticas produzidas pela Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp). Elas revelam que 36% dos crimes contra a vida ocorrem próximo ou dentro dos bares.

Segundo o procurador-geral de Justiça, Olympio Sotto Maior, o objetivo é diminuir a criminalidade. Ele afirma que a sociedade é favorável. A referência são os números positivos da lei seca no trânsito. Sotto Maior diz ainda que o Supremo Tribunal Federal já se manifestou sobre a constitucionalidade de leis municipais nesse sentido.

Giro na RMC

Por outro lado, o toque de recolher pode se tornar letra morta, a exemplo do que ocorre em algumas cidades que já a adotaram. A reportagem da Gazeta do Povo esteve na noite da última quarta-feira, a partir das 22 horas, em cinco municípios onde a lei vigora, encontrando em quatro delas bares e restaurantes abertos e vendendo cerveja e outras bebidas alcoólicas depois do horário permitido.

A viagem começa por Colombo, em bairros como o Parque Monte Castelo, palco de homicídios cruéis – onde uma mulher foi decapitada no mês passado. Às 22 horas, horário limite para vender bebida alcoólica em bares e similares na cidade, pelo menos cinco bares, panificadoras e mercearias continuam vendendo cachaça, vodca, cerveja e outras bebidas, somente na linha do ônibus local. No botequim que fica ao lado da cancha de areia do bairro, os clientes não dão a menor pista de que deixarão o local. O jogo de sinuca continua sob o olhar de mulheres, e há copos e garrafas de cerveja em cima do balcão. Segundo o balconista, "o bar normalmente fecha às 22 h e 22h30", mas tudo conspira contra o toque de recolher.

A lei seca também não pegou em outros pontos de Colombo. No Jardim Guaraituba, a uma quadra do módulo da Polícia Militar, uma casa de lanches vende abertamente cerveja após às 23 horas. A situação se repete em bares do Jardim Ana Terra, outro bairro violento; e no Jardim Osasco, na Rua do Posto de Saúde 24 horas, onde um bar divide o prédio com uma igreja evangélica.

Farra na rua

Em Almirante Tamandaré, onde bares devem fechar às 23 horas, de segunda a sexta-feira, mas além de botecos abertos na região do Cachoeira, a reportagem encontra um grupo que continua a beber mesmo quando o estabelecimento fecha, no Jardim Marambaia, perto do Contorno Norte. Já passa da meia-noite e quatro amigos se dividem em dois carros, com os porta-malas abertos, e mais duas motos. Dentro estão caixas térmicas cheias de cerveja. A turma fica na esquina, no escuro, bebendo. "O bar fechou, mas a festa continua aqui fora", afirmam. Segundo o motorista Fábio Dantas, 35 anos, a lei seca – tanto a dos bares como a do trânsito – é "sacanagem" com os amantes da cerveja.

Em Araucária, a reportagem encontra um bar com a porta abaixada no centro da cidade na madrugada: por volta de 1 hora e meia. Mas do lado de fora é possível ver água escorrendo – limpeza – e movimento de clientes próximos ao balcão – posição habitual para o consumo de bebida alcoólica. A reportagem acha adiante uma casa de lanches vendendo cerveja na Avenida da Nações, e um bar com as portas fechadas, mas atendendo clientes no Jardim Tupy, após as 2 horas. O toque de recolher na cidade, porém, começa à meia-noite, de segunda a quinta-feira.

Nas outras duas cidades visitadas, o horário não colabora para os mesmos flagrantes. Em Fazenda Rio Grande, a reportagem encontra apenas um restaurante vendendo cerveja no quarteirão da sede da prefeitura, por volta das 2h30.

Mas a situação é normal. Isso porque a lei municipal restringe apenas o funcionamento dos bares, segundo o prefeito de Fazenda Rio Grande, Antônio Wandscheer. "Restaurante não fecha porque não serve só para vender bebidas. Ele também oferece segurança para a população – a lei prevê isto. Aqui 95% aprovam a medida, segundo levantamento da Paraná Pesquisas", justifica.

Já em São José dos Pinhais, a reportagem esteve num dos bairros mais violentos da cidade, o Jardim Itália, e não encontrou bares abertos. A lei restringe o funcionamento de bares e botequins até as 23 horas.

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