CHEIAS
Só uma barragem construída antes (em relação ao curso do rio) de União da Vitória poderia interferir nas cheias. Como se trata de área plana, ela precisaria ocupar uma grande extensão.
ESTRUTURA
Chuvas intensas foram teste para o sistema hidrelétrico do Paraná
Para o pesquisador Dago Woehl, presidente da Comissão Regional Permanente de Prevenção contra Enchentes do Rio Iguaçu, qualquer suspeita sobre a interferência de Foz do Areia se esvaiu, de vez, durante as chuvas intensas de junho. É que quando a água já havia começado a inundar União da Vitória, no início daquele mês, o reservatório da usina continuava com a altura bem abaixo do normal. Aliás, na véspera da chuvarada, o reservatório havia batido o recorde histórico com o menor nível desde o início da operação. Por estar "quase vazio", conseguiu "segurar" o grande volume de água que chegava à região e evitou que seguisse rio abaixo.
Mesmo com parte da água represada em Foz do Areia, o Rio Iguaçu bateu recordes de vazão nas proximidades da usina de Segredo. Também na região da hidrelétrica de Salto Caxias, o volume foi intenso. Contudo, levantamentos feitos pela Copel indicam que a regulação da água feita nas usinas ao longo do Iguaçu evita aumentos repentinos no fluxo e na vazão do rio.
Prejuízos
Contudo, o excesso de chuvas causou prejuízos inclusive para a Copel. O canteiro de construção da usina de Baixo Iguaçu, nos municípios de Capanema e Capitão Leônidas Marques sofreu com a enxurrada. Máquinas foram danificadas ou levadas pela água. Também longe do Rio Iguaçu aconteceram danos. Na região Central do Paraná, quatro Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) tiveram a casa de força invadida pela água. Os prejuízos ainda não foram calculados, até porque não se sabe quantos e quais equipamentos foram danificados. A previsão do setor de manutenção é de que elas devam ficar cerca de seis meses sem funcionar, contudo, como geram pouca energia, não devem comprometer o abastecimento.
Na busca por culpados pelas enchentes constantes em União da Vitória, no Sul do Paraná, muitos moradores dizem que as barragens de usinas hidrelétricas no Rio Iguaçu são responsáveis pelo caos que se instala na cidade de tempos em tempos. Porém, técnicos da Copel, consultorias externas e até pesquisadores locais conseguiram provar que a usina de Foz do Areia, por exemplo, localizada a mais de 100 km da cidade não provoca tais inundações.
INFOGRÁFICO: Veja os detalhes das barragens do Rio Iguaçu
Apesar de ter se intensificado no último mês, o boato sobre a relação da usina com as cheias não é recente. É que Foz do Areia começou a operar em 1980, apenas três anos antes da maior enchente de União da Vitória, quando 80% da cidade ficou submersa por 45 dias. Há três décadas, estudiosos buscam informações para mostrar que quando a operação da usina é bem feita ela não interfere na acumulação da água na cidade.
Como a Gazeta do Povo mostrou na edição de 29 de junho, uma formação geológica única é que causa enchentes em União da Vitória. A cidade está em uma área plana, quase como uma "mesa", sem a declividade necessária para escoar água. Na região, o Rio Iguaçu quase não tem força e velocidade, e alguns quilômetros depois do município, ele enfrenta um afunilamento, tanto nas margens como na profundidade, provocado por uma grande formação de rochas basálticas, as chamadas corredeiras de Porto Vitória. Assim, o rio não consegue manter o fluxo e a vazão e, quando está muito cheio, transborda para as margens da planície. A água do Iguaçu corre de Leste para Oeste. Na direção do rio, União da Vitória está localizada 27 quilômetros antes do início do reservatório de Foz do Areia. Ao contrário do que muitas pessoas podem pensar, a água não bate e volta. O rio corre apenas para um lado.
Mas o reservatório da usina poderia ter efeito no chamado "remanso": se ficasse muito cheio em um momento de chuvas intensas, poderia dificultar que a água acumulada naturalmente em União da Vitória escoasse. Para evitar que a operação da usina gerasse qualquer interferência negativa nas enchentes na região, um estudo foi realizado pelo Lactec, na década de 1990, para estabelecer os parâmetros mais adequados. Desde então, os dados alimentam um software que auxilia em tomadas de decisão e mostra que o reservatório não está influenciando no "remanso". A cada dois anos ou depois de um uma grande enchente, técnicos da Copel visitam União da Vitória para mostrar à população como a hidrelétrica está sendo operada.
A Gazeta do Povo tem buscado esclarecer questões frequentes sobre as cheias do Rio Iguaçu. Você tem alguma dúvida que ainda não foi esclarecida? Deixe seu comentário abaixo e participe do debate.
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