Cascavel – Por alguns minutos, a BR-277 se transformou numa praça de guerra durante uma briga envolvendo sem-terra e proprietários rurais, ontem à tarde, em Cascavel, no Oeste do estado. O confronto ocorreu depois que os fazendeiros bloquearam a rodovia para impedir a passagem de um comboio de 24 ônibus transportando os participantes da 1.ª Jornada de Educação na Reforma Agrária, que fariam uma marcha até a fazenda experimental da multinacional Syngenta Seeds, em Santa Tereza do Oeste, ocupada desde 14 de março pela Via Campesina. Pelo menos seis sem-terra e três agricultores saíram feridos levemente no tumulto. Ninguém foi preso.

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O tumulto aconteceu em frente ao Parque de Exposição Celso Garcia Cid, onde cerca de cem ruralistas montaram, por volta das 14h30, uma barreira com tratores e caminhões. A obstrução da pista no sentido Cascavel-Foz do Iguaçu foi o prenúncio do confronto, que ocorreu 20 minutos depois e durou cerca de meia hora até que a Polícia Rodoviária Federal (PRF), com o apoio da Polícia Militar, acalmasse os ânimos.

O presidente da Sociedade Rural do Oeste (SRO), Alessandro Meneghel, comandou os ruralistas que, de mãos dadas e portando pedaços de paus, fizeram uma barreira humana na rodovia. Do outro lado, estavam várias lideranças do Movimento Sem-Terra (MST), como Roberto Baggio, e o advogado da ONG Terra de Direito, Darci Frigo. O ato dos ruralistas não intimidou os sem-terra, que estavam em maioria – cerca de 600, segundo a PRF. Depois de uma tentativa frustrada de desvio, eles saíram dos ônibus e decidiram avançar sobre o bloqueio dos fazendeiros.

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Alguns agricultores usaram até cavalos para atacar e se defender dos sem-terra, que por sua vez revidaram com socos e pontapés. Uma das brigas envolveu o presidente da SRO e um dos líderes regionais do MST, Keno de Oliveira, que levou um soco na testa. Tanto a SRO quanto o MST informaram que prestariam queixa por agressão na Polícia Civil em Cascavel.

Para Oliveira, o incidente mostra a postura que os ruralistas da região tomaram em relação à questão agrária. "Os fazendeiros usaram da agressão e da violência. São sinais claro que eles não querem a reforma agrária". Ele crê que o ato pode aumentar a tensão agrária no Oeste, onde vivem mais de 2 mil famílias acampadas. Já o preisdente da SRO deu um recado aos sem-terra. "Não vamos ficar calados diante das ameaças de invasões de terra na nossa região. Vamos cobrar as reintegrações do governo e se isso não acontecer os ruralistas vão fazer por conta própria".

Depois do confronto, os sem-terra seguiram a pé até a fazenda da Syngenta, onde fizeram o plantio de uma araucária, simbolizando a Jornada de Educação, reafirmando a luta pela educação, o resgate das sementes e a preservação da biodiversidade.