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Urbanismo

Barulho é responsável por 65% das reclamações à prefeitura

Hamilton mora há cinco anos no cruzamento da Avenida Affonso Camargo com a Rua Schiller: “Uso tampão no ouvido, mas não adianta.”. A esquina foi apontada como a mais barulhenta da cidade segundo tese de doutorado da fonoaudióloga e professora Angela Ribas | Daniel Castelano/Gazeta do Povo
Hamilton mora há cinco anos no cruzamento da Avenida Affonso Camargo com a Rua Schiller: “Uso tampão no ouvido, mas não adianta.”. A esquina foi apontada como a mais barulhenta da cidade segundo tese de doutorado da fonoaudióloga e professora Angela Ribas (Foto: Daniel Castelano/Gazeta do Povo)
Veja alguns dos cruzamentos mais barulhentos de Curitiba |

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Veja alguns dos cruzamentos mais barulhentos de Curitiba

Nem o transporte coletivo, nem os congestionamentos, nem as obras espalhadas pela cidade. Segundo a prefeitura de Curitiba, o que mais gera reclamações por parte da população é a poluição sonora, um inimigo muitas vezes invisível, mas que pode causar estresse, insônia e outros problemas de saúde. De acordo com o superintendente de Controle Ambiental da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Mário Sérgio Rasera, as reclamações referentes ao barulho nosso de cada dia representam cerca de 65% do total feito ao departamento de fiscalização da prefeitura. Além disso, um levantamento feito no ano passado por uma fonoaudióloga mostrou que, de 100 pontos ao longo das canaletas de ônibus expresso, em 86 o volume era superior ao permitido por lei.

A poluição sonora é um problema típico das grandes cidades, mas que, segundo especialistas, na maioria das vezes não é identificado pelas pessoas. Em Curitiba, a principal fonte de ruídos são os veículos – são 459 automóveis para cada grupo de mil pessoas, a relação mais alta do país. Há também os trens que cortam a cidade, o "carro do sonho", as casas noturnas que funcionam em zonas residenciais, os motoqueiros de fim de semana, as sirenes, os alarmes e os "gogós de ouro" que anunciam produtos na rua. Especialistas apontam ainda o material utilizado nas edificações e até o desrespeito ao Plano Diretor da cidade, que não previa tantos prédios nas canaletas dos ônibus.

Segundo Rasera, neste ano a Secretaria Municipal do Meio Ambiente já fez cerca de 300 autuações por poluição sonora na cidade, contra 380 durante todo o ano passado. "Cerca de 40% das reclamações são em relação a bares. Outro item que gera muitas queixas é a propagandas nas lojas, com caixas de som voltadas para a rua", afirma.

Acima dos 85

Em Curitiba, os níveis máximos de ruído são determinados pela Lei Municipal 10.625, de 2002. O anexo da lei estabelece o nível de 70 decibéis como o máximo permitido na cidade, para o período diurno, em zonas de serviço e na Cidade Industrial de Curitiba. Um caso especial é o da construção civil, em que o nível pode chegar a 90 decibéis no período diurno. A multa para quem descumprir a legislação varia de R$ 1,5 mil a R$ 18 mil.

Apesar do rigor da lei, os níveis são facilmente superados na cidade. No ano passado, a fonoaudióloga e professora Angela Ribas fez medições no interior de 100 residências ao longo das vias do expresso na cidade. Em 86 delas, os níveis foram superiores aos estabelecidos por lei. O trabalho, chamado Reflexões sobre o Ambiente Sonoro da Cidade de Curitiba, foi apresentado na defesa de sua tese de doutorado na Universidade Federal do Paraná.

"O ruído não aparece, nem as lesões causadas por ele. O ruído não é valorizado, nem pela sociedade, nem pelos gestores. Não dá voto", comenta Angela Ribas. "O que contribui para o nível ser maior nesses setores é a grande concentração de construções verticais, ruas asfaltadas, pouca arborização e os materiais utilizados nas edificações. O revestimento é reflexivo, pouco absorvente." Segundo ela, a idéia de que moradores de andares mais altos estão livres do barulho é um mito. "Eles recebem mais energia sonora. As ondas vão batendo e se somando."

A tese apontou o cruzamento entre a Avenida Affonso Camargo e a Rua Schiller, no bairro Jardim Botânico, como o mais barulhento da cidade. A medição indicou um nível máximo de 90 decibéis e uma média de 74 decibéis. "Uso um tampão no ouvido, mas não adianta", afirma o comerciante Hamilton Domingues da Silva, 58 anos, morador do local há cinco anos. "Dá um nervosismo. Quando estou em silêncio, ouço um zumbido no ouvido." As comerciantes Tânia Bobato, 55 anos, e Marli Barbosa, 39, que há quatro meses alugaram um restaurante na esquina, já pensam em comprar tampões. "O volume da tevê fica no máximo e na hora do almoço não conseguimos ouvir nada", afirma Marli.

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