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Fronteira

Batalha jurídica para garantir o benefício

As empresas de ônibus relutaram para conceder a gratuidade das passagens para idosos carentes nas viagens interestaduais. Previsto pelo Estatuto do Idoso, o benefício foi questionado na Justiça desde 2004, quando a lei foi regulamentada. De lá para cá, a Associação Brasileira das Empresas de Transporte Terrestre de Passageiros (Abrati) impetrou ações judiciais, questionando o custeio da gratuidade das passagens. Esgotados todos os recursos, as empresas associadas não tiveram outra opção senão cumprir a lei. Só no ano passado, a estimativa da Abrati é que tenham sido beneficiados 8 milhões de usuários em todo o país, com bilhetes integrais ou com desconto no valor total de R$ 200 milhões, ou 7% do total da receita das empresas do setor. A associação representa 240 empresas de ônibus. Só no Paraná são dez associadas. Na conta da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), que fiscaliza o setor, em 2009 foram 2,6 milhões de bilhetes gratuitos e 630 mil com desconto.

Nas rodoviárias das maiores cidades do estado, a divulgação do direito aos bilhetes gratuitos não tem sido problema. Em geral, a informação está publicada em cartazes nas próprias companhias de ônibus. Em Curitiba, das 23 viações, apenas duas não possuem a informação de maneira visível nos guichês. Ambas já foram autuadas pela ANTT. Uma delas apresenta um dado incomum: não vendeu ne­nhuma passagem para idosos, nas condições da lei federal, no mês de abril, como mostram dados da agência.

Bem informado

Mais consciente dos seus direitos, o próprio usuário faz questão de exigir o benefício. "O idoso está mais informado. Temos registrado aumentos na ordem de 10% a cada mês no nú­mero de passagens gratuitas concedidas. A procura aumenta nos meses de temporada", informa Noel Mar­quardt, coordenador fiscal da ANTT em Curitiba. Só no mês de abril, 5.673 idosos via­jaram de graça por causa do Bilhete do Idoso. As passagens ven­­didas pela metade do preço chegaram a 6,7 mil.

Para os usuários, os funcionários poderiam ser melhor treinados para oferecer o benefício. "Eu vim do Mato Grosso para cá com desconto. Mas agora eu estou indo para Piçarras (SC) pagando a inteira. Eu nem lembrei de pedir e o funcionário não falou nada", observa Vitalina Teodoro, 68 anos, aposentada. Para ela, quando o trecho é pequeno e o preço não é muito alto, é fácil esquecer de solicitar o bilhete grátis.

Mas nem sempre a omissão na oferta do benefício é puro esquecimento. O presidente do Con­selho Estadual dos Direitos da Pessoa Idosa do Paraná (Cedi-PR), Bohdan Metchko, conta que as empresas também burlam a lei, dividindo os percursos das viagens interestaduais em trechos dentro do estado. "Em uma viagem entre Curi­tiba e Novo Mundo, no Mato Gros­so do Sul, cobra-se o trecho integral até Guaíra, para só então con­­ceder o desconto até o destino final", diz. Para tentar coibir essa prática, o Cedi protocolou um projeto de lei na Assembleia Legisla­tiva, por meio do deputado Nelson Garcia (PSDB), para que o benefício da gratuidade seja aplicado também às passagens estaduais. O projeto está em trâmite inicial e ainda precisa ser avaliado em comissões para depois ir a plenário. "Mas é preciso também garantir a fiscalização adequada, por usuários e empresas, para que sejam declarados os passageiros beneficiados e que os bilhetes não utilizados possam ser reaproveitados, em caso de desistência da viagem, por exemplo", diz.

Colaborou Michele Bravos

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