Abolição
Poucos movimentos preocupavam-se com o bem-estar dos negros
Antes do fim da escravidão, no dia 13 de maio de 1888, com a sanção da Lei Áurea, o Paraná foi palco de alguns movimentos abolicionistas. O professor de História Daniel Medeiros afirma que, desde o início dos anos 1880, surgiram sociedades emancipadoras, como a Sociedade Emancipadora Paranaense, a Sociedade Libertadora do Paraná (formada só por mulheres) e o Clube Abolicionista do Paraná. "Poucos, porém, associavam a luta ao bem-estar dos negros, mas a uma mudança na sociedade que visava melhorar o Brasil aos olhos do mundo, trazendo imigrantes para cá", ressalta.
A historiadora Joseli Mendonça afirma que os abolicionistas usavam os jornais para divulgar suas ideias. "Alguns representavam escravos na Justiça para que fossem alforriados. Havia movimentos de arrecadação de dinheiro para comprar a alforria de escravos", relata. Entre essas comunidades destacam-se também a Sociedade de Redenção Paranaguense e a Sociedade Ultimatum, em Curitiba. Elas promoviam a fuga de escravos para outras localidades, como o Uruguai. Consta que em Paranaguá conseguiram 74 cartas de alforria.
"Os egressos da escravidão encontraram uma série de dificuldades para viabilizar seus projetos de vida em liberdade em razão da falta de políticas públicas", ressalta Joseli.
A perseguição implacável do navio inglês Cormorant a quatro embarcações brasileiras provocou um tenso combate no Litoral paranaense em 29 de junho de 1850. Na ocasião, foram aprisionados os barcos Dona Anna e Sereia e a galera Campeadora. Para não ter o barco apreendido, o comandante do Astro provocou o afundamento do próprio navio.
O historiador Romário Martins escreveu que o combate teve como pretexto evidências de que os barcos estariam transportando escravos em um período em que já havia leis que proibiam essa prática no país. A Lei 7 de novembro de 1831 declarava "livres todos os escravos vindos de fora do Império" e impunha "penas aos importadores dos mesmos escravos". Martins destacou, contudo, que isso não impediu que a importação de escravos continuasse. Registros escritos pelo historiador inglês Leslie Bethel revelam que o Sereia, por exemplo, havia transportado 800 escravos até Macaé (RJ) algumas semanas antes e o Dona Anna desembarcado outros 800 escravos em Dois Rios (RJ) em março de 1850.
O atual presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná, Ernani Straube, afirma, porém, que no interior das embarcações brasileiras não chegaram a ser encontrados escravos no momento da abordagem do Cormorant, o que desencadeou o conflito. "A população se uniu contra essa ação dos ingleses na costa brasileira", afirma.
O comandante do Cormorant, capitão Hubert Schumberg, entregou um ofício destinado ao comandante da Força de Paranaguá sobre os acontecimentos, mas as autoridades se negaram a receber o documento. Na noite daquele dia 29, um grupo de Paranaguá se revoltou com a ação inglesa e foi até a Fortaleza da Barra, na Ilha do Mel, para combater o Cormorant.
Na manhã do dia seguinte, os improvisados "guerreiros" desembarcaram na Ilha do Mel. Para eles, um navio de guerra estrangeiro havia confiscado e apreendido embarcações nacionais dentro do porto. Isso seria o suficiente para uma reação armada do Brasil.
Ao avistarem o navio inglês perto da Barra, tentaram encaminhar um ofício a ser entregue por um sargento da Guarda Nacional às tropas inglesas. "O barco que o levava foi recebido a balas", afirma Straube. Assim, começou uma troca de tiros entre ingleses e paranaenses. Por 30 minutos, a troca de tiros foi intensa. "Apenas um marinheiro morreu no conflito", conta Straube. A batalha só terminou quando o Cormorant saiu da mira dos parnanguaras.
Somente dois meses depois, em setembro de 1850 apoiado pelo governo inglês , o tráfico de escravos para o Brasil foi reprimido de vez. A Lei Eusébio de Queiroz reforçou que embarcações brasileiras ou estrangeiras encontradas em qualquer parte poderiam ser apreendidas.
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