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Fabricie descobriu a doença durante o 1º exame pré-natal | Walter Fernandes/ Gazeta do Povo
Fabricie descobriu a doença durante o 1º exame pré-natal| Foto: Walter Fernandes/ Gazeta do Povo

A esperança de cura está na família

Recentemente, Maringá apresentou casos médicos de destaque na mídia nacional. Em todos eles, a família teve importante participação no processo. Um dos casos envolveu os irmãos gêmeos Fábio e Fabiano Gomes da Silva, de 35 anos, que foram diagnosticados com insuficiência renal crônica, com necessidade urgente de transplante de rins. Foram encontradas duas doadoras compatíveis, justamente suas irmãs mais velhas, que também são gêmeas.

No mês passado, Fábio recebeu o órgão da irmã Silvana da Silva Minatel, de 42 anos. O procedimento foi considerado bem-sucedido e os dois passam bem. Fabiano ainda vai receber o rim da outra irmã, Luciane da Silva de São José. O procedimento deve ocorrer somente no ano que vem, segundo o Hospital Santa Casa.

Ovário

Outro caso que ganhou repercussão ocorreu em julho, quando Mariana Gerep de Morais recebeu o ovário da irmã gêmea, Elisa.O trabalho conduzido pelo médico e pesquisador Carlos Gilberto Almodin (conhecido por ter viabilizado a primeira gestação de mulher com menopausa do país) foi considerado o primeiro transplante de ovário do Brasil.

Mesmo jovem, Mariana teve falência ovariana precoce e entrou na menopausa, perdendo toda atividade hormonal e a fertilidade. Para viver normalmente, ela teria de fazer reposição hormonal e não poderia ter filhos. Com a nova técnica, Mariana recebeu parte de um dos ovários de Elisa e poderá recuperar a função hormonal e engravidar naturalmente.

Por ser considerado um procedimento experimental, porém, o progresso do transplante deverá ser acompanhado nos próximos meses pela equipe médica responsável pelo caso.

Em uma casa de Maringá, a bióloga Fabricie Marcele Wilbert, de 38 anos, prepara o quarto para a filha, que vai nascer nos próximos dias. Entre pequenas peças de roupas, bichinhos de pelúcia e móveis cor-de-rosa, a gestante acarinha o ventre que carrega Liz e a esperança de curar a doença que ameaça a futura mãe. As células-tronco do cordão umbilical da menina poderão ser utilizadas no tratamento de Fabricie, que sofre de leucemia mieloide crônica.

A bióloga descobriu que estava com a doença em março deste ano, quando fez o primeiro exame pré-natal. A incidência desse tipo de leucemia em adultos é de dois casos a cada 100 mil habitantes. "O exame de sangue indicava alteração celular. Tive um susto inicial, mas resolvi encarar o problema de frente", disse.

Aconselhada por médicos, Fabricie entrou em contato com a Cordcell, um centro de terapia celular de São Paulo especializado na coleta, no processamento, armazenamento e na utilização das células-tronco.

Segundo o médico e fundador da Cordcell, Adelson Alves, as células obtidas a partir do sangue de cordão umbilical podem ser utilizadas no tratamento de mais de 80 doenças, incluindo leucemias, anemias congênitas e falência de medula óssea. Além disso, a chance de as células da filha serem compatíveis com a mãe é de 25%.

"As células-tronco do cordão umbilical são mais imaturas que as da medula óssea, sendo potencialmente mais preservadas das agressões do meio ambiente, além de apresentar maior probabilidade de compatibilidade. Sem as células-tronco de sua filha, Fabricie teria de recorrer ao banco público, onde a chance de encontrar uma medula compatível é de uma em 1 milhão", explicou.

Presente de aniversário

A coleta das células-tronco de Liz será feita logo após o parto, marcado para o próximo dia 15 no Hospital Santa Casa de Maringá, justamente a data do aniversário de Fabricie.

Segundo Adelson Alves, o material passará por diversos testes e poderá ser utilizado em um possível transplante. "O transplante de células-tronco do cordão umbilical apresenta menos reações adversas do que o transplante com células da medula óssea. No entanto, vale ressaltar que essa é a última fase do tratamento. O procedimento só será indicado caso a mãe não tenha boa resposta ao tratamento quimioterápico", ressaltou Alves.

Valor

O armazenamento das células-tronco do sangue do cordão umbilical custa, em média, R$ 3 mil. Segundo o fundador da empresa Cordcell, o Brasil realiza de 50 a 70 mil retiradas desse tipo de célula-tronco por ano, número que segundo ele ainda é baixo. Para Adelson Alves, a popularização do procedimento esbarra na falta de conhecimento da população. "Por ser um procedimento relativamente novo, ainda existe um certo descrédito. Pensam que é coisa do futuro, mas já está acontecendo."

Caso semelhante ocorreu nos Estados Unidos

Histórias envolvendo mães que decidiram ter filhos para que ajudassem a curar irmãos doentes é algo que acontece com certa frequência. No entanto, casos como os de Fabricie são mais raros. Uma situação semelhante ocorreu em maio de 2001 nos Estados Unidos. Na ocasião, uma moradora de Houston, no Texas, apresentou diagnóstico de leucemia mieloide crônica, a mesma doença da bióloga brasileira.

A americana, de 43 anos, não encontrou doadores ou amostras compatíveis nos registros de doadores de medula óssea dos Estados Unidos e europeus ou mesmo em banco públicos de sangue de cordão umbilical. Sua esperança recaiu sobre a amostra de células-tronco de seu filho de 3 anos, que estava armazenada em um banco de sangue de cordão umbilical privado. A amostra era compatível e o transplante pôde ser realizado.

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