A desinformação ainda é o principal obstáculo no caminho de bebês recém-nascidos internados em estado grave que não podem ser amamentados. O número de doadoras de leite humano é insuficiente para contemplar toda a demanda. "As mães precisam ser mais estimuladas para doarem leite, uma ação voluntária, pela qual elas recebem apenas a satisfação de ajudar os bebês que precisam deste alimento", comenta a técnica do Setor de Aleitamento Materno da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), Elizabeth da Cruz.
O Dia Nacional de Doação de Leite Humano, comemorado hoje, tem justamente o objetivo de incentivar as mães a contribuir com os bancos de leite. Segundo Elizabeth, a maioria dos oito bancos existentes no estado em Curitiba, Cascavel, Foz do Iguaçu, Londrina, Maringá, Ponta Grossa e Toledo atende apenas as demandas dos hospitais aos quais estão vinculados, não havendo material suficiente para fornecer a outras instituições.
"A dinâmica do banco de leite é fornecer para as unidades de terapia intensiva neonatais, mas primeiro fornecem para os hospitais nos quais estão inseridos e muitas vezes não conseguem nem dar conta dessa demanda", afirma Elizabeth. Esse é o caso do Hospital de Clínicas, em Curitiba. A coordenadora do banco de leite da instituição, Celestina Bonzanini Grazziotin, conta que até alguns anos atrás era possível fornecer leite para outros hospitais, mas atualmente o banco só consegue atender o próprio HC, mesmo recebendo doações de outros hospitais, como o Pequeno Príncipe. "Além das crianças daqui de Curitiba, atendemos algumas de outras cidades por termos a maior UTI neonatal do estado", explica. O hospital coleta cerca de 200 litros de leite por mês, atendendo, em média, 80 bebês no mesmo período. São aproximadamente 160 doadoras.
No Hospital Evangélico, também em Curitiba, a situação é ainda pior. De acordo com a coordenadora do banco de leite da instituição, Fernanda Villela Mesa, o volume de leite recebido é suficiente para atender apenas 50% dos cerca de 40 pequenos pacientes internados por mês. A solução passa a ser o uso de leites industrializados. No hospital, são coletados cercaa de 98 litros de leite por mês.
Para Fernanda, as mães não doam porque acreditam que pode faltar leite para seu próprio filho. "Muitas delas não sabem que esse risco não existe, porque a mama produz mais leite quando é mais estimulada."
O leite doado é necessário para o desenvolvimento dos bebês que estão internados em estado grave e não podem receber o alimento de suas próprias mães por algum motivo. "Essas crianças precisam ainda mais do leite humano do que as outras, porque já nasceram com uma imunidade mais baixa. O leite humano é rico em anticorpos, que ajudam a recuperar o organismo da criança e a protegem de infecções", explica Fernanda. Além disso, o leite materno tem nutrientes mais adequados para o desenvolvimento dos bebês, como explica Celestina. "Tem proteínas, açúcares e gorduras mais leves, que são absorvidas mais facilmente pelos bebês. Muitas mães acham ótimo quando a criança dorme bastante depois de beber leite de vaca, mas não sabem que ela só está sendo prejudicada porque qualquer outro leite força mais o metabolismo do bebê e deixa alguns de seus órgãos, como rins e intestino, sobrecarregados."