Em vez da missa, uma bênção. Essa foi a estratégia utilizada pelo padre Rodinei Thomazella, 42 anos, para perpetuar uma tradição que dura quase 60 anos, a Missa da Paz, celebrada no Dia do Trabalho, no Morro Anhagava, em Quatro Barras, região metropolitana de Curitiba. O sacerdote assumiu há dois meses a paróquia São Sebastião, responsável pela celebração, e junto com ela o desafio de administrar a proibição do Instituto Ambiental do Paraná (IAP), que vetou a missa no cume do morro.
Este seria o segundo ano consecutivo que a missa seria realizada aos pés do Anhagava, mas Thomazella decidiu ouvir o "povo". "Como padre tenho de escutar o povo e as pessoas não queriam que a missa fosse realizada aqui embaixo", disse. Aproveitando que a peregrinação ao morro estava liberada a partir das 9 horas, o padre e os fiéis começaram a subir. Policiais florestais que estavam no local para assegurar que a missa não fosse realizada no Anhagava acompanharam o grupo, que pôde rezar um terço e receber a bênção do pároco no topo do Anhagava. Por voltas das 11 horas, eles começaram a descer.
"Valeu a pena", garantiu o funcionário público Marcos Rogério Lourenço, 31 anos. Ele subiu com a filha de seis anos e mais um casal de amigos. A esposa, grávida de oito meses, preferiu esperar no carro. "Viemos porque achamos que a missa seria aqui embaixo, mas de qualquer forma foi divertido. Ano que vem estamos aqui de novo", prometeu.
Impacto
O argumento para a proibição é que o morro faz parte de uma área de preservação permanente, e a presença de mais de 3 mil pessoas poderia causar um impacto ambiental significativo. A expectativa de público teve como base o número de fiéis que compareceram nas missas dos anos anteriores."Não acredito que a nossa subida tenha causado um impacto grande. O número de pessoas que realmente veio para rezar é muito pequeno", alegou o padre. Sem uma contagem oficial, a estimativa dos fiscais do IAP era que entre 300 e 600 fiéis tivessem seguido a trilha em direção ao cume até o meio-dia.
O impacto ambiental será medido por professores e estudantes dos cursos de Engenharia Ambiental e Geografia da Universidade Tuiuti do Paraná. A equipe formada por mais de 50 pessoas enterrou ao longo da trilha que dá acesso ao morro estacas de madeiras para medir a remoção de sedimentos. De acordo com um dos professores coordenadores do trabalho, Sandro José Briski, os resultados serão colhidos no próximo sábado. "Além da sedimentação, vamos avaliar outros detalhes, como o alargamento das trilhas, que também pode ser uma forma de impacto", explica.
Briski conta que o mesmo estudo foi realizado há quatro anos. Com uma catraca, foi possível registrar a passagem de 3,5 mil pessoas. As estacas de 10 centímetros registraram outros três, o que segundo Brinski representa a remoção de toneladas de solo. Além disso, trechos das trilhas foram alargados em até dois metros. "São impactos que não podem ser percebidos pelas pessoas, mas de graves conseqüências para o meio ambiente", alerta. De acordo com ele, uma delas é o assoreamento de rios da região, que ajudam a abastecer a represa do Iraí, por exemplo. "Como pesquisador respeito a tradição histórica da missa, mas temos de analisar o custo-benefício disso. O impacto é muito grande e não se justifica", defende.
Em Colombo, cidade vizinha a Quatro Barras, a Paróquia Santa Terezinha Lisieux e Igrejas Evangélicas promoveram a oitava edição da Caminhada da Paz. Com o tema "A Paz Depende de Você", a expectativa dos organizadores era reunir fiéis de pelo menos dez denominações religiosas para cobrar das autoridades competentes providências no combate à violência.
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