• Carregando...

Curitiba – Era fevereiro de 2003 quando nossa equipe rodava pela Estrada da Ribeira, ainda sem asfalto, em busca de famílias que pudessem ser beneficiadas pelo Fome Zero, o programa que o presidente recém empossado, Luiz Inácio Lula da Silva, lançava como a promessa de vida melhor para os brasileiros que viviam na miséria. O Vale do Ribeira, um conjunto de 39 municípios do Paraná e de São Paulo, aparecia entre as 13 áreas mais pobres do Brasil, segundo classificação do governo federal.

Alguns quilômetros antes de chegar a Adrianópolis, a 133 quilômetros de Curitiba, uma menina correu para a beira da estrada e ofereceu os abacaxis que ela estava vendendo na frente da casa onde morava. Era Letícia, de 5 anos, que dividia a casa com os pais e três dos nove irmãos.

Claudete, a mãe, na época com 39 anos, tinha seis netos. A casa da família, muita pequena, era dividida em três cômodos, sem água, luz nem banheiro. O marido de Claudete, que trabalhava no corte de madeira, ganhava o equivalente a um salário mínimo. A família também recebia R$ 45 do programa Bolsa-Escola.

Agora, no último ano do primeiro mandato de Lula, nossa equipe voltou na casa de Claudete. Na nova casa.

Ela foi construída na frente da antiga, com sala, cozinha, quartos e agora está sendo feito o banheiro.

A casa antiga está sendo ocupada por um dos filhos, com a esposa e um bebê. E outro filho de Claudete construiu uma casinha menor ao lado e também vive perto dos pais, com a mulher e os dois filhos.

Efeito do Bolsa-Família? Não. A dona de casa conta que passou a receber R$ 95 por mês do governo federal e o marido agora trabalha com carteira assinada, mas isto não seria suficiente para provocar tantas mudanças. Depois que a sua história foi contada pela Gazeta do Povo, um empresário de Curitiba passou a ajudar a família, criou uma ONG e hoje dá apoio a outras pessoas na região. "Nossa vida mudou bastante, melhorou muito, mas não por causa do governo", reclama Claudete.

A família também cresceu. Uma filha voltou para casa com filho, que tem 3 anos. E os netos, que eram 6, agora são 12. Fome ninguém passa mais, conta ela, mas a comida comprada no início do mês dá para uns 20 dias. Depois, tem de improvisar. Na quarta-feira, dia 29, por exemplo, o cardápio para o almoço era arroz e salada da horta de Claudete. E a Letícia? Com 9 anos, está na 2.ª série e já leva uma vida com mais dignidade.

Já a vida de Ercília Ribeiro da Silva Oliveira, 59 anos, não mudou desde 2003. Ela vive na mesma casa, às margens da rodovia, com mais quatro pessoas. Com duas crianças na escola, a família recebe R$ 50 do Bolsa-Família. "Compro material (escolar) e roupa para as crianças", explica ela.

Em Doutor Ulysses, o município com o menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do estado, a 140 quilômetros de Curitiba, reencontramos Ediléia Teixeira Guimarães, 26 anos. Ela conta que a vida "melhorou um pouco" nesses últimos quatro anos.

O marido de Ediléia – que em 2003 trabalhava na lavoura e ganhava R$ 10 por dia (se conseguisse trabalho) – agora tem trabalho fixo e ganha um salário mínimo por mês.

A família de Ediléia construiu uma casa um pouco maior e comprou alguns móveis novos.

Com o fillho mais velho estudando, a dona de casa recebe R$ 15 do Bolsa-Família. No ano que vem, a filha também vai estudar e o benefício será maior.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]