Perfil
Nascimento: 17 de dezembro de 1905, em Paranaguá.
Morte: 12 de novembro de 1973, de enfisema pulmonar.
Profissão: engenheiro civil.
Cargos que ocupou: além de ter trabalhado como engenheiro pela Caixa Econômica Federal, onde se aposentou, foi duas vezes deputado federal (em uma delas foi primeiro secretário da Câmara dos Deputados). Foi governador do Paraná de 1951 a 1954 e ministro da Agricultura no governo de Café Filho. Sua paixão foi ser professor de Filosofia da Universidade do Paraná.
O que deixou para o Paraná: Centro Cívico; federalização da Universidade do Paraná (atual UFPR); construção da Biblioteca Pública do Paraná e do Arquivo Público; início das obras do Teatro Guaíra. Criação da Copel. Criação do primeiro Plano Estadual Rodoviário do Paraná.
Grande feito: como deputado federal, na Constituinte de 1946, liderou o movimento pela extinção do Território do Iguaçu e devolução de parte de suas terras ao Paraná.
Obras literárias: Uma interpretação das Américas, Perfis, Itinerário, Imprensa, Mensagem da América, Ensaios, Perfis Parlamentares, Discursos e Conferências, Tingüis: Curitiba, A significação do Paraná, Variações sobre Kipling, O território de Iguaçu na Constituinte, Presença do Brasil e Radiografia de Novembro.
Como parte das comemorações dos 90 anos, a Gazeta do Povo elaborou uma edição histórica para os leitores. As próximas páginas do jornal são dedicadas à vida de três personalidades mais importantes na formação do estado. Elas foram eleitas a partir de uma enquete que teve a participação de 100 pessoas de grande representatividade no Paraná.
Políticos, educadores, empresários, profissionais liberais e artistas elegeram os paranaenses de maior expressão de todos os tempos. O primeiro colocado foi Bento Munhoz da Rocha Netto, que recebeu 15 votos, seguido de Ney Braga com 11 e Victor Ferreira do Amaral com nove indicações. Jaime Lerner foi citado seis vezes; e, com cinco votos cada, empataram na quinta posição duas mulheres: Zilda Arns e Helena Kolody.
Para homenagear os três primeiros colocados, a Gazeta publica uma pequena biografia de cada um. São pessoas que exerceram funções públicas e se destacaram na atividade política. Um foi intelectual; o outro, militar; e o terceiro, médico.
Todos os jurados tiveram a oportunidade de fazer uma breve justificativa do voto. A votação não teve prévia indicação de nomes. Os eleitores responderam à pergunta: quem foi a figura mais importante do Paraná em todos os tempos? A única exigência era de que o voto deveria ser dado a alguém que teve ou tem importância para o estado, independentemente de ter nascido ou não no Paraná.
Até mesmo dom Pedro II foi citado na pesquisa: apesar de ser carioca, ele sancionou a lei imperial que criou a província.
Sabedoria para governar
Dentre todas as pessoas que tiveram um papel relevante na formação do Paraná, o governador Bento Munhoz da Rocha Netto foi escolhido pelo maior número de votos como o mais importante. Por quê? As respostas dos eleitores variam, mas costumam citar algumas das características que o tornaram famoso: intelectual, erudito, com grande vocação para a retórica, Bento se destacava facilmente entre seus pares.
Professor por vocação, entrou para a política e se tornou referência de ética. Desde que assumiu o governo do estado, em 1951, ele soube remar contra a maré e se antecipar à opinião pública. Acabou com a velha tese sociológica dos três Paranás: unificou o estado a partir do Centro Cívico, uma obra grandiosa para uma época em que o território paranaense deveria ter pouco mais de 100 quilômetros de estradas asfaltadas.
Estudiosos diziam que o estado era dividido em três partes: o tradicional, formado pela região de Curitiba, Paranaguá, Morretes, Antonina, Ponta Grossa, Castro e Lapa; o Norte, construído em razão da explosão do café; e o Oeste e Sudoeste, região habitada por colonizadores catarinenses e gaúchos. O distanciamento físico e psicológico era grande nas três regiões, mas quando Curitiba ganhou o Centro Cívico, com o Palácio Iguaçu e o Tribunal de Justiça, Bento conseguiu consolidar a capital como sendo a cidade de todos os paranaenses. Estava encerrada uma tese que até então desestruturava a formação do próprio estado.
Como parlamentar, Bento já tinha tido importância capital para a unidade do estado: propôs a emenda que extinguiu o então criado Território do Iguaçu. A ditadura do Estado Novo, de Getúlio Vargas, havia criado o novo território a partir da junção de áreas do Oeste do Paraná e de Santa Catarina. A alegação era de motivos estratégicos e políticos, em virtude da proximidade com a fronteira. Com a emenda, o território foi extinto e o Oeste voltou a ser paranaense.
A comemoração do Centenário de Emancipação Política do Paraná, em 1953, foi mais uma oportunidade para que Bento cuidasse da unidade política e territorial do estado. Promoveu, durante vários meses, seminários e debates sobre o Paraná. Construiu também um marco simbólico na Praça 19 de Dezembro, em Curitiba: a estátua de um homem em tamanho gigante colocada no centro da praça, de autoria de Erbo Stenzel, representa o Paraná caminhando rumo ao Oeste.
Duas outras grandes obras entraram para o currículo de Bento Munhoz: a Biblioteca Pública do Paraná e do Arquivo Público. A criação da Copel também ocorreu durante o seu governo.
Bento deu início às obras do Teatro Guaíra, que não teve tempo nem recursos para acabar, em decorrência da crise do café. A cultura havia sido abalada pelas duas violentas geadas que aconteceram em 1953 e 1954. "A arrecadação do estado caiu e o teatro ficou inacabado. Só foi concluído 20 anos depois", explica o biógrafo de Bento Munhoz da Rocha Netto, o jornalista Vanderlei Rebelo.
O próprio mandato de Bento à frente do governo ficou inconcluso. Em agosto de 1954, o presidente Getúlio Vargas se suicida e o vice-presidente, Café Filho, que assume o lugar de Vargas, começa a encorajar Bento a se candidatar a presidente. Ele deixa o governo do estado para assumir o Ministério da Agricultura e investir na carreira nacional.
Segundo Rebelo, a candidatura de Bento fracassou por falta de viabilidade política. Primeiro porque o Paraná ainda não havia conquistado projeção política e econômica no Brasil; segundo, porque o próprio partido de Bento, o PR (Partido Republicano), era pequeno demais para conseguir levar o candidato adiante. "Esse foi o grande erro político dele. Não se tornou candidato e, com Café Filho na Presidência, Bento assumiu o Ministério da Agricultura. Ele se afunda nesse desafio, esquecendo completamente a sucessão estadual", afirma.
Em 1958, Bento Munhoz tenta uma nova eleição a deputado federal pelo Paraná. Com o cunhado Ney Braga, que em 1954 ele havia apoiado para ser prefeito de Curitiba, Bento tenta fazer a dobradinha: ele sairia como deputado federal e Ney como estadual. O destino não quis assim. Ney já pensava na candidatura federal para dar um salto na política, o que causou a ruptura entre os dois.
Com uma carreira sólida no Paraná, que havia conquistado durante a prefeitura, Ney recebeu 57 mil votos e foi o segundo candidato mais votado do Paraná. Bento Munhoz também saiu deputado, mas foi eleito com apenas 17 mil votos, em uma eleição decepcionante. "Foi a gota d'água. Tenho a impressão, pelos próprios textos escritos por Bento, que ele nunca conseguiu absorver esse resultado", comenta Rebelo.
Mas a política não era tudo na vida de Bento longe disso. A atividade intelectual, de professor e de escritor, era talvez mais importante do que a de político para ele. Entre seus ensaios está um que causou furor na época da publicação: Uma interpretação das Américas, que defendia a tese de que tínhamos, como brasileiros, uma ligação íntima com a Europa.
A atuação de Bento como estudioso de sociologia foi importante até mesmo para a colonização do estado. Foi no governo dele que se iniciou uma nova fase de migração para o Paraná, como no caso dos holandeses em Castro, dos alemães em Entre Rios, dos russos em Witmarsum e dos menonitas no Boqueirão.
Ao fim da vida, Bento havia influenciado o Paraná como seu governante e como pensador. Havia sido parlamentar, governador e ministro. E havia, acima de tudo, dado um exemplo de coerência entre o que pensava e o que fazia.
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Interatividade
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